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A “visita de médico” do Papa à Europa política

Pope Francis – European Parliament – pt

© PATRICK HERTZOG / POOL / AFP

Pope Francis arrives to deliver a speech at the European Parliament, on November 25, 2014, during a short visit at the European Parliament and the Council of Europe in Strasbourg, eastern France. Pope Francis began a lightning visit to European institutions in Strasbourg where he was expected to call for a "tired" Europe hit by economic crises and surging nationalism to reclaim a leadership role. AFP PHOTO / POOL / PATRICK HERTZOG

Ricardo Perna - Família Cristã - publicado em 27/11/14

Francisco diagnosticou as doenças da «envelhecida» Europa e, mais importante que isso, prescreveu tratamentos para os males que a afetam nos dias de hoje

O Papa Francisco esteve esta terça-feira em Estrasburgo para uma visita de médico ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa. Não foi uma visita de médico apenas porque foi rápida (uma manhã chegou para visitar os dois sítios), foi uma visita de médico pois Francisco diagnosticou as doenças da «envelhecida» Europa e, mais importante que isso, prescreveu tratamentos para os males que a afetam nos dias de hoje.

Foram dois discursos longos, proferidos 26 anos depois de João Paulo II ter estado lá a falar sobre blocos e tensões relacionadas com o Muro de Berlim e o comunismo. Dois discursos onde Francisco falou de «paz», «rejuvenescimento», «intergeracionalidade», «multiculturalismo» e «transversalidade», e onde recordou o papel do Cristianismo na construção da Europa e reforçou a disponibilidade da Igreja para a preparação de um futuro vigoroso, que devolva à Europa «aquela juventude de espírito que a tornou fecunda e grande».

Muito aplaudido em ambos os locais, o Papa pôs o dedo na ferida e falou dos tempos difíceis, onde um sistema capitalista engole o ser humano e não dignifica o valor da pessoa, antes valoriza a ganância, a ambição e o lucro. Denunciou os conflitos internos que massacram a religião e a liberdade religiosa que supostamente existe nos países europeus, criticando o «direito individualista» que muitos pedem, desviados que estão da noção de bem comum, que valoriza a singularidade do indivíduo, mas não lhe permite colocar em causa o funcionamento da sociedade.

O Papa fez um retrato correto da Europa, sem papas na língua. Falou de um continente que já foi uma referência e que hoje se perde, envelhecido e sem vigor, enquanto novas potências económicas emergem de outros pontos do globo, ditando regras duras, que atentam contra a liberdade do indivíduo, liberdade essa que foi conquistada nos tempos em que a Europa podia pensar o futuro do mundo. Pediu que se implementassem medidas que dignificassem o trabalho e que dessem estabilidade a quem quer criar uma família, sem perderem competitividade. Exigiu que se acabasse de fazer do Mar Mediterrâneo um «cemitério» e que se acolhessem os imigrantes com uma proposta clara do que é a identidade europeia e legislação «capaz de tutelar os direitos dos cidadãos europeus e, ao mesmo tempo, garantir o acolhimento dos imigrantes». Como tem demonstrado em muitas outras áreas, Francisco quer um compromisso também na área da imigração: que todos sejam acolhidos, mas que haja regras claras às quais terão de obedecer, se quiserem ficar.

No final de tudo, ficou a certeza: Francisco desceu da sua cadeira de líder espiritual, vestiu o fato de chefe de Estado e foi à casa da democracia ensinar aos deputados europeus o que precisam de fazer para dar a volta à situação da Europa e recolocar o velho continente no mapa das novas tendências. Se a vontade de fazer o que Francisco sugeriu for tão grande quantos os aplausos que lhe dirigiram, ainda há esperança para a Europa…

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