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O desafio da fraternidade

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AP Photo/Andrew Medichini

Rafael Luciani - publicado em 01/12/14

Uma reflexão sobre o jeito de ser de Jesus diante das injustiças sociais da sua época

São cada vez mais frequentes as vítimas do nosso mundo, essas que morrem devido às grandes doenças ou de fome, ou em conflitos armados por razões ideológicas ou étnicas. Entre elas, cabe mencionar tantos cristãos que estão sendo perseguidos e assassinados por grupos religiosos extremistas no Oriente Médio. Para essa grande maioria de seres humanos, parece ainda não existir a real esperança em um futuro melhor.

Eles padecem o peso da violência e o cansaço que qualquer luta sem mudança produz. Muitos vivem resignados diante da indiferença de pessoas e instituições internacionais que poderiam contribuir para que as coisas mudassem e encontrar uma melhoria real.

Iniciado já no século 21, o reconhecimento e a aceitação do outro continuam sendo um desafio para a humanidade. Será que simplesmente não estamos dispostos a tornar-nos próximos do outro e reconhecê-lo, para empreender juntos caminhos e projetos de humanização? Até que ponto estamos contribuindo – pessoal ou institucionalmente – para superar a exclusão ideológica, o fanatismo político, a violência social e o extremismo religioso? Não entendemos que estas atitudes só geram mais vítimas, como resultado da violência e da exclusão?

Temos o grande desafio de voltar à prática de Jesus de Nazaré e criar novos espaços, discursos e atitudes que favoreçam o sentido da “fraternidade”, agora esquecida por muitos. Há algumas características da práxis de Jesus que podem nos ajudar a discernir a maneira como estamos respondendo aos dramas que vivemos neste mundo globalizado.

Primeiro: Jesus reconhece conhece a difícil situação sociopolítica e religiosa da sua época, mas aposta em uma forma de vida que busca recriar as maneiras como nos relacionamos uns com os outros.

Segundo: vemos nos Evangelhos que Jesus nunca se conformou com a normalidade de quem vive das sobras do que recebe. Isso lhe deu liberdade para exercer seu legítimo direito de lutar por uma sociedade de justiça e de bem-estar para todos. E preciso revisar se os compromissos que às vezes assumimos são um obstáculo neste árduo caminho de reconhecer o outro e aceitá-lo como irmão.

Terceiro: Jesus não cedeu diante da lógica oficial do medo, que é a do poderoso. Eles o mataram, mas nunca puderam tirar sua liberdade e sua esperança. Ele sempre foi dono da sua própria dignidade. Mas isso não foi fácil. Ele teve de colocar as crenças e as ideologias de lado para que todos pudessem se sentar juntos à mesma mesa.

Quarto: sua forma de ser não empregou palavras nem atos violentos, como tampouco apoiou atitudes nem regimes autoritários em seu contexto. Mais ainda: renunciou àqueles que viviam em busca da carreira religiosa e praticavam a exclusão.

Estas atitudes, muitas vezes alimentadas por hierarcas e representantes da Igreja (como o Papa Francisco sempre nos recorda em suas homilias diárias) precisam ser deixadas de lado para poder empreender uma mudança que nasça de uma volta sincera a esta prática humanizadora que caracterizou Jesus.

Qualquer mudança precisa fixar seu olhar no estilo de vida do Nazareno. Ele sempre oferecia vida em abundância a todos, sem exclusão, porque sabia ver além da condição moral, socioeconômica ou religiosa dos sujeitos.

Podemos nos perguntar, então, o que os pobres, doentes e excluídos viam em Jesus, que lhes chamava tanto a atenção? Viam sua honestidade com a realidade. Jesus sofria pela falta de humanidade com a qual tinham de viver diariamente.

Mas as pessoas também admiravam a não violência com a qual Ele agia (cf. Mt 5, 38-48). Algo novo, porque muitos políticos e religiosos do século I não faziam isso. Viam, então, uma vida que exalava compaixão e não pedia sacrifícios, colocando-se sempre ao lado do outro como um irmão. Como o Irmão mais velho.

Esta forma de ser não é exclusiva dos cristãos. Pertence a todo aquele que quer viver de maneira “humana” e apostar em uma sociedade do bem-estar e da justiça, ao invés de em uma sociedade de carências e conflitos.

É o jeito de ser de todos os que querem lutar para não ter de padecer o peso de uma sociedade fraturada, na qual não se vive, mas se sobrevive diariamente, buscando o mínimo para poder subsistir.

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