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Papa pede que o mundo muçulmano condene claramente o terrorismo

<p>O papa Francisco e o patriarca ortodoxo Bartolomeu I assina comunicado conjunto durante a visita do pontífice a Istambul</p>

Agências de Notícias - publicado em 01/12/14

Francisco condenou as pessoas que "dizem que todos os muçulmanos são terroristas". "Também não se pode dizer que todos os cristãos são fundamentalistas"

O papa Francisco pediu neste domingo que todos os dirigentes religiosos, políticos e intelectuais muçulmanos condenem claramente o terrorismo islamita.

Em coletiva de imprensa a bordo do avião que o levava da Turquia de volta para a Itália, o Papa, indagado sobre o terrorismo do grupo Estado Islâmico (EI) e de outros grupos jihadistas no mundo, afirmou que seria bom que todos os dirigentes muçulmanos do mundo, políticos, religiosos e acadêmicos se pronunciassem claramente condenando esta violência que prejudica o Islã.

"Ajudaria a maioria dos muçulmanos se isso saísse da boca dos dirigentes. Todos nós precisamos de uma condenação global", enfatizou.

"É certo que ante estes atos, cometidos não apenas na região (Iraque, Síria), como também na África há uma certa reação de repulsa: como se o Islã fosse assim! Isso me revolta".

"Muitos muçulmanos se sentem ofendidos e dizem: ‘nós não somos essa gente. O Corão é um livro de paz".

Francisco condenou as pessoas que "dizem que todos os muçulmanos são terroristas". "Também não se pode dizer que todos os cristãos são fundamentalistas".

O Papa também denunciou a "cristianofobia": "os islamitas perseguem os cristãos no Oriente Médio, e eles devem partir, perdendo tudo ou sendo obrigados a pagar impostos".

E, em certos países, alguns funcionários "perseguem os cristãos com luvas brancas, sem recorrer à violência, como se quisessem que não sobrasse mais nenhum cristão nesses países", denunciou o Papa, sem dizer a que países se referia.

No primeiro dia de sua visita a Turquia, na sexta-feira, o Papa já havia tocado na questão do terrorismo islamita. Mas, diante da mensagem do papa, favorável à aliança de religiões contra o terrorismo e o fundamentalismo, o presidente turco, Recep Tayip Erdongan, denunciou a islamofobia.

União com ortodoxos

O papa Francisco concluiu neste domingo sua viagem à Turquia com uma energética defesa aos cristãos do Oriente, ameaçados pelos jihadistas no Iraque e na Síria, além de advogar por uma aproximação entre católicos e ortodoxos, separados há mais de um milênio.

Em uma declaração conjunta, o soberano pontífice e o dignatário mais prestigiado da Igreja Ortodoxa, o patriarca Constantinopla Bartolomeu I, asseguraram que não podem resignar-se "a um Oriente Médio sem cristãos".

"Muitos de nossos irmãos e irmãs estão sendo perseguidos e se viram forçados, com violência, a deixar suas casas", lamentam no texto divulgado neste domingo.

"E, infelizmente, tudo isto acontece pela indiferença de muitos", completa a nota.

A ofensiva iniciada em julho pelos jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria deixou centenas de milhares de deslocados, incluindo dezenas de milhares de cristãos vítimas de execuções.

"A terrível situação dos cristãos e de todos os que estão sofrendo no Oriente Médio requer não apenas a nossa oração constante, mas também uma resposta adequada por parte da comunidade internacional", insistiram Francisco e Bartolomeu I.

Antes de retornar a Roma, o papa argentino se reuniu com uma centena de jovens refugiados de todas as crenças procedentes da Síria, Iraque e Chifre da África.

O pontífice elogiou os esforços da Turquia, que alberga mais de dois milhões de deslocados, mas lamentou pelas condições de vida degradantes e intoleráveis.

"Dirijo-me aos chefes políticos para que saibam que a maioria de suas populações deseja a paz, embora às vezes não tenha forças nem voz para pedi-la", acrescentou.

A viagem do papa também tinha como objetivo estreitar as relações entre a Igreja Católica Romana e as igrejas Ortodoxas.

"A única coisa que a Igreja Católica deseja e que eu busco como bispo de Roma é a comunhão com as igrejas Ortodoxas", afirmou Francisco em uma cerimônia de aproximadamente três horas celebrada em São Bartolomeu no dia de Santo André, apóstolo de Jesus segundo a tradição, e patrono da Igreja Oriental.

Mãos dadas

Católicos e ortodoxos, divididos em numerosas igrejas, estão separados desde o grande cisma de 1054. Em 1964 Paulo VI e o patriarca Atenágoras se comprometeram com a reconciliação, mas não houve resultados.

"A Igreja Católica não busca impor uma exigência qualquer, e sim a da profissão da fé comum", disse Francisco.

Para ilustrar suas palavras, Francisco e Bartolomeu, que se consideram amigos, se abraçaram em Fanar, a sede do patriarcado, diante dos aplausos de alguns fiéis.

A perspectiva de uma reunificação, no entanto, parece complicada, dada a rivalidade existente entre as distintas Igrejas ortodoxas, em particular as da Rússia e de Constantinopla.

Na declaração conjunta, o papa e Bartolomeu I destacaram "um ecumenismo do sofrimento" como fator de aproximação.

O pontífice aproveitou o discurso para condenar com veemência o atentado cometido na sexta-feira contra a mesquita de Kano na Nigéria, atribuído ao grupo islamita Boko Haram, que chamou de "pecado extremamente grave contra Deus".

Com 77 anos, o papa, que parecia cansado durante a viagem, foi aclamado pelas comunidades católicas e ortodoxas, embora sua presença tenha sido muito mais modesta do que as que costumam receber nos países cristãos.

Aproximadamente 80 mil cristãos vivem atualmente na Turquia, diluídos em meio a cerca de 75 milhões de muçulmanos. Embora sejam tolerados, não possuem um status oficial.

Assim como fez Bento XVI há oito anos, o papa visitou no sábado a célebre Mesquita Azul, onde repetiu a meditação silenciosa de seu predecessor em um gesto de fraternidade com o Islã, antes de visitar a basílica de Santa Sofia, que é um museu atualmente.

O Papa confidenciou à imprensa que orou durante sua visita à mesquita, na companhia do Grande Ímã, que explicou elementos do Corão.

Quando o mencionou uma referência feita a Maria, a mãe de Jesus, Francisco disse ter sentido necessidade de orar.

"Rezei pela paz, pela Turquia, por todos, por mim. Foi um momento de oração sincera", afirmou.

Há oito anos, durante a visita de Bento XVI, surgiu uma polêmica se o Papa então teria rezado.

No sábado, o padre Federico Lombardi, porta-voz do Papa, usou o termo "adoração silenciosa" invés de oração.

(AFP)

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