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O grande furo da série “The Big Bang Theory”

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Matthew Becklo - publicado em 11/12/14

De onde eles acham que veio a teoria do Big Bang?

A série norte-americana "The Big Bang Theory", produzida pelo canal CBS, virou um enorme sucesso mundial, arrebatou prêmios badalados como o Emmy e o Globo de Ouro, angaria quase 20 milhões de telespectadores semanais só no disputadíssimo mercado da audiência dos Estados Unidos e tem uma fórmula de sucesso que continua firme e forte.

O programa é também surpreendentemente incisivo. Seus protagonistas são quatro acadêmicos em tempo integral que gostam de Star Wars, quadrinhos e outras coisas "nerds" (às vezes forçadas) e que fazem constantes referências à ciência e à história em suas tiradas.

A religião também faz suas aparições, mas não exatamente da mesma maneira que a ciência. Muito do tempo de cada episódio gira em torno de Sheldon, interpretado por Jim Parsons, que cresceu em Galveston, no Texas, criado por uma "mãe cristã renascida e profundamente religiosa" e por um pai alcoólatra que o obrigou a assistir a partidas de futebol americano desde que ele tinha quatro anos de idade. Criança prodígio, Sheldon se formou com nota máxima aos quatorze anos, recebeu o primeiro doutorado aos dezesseis e desembarcou no Instituto de Tecnologia da Califórnia com uma promissora carreira em física teórica. Não surpreendentemente, Sheldon cresceu sem "se encaixar" muito no mundo. Se a religião o ajudou a ser o homem que ele se tornou, foi só por repulsão, graças aos entediantes eventos sociais “centrados em Deus” em que ele foi obrigado a participar.

O site “The Big Bang Theory Wiki” oferece um resumo interessante desse conflito: "Em contraste com sua mãe profundamente religiosa e com sua educação devotamente cristã, Sheldon não tem interesse pela religião: ele tende a ignorar ou a desprezar celebrações religiosas como o Natal. Além disso, suas crenças científicas entram em frequente conflito com as crenças espirituais de sua mãe, Mary".

Será que esta é uma questão puramente intelectual? É uma pergunta que não pode ser deixada de lado à medida que se vai conhecendo mais sobre Sheldon. Entre as lembranças das brigas dos pais, que se intensificam quando seus amigos gritam uns com os outros, e de uma infância que ele qualifica como “inferno” por ter sofrido infindáveis atos de “bullying”, Sheldon tem um passado surpreendentemente cinzento e trágico. Será que as emoções ligadas a uma infância dessas não desempenham algum papel relevante nessa rejeição da fé?

Intelectualmente, é claro, ele pisa em terra firme, já que sua mãe acredita numa versão literal da Bíblia que desrespeita o básico da ciência. "A evolução não é uma opinião", ensina ele à mãe; "é um fato". "Esta é a sua opinião", retruca ela. Ao mesmo tempo, ela parece não aceitar ou sequer apreciar as contribuições do filho ao conhecimento humano.

A história também pode extrapolar para um conflito geral entre a ciência e as religiões de qualquer espécie. Quando a fé vem à tona em algum episódio, é quase sempre de forma negativa ou como objeto de desprezo. As crenças hinduístas do personagem Raj são mencionadas algumas vezes, mas sempre como base para uma tirada cômica ou sarcástica e não como algo que ele ou qualquer outra pessoa pareça levar muito a sério. Mesmo a mãe de Sheldon é descrita como alguém que tem uma visão negativa da própria fé (Sheldon declara, em dado momento: "Eu vou condená-la internamente, mas mantendo por fora uma aparência de aceitação". Ela responde: "Isso é muito cristão de sua parte").

E há também Toby, um amigo que Sheldon convida para interpretar seu inexistente primo viciado em drogas. Toby, incorporando tal personagem, imagina que a razão por trás do vício é um abuso que sofreu de um capelão da marinha: “Filipinas, 1992, estação naval: um menino à beira da vida adulta. Seus únicos companheiros são cães sem raça definida e mosquitos da malária. Desesperado e sozinho, ele confia num homem que promete apresentá-lo a um Deus misericordioso e amoroso. Mas, em vez disso, o homem lhe empurra goela abaixo uma língua conservada em gin. Que escolha ele teria além de beber e cheirar para fugir do sofrimento?”.

"The Big Bang Theory" não aborda aquela fé que move montanhas. A fé, nesta série, não passa de um subproduto peculiar, às vezes destrutivo, da nossa estrutura individual e coletiva, que os homens bem informados acham uma bobagem.

A grande ironia por trás de tudo isso, e o grande furo de "The Big Bang Theory", é que a teoria do Big Bang foi formulada justamente por um padre católico!

O pe. Georges Lemaître foi um sacerdote católico que revolucionou a forma como pensamos sobre o universo. As mesmas mãos que descreveram os fundamentos matemáticos e físicos da teoria do Big Bang também consagravam a Eucaristia! Este fato explode o mito de que a ciência e a religião se opõem uma à outra. Mas este mito, infelizmente, continua sendo perpetuado por "The Big Bang Theory", à sombra da batina de um cientista.

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