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Universitária norte-americana inova na ajuda aos sem-teto e lhes fornece emprego

Veronika Scott – pt

The Empowerment Plan

Kathy Schiffer - publicado em 15/12/14

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Há mais de 35 mil desabrigados na parte sudeste do Estado norte-americano do Michigan. Muitos deles vivem em caixas de papelão debaixo de pilares de viadutos ou dormem sob marquises ou em edifícios abandonados, encolhidos para se proteger do vento. Qualquer onda de frio, comum na região em dezembro, pode significar para eles o congelamento e até a morte.

Com o drama dos desabrigados em mente, a estudante Veronika Scott, de 19 anos, decidiu procurar uma solução. Aluna de design industrial em Detroit, ela recebeu como sugestão do seu orientador “criar algo que satisfizesse alguma necessidade social”. Veronika pensou em desenvolver um produto para aquecer e proteger os sem-teto: um casaco que se transformasse em saco de dormir.

Durante cinco meses, ela visitou a Neighborhood Service Organization, um abrigo local para os sem-teto, consultando os residentes para criar o protótipo de uma jaqueta térmica que virasse um saco de dormir confortável e à prova d’água. No final do semestre, ela continuava aperfeiçoando o protótipo, mudando o tecido, a forma e o estilo para atender às necessidades das pessoas a quem esperava ajudar. "Eu fiquei conhecida como a louca do casaco", relata ela.

Mas o projeto não terminaria por aí. Veronika estava visitando um dos abrigos de Detroit para distribuir seus casacos quando uma das residentes gritou: "Nós não precisamos de casacos! Os casacos não resolvem. Nós precisamos é de empregos!".

As palavras da mulher tocaram em cheio o coração de Veronika e ela começou a ensinar as mulheres sem-teto a costurar. Sua primeira "sala de costura" foi um cômodo dentro do próprio abrigo, mas o empreendimento foi crescendo. Com o apoio de algumas empresas, entre elas uma indústria têxtil que doou máquinas de costura e tecido, além de um aporte em dinheiro, Veronika lançou “The Empowerment Plan” [O Plano de Capacitação], uma organização humanitária sem fins lucrativos que contrata mulheres sem-teto para costurar os casacos, que, uma vez produzidos na fábrica de Veronika, são disponibilizados para as pessoas desabrigadas sem nenhum custo para elas.

A missão declarada da empresa é: “Nós acreditamos na segunda chance para quem deseja e no calor para quem precisa”.

Cada casaco-saco de dormir tem três camadas: a exterior é impermeável; a segunda é de isolamento térmico, feita a partir da reciclagem de material usado em revestimentos de automóveis, doado pela General Motors; e a terceira, interior, é acolchoada e também resistente à água. A peça se transforma em saco de dormir com a simples abertura de um bolso na parte traseira. Quando não está sendo usado nem como casaco nem como saco de dormir, o produto vira uma mochila de ombro, fácil de carregar.

Nos primeiros dois anos de atividade, Veronika pôde produzir 250 casacos, todos distribuídos gratuitamente para população de rua de Detroit. Em 2015, com doações de empresas de todo o país e de uma bem sucedida campanha de levantamento de fundos, o Plano de Capacitação pretende distribuir 1.000 casacos. Como o sucesso da empresa, Veronika passou a receber pedidos de casacos de muitas outras partes dos Estados Unidos e até mesmo do exterior.

A jovem recebeu uma série de reconhecimentos pelo projeto inovador. A revista Forbes a convidou a dar uma palestra em seu encontro anual. Em 2011, Veronika recebeu da Sociedade Americana de Design Industrial (IDSA, na sigla em inglês) o prêmio IDSA: IDEA Award Gold. Em 2012, a Biblioteca John F. Kennedy lhe concedeu o Prêmio JFK New Frontier. Em 2013, a Detroit Business a incluiu em sua lista "Vinte de 20", que destaca empreendedores da casa dos 20 anos de idade.

Perguntada em uma entrevista sobre qual legado ela esperava deixar, Veronika se disse surpresa: ela é jovem demais, observou, para estar pensando em seu legado. Mas declarou: "Eu espero continuar dando às pessoas uma oportunidade, em vez de apenas falar. As pessoas que estão na cadeia dizem que, quando saírem, vão poder recomeçar a vida. E isso não é verdade. Nós somos muito rápidos para julgar e rejeitar as pessoas. Eu quero dar às pessoas uma chance sem julgá-las pelo que elas passaram ou pelo contexto em que elas foram criadas".

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