Milagre da vida
A FAMÍLIA CRISTÃ acompanhou uma família na gestação do terceiro filho, no momento do parto e nos dias que se seguiram. Uma viagem ao admirável mundo novo de um ser humano que se começou a formar nove meses antes de ver a mãe, o pai e os irmãos. O milagre da vida aconteceu diante dos nossos olhos. Registámos o momento na retina. No coração. Na memória da câmara fotográfica e na eternidade da escrita.
«O meu Menino Jesus já nasceu!» O Natal já chegou à vida de Ana – a mãe, cheia de graça – e de Rafael – não o anjo, mas o pai. O bebé acaba de sair das entranhas da mãe. O milagre acontece. Ouve-se o choro de vida. O médico deita-o junto do peito da mãe. É magia. O João Maria acalma e, imediatamente, deixa de chorar. Reconhece os batimentos cardíacos da mãe e sossega. É o mundo que ele sabe de cor e do qual parece não se querer separar. Lá fora existe um outro mundo, mas nada mais interessa naquele instante. Nada é tão importante como o momento em que mãe e filho se reconhecem depois de um tempo de esperanças em que apenas se podem imaginar um ao outro. O pai acaricia com uma mão a pele fina do bebé e com a outra faz festas no rosto da mãe. O instante pertence-lhes. É só deles. Sagrado momento. Sagrada família.
Não é apenas mais um bebé que vem ao mundo. Quem o puxou para o lado de cá desta vida está emocionado. Cada parto é sempre único. E um médico também chora. Vítor Neto, obstetra do Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, confessa: «A melhor coisa do mundo é colocar o filho que acaba de nascer em cima da mãe. Não há palavras para descrever esse momento…»
Um excerto do poema O Milagre da Vida de Albert Einstein talvez complete as palavras que falham ao médico. «Há duas formas para viver a sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.»
Ouvir chorar o filho pela primeira vez arrebata o coração da mãe que nem sabe muito bem o que dizer. Pouco importam as palavras aqui, só o sentimento e a certeza do compromisso que se assume ali para sempre com um filho é que contam. O pai lá deixa escorregar umas palavras interrompidas pelas emoções legítimas que vieram ao de cima: «Há um sentimento de gratidão… Um agradecimento a Deus Nosso Senhor por este momento, por ele vir bem e tudo ter corrido da melhor forma… É mais um filho que Deus nos confia à nossa guarda. Apesar do sentido de responsabilidade pesar ainda mais, é um sentimento de alegria extasiante difícil de explicar… Eu que sou bastante comunicativo, este é um dos poucos momentos em que é difícil comunicar.» A comunicação não se faz só de palavras. O brilho no olhar revela tudo. Respira fundo. Precisa de retomar o fôlego para enviar SMS à família e amigos para informar que o bebé nasceu com três quilos e que mãe e filho estão bem. Mas antes disso há um telefonema urgente a fazer. As Monjas Concepcionistas Franciscanas do Mosteiro do Viso, em Viseu, amigas do casal, estavam a interceder para que tudo corresse pelo melhor.
Horas antes de o bebé nascer, o Rafael tinha nas mãos um terço e a Ana uma dezena. Ambos rezavam à Nossa Senhora do Bom Parto e do Leite. As contas do rosário que passavam pelos seus dedos foram feitas com sementes que as religiosas cultivam no jardim. «É bom saber que alguém está a rezar por nós», dizia a Ana a meio da tarde, já deitada na cama do hospital, enquanto se ouvia o bater do coração do filho através do CTG.
«Famílias cristãs não são perfeitas»
De manhã, antes de chegarem ao hospital, passaram pela igreja onde estava o Santíssimo Sacramento exposto para adoração. Entregaram-se e entregaram o filho que ainda estava no ventre Àquele que tinha dado a vida por todos. Estava uma nova vida a caminho. Antes de começar a noite, já tinha nascido o João Maria, o segundo filho do casal e o terceiro de Rafael. Esta não é uma família convencional. Não porque agora passam a ser uma família numerosa com mais uma criança lá em casa, mas por ter havido uma conversão de vida. O Rafael foi pai muito cedo. Quando foi proposto no hospital o aborto a dois adolescentes, um e outro recusaram. Porém, cada um seguiu o seu caminho. Rafael, o jovem certinho que era acólito, tinha cometido um «devaneio na juventude» mas queria mostrar que era homem para assumir os seus atos. Entretanto, a amizade com a Ana foi crescendo e nasceu um amor comprometido. Veio o primeiro filho do casal e casaram, assim por esta ordem. Amadureceram a fé, graças ao pároco e às Equipas de Nossa Senhora, que os acolheram de braços abertos. E é nessa fé que querem educar os filhos. Olhando para o passado e para o presente, dizem que nas histórias das suas vidas aconteceu o que tinha de acontecer e que «as famílias cristãs não são perfeitas».