O moderno não é necessariamente feio, nem o tradicional é necessariamente sem sentido
Quando eu era adolescente, fazia coisas típicas do início dos anos 70: mantinha o cabelo comprido, vestia calças boca de sino, usava gravatas largas, deixava abertos pelo menos os três primeiros botões da camisa e, é claro, ouvia rock-n-roll.
Mesmo assim, eu sentia um grande amor pelas coisas antigas. Acho que isso tinha alguma coisa a ver com a minha avó, Nana, que eu amava com profundo carinho. Ela se lamentava, com frequência, pela perda “das coisas e dos jeitos de antigamente”. Ela sentia saudade da missa em latim, dos “tempos em que havia boas maneiras”, em que as pessoas se vestiam bem, em que as coisas eram mais claras, em que “as meninas eram meninas e os homens eram homens”, como cantavam Archie e Edith no início de “All in the Family”. Ela também sentia falta do tempo em que as coisas eram feitas para durar e o plástico era praticamente desconhecido.
De alguma forma, o amor dela pelas coisas e pelos “jeitos de antigamente” me influenciou, embora eu me deixasse envolver também por algumas modas dos anos 70. A geração dos meus pais, nascida no final dos anos 20 e durante os anos 30 e, mais ainda, a geração nascida depois da Segunda Guerra Mundial, eram gerações um pouco iconoclastas. O lema delas parecia ser “Chega do que é velho e viva o que é novo!”. Novo e “melhorado”.
A minha mãe estava quase sempre querendo se livrar de alguma coisa velha. Eu me oferecia para jogar aquelas coisas fora, mas, na verdade, dava um jeito de escondê-las no sótão de casa: prataria, lâmpadas Tiffany, estátuas e peças diversas… Além disso, os edifícios antigos me fascinavam e eu odiava as “caixas de vidro” que estavam sendo construídas na década de 70. Também me lembrava das antigas igrejas da minha infância em Chicago, porque elas "pareciam igrejas mesmo", e deplorava a "igreja moderna e feiosa" do meu bairro nos anos 70. Eu gostava de rock, mas não suportava a "música hippie" dos anos 60 que ainda predominava nas paróquias durante a década seguinte: "Kumbaya", "Sons of God"… Aquelas letras terríveis, distribuídas para os fiéis em folhas mimeografadas, do tipo "Vamos cantar alelu, alelu, alelu, alelu-i-a!"…
Minha avó sempre falava da falta que sentia dos belos cantos litúrgicos antigos, do incenso, dos véus, dos sacerdotes usando batina e de tantas outras coisas. Eu a entendia e concordava com ela. Mas escondia as antiguidades tanto dos meus pais quanto da Igreja. Não via a hora em que a lucidez voltasse e toda aquela “velharia” fosse valorizada novamente.
E essa hora, de certa forma, chegou. Boa parte daquela iconoclastia que prevaleceu dos anos 50 até meados dos anos 80 deu lugar a um novo apreço pelas coisas antigas. No início dos anos 90, quando eu trouxe do sótão algumas das coisas que tinha guardado por lá, a minha mãe, estranhamente, voltou a gostar delas. Outros membros da família resolveram ficar com algumas das peças de prata. O meu cálice, como sacerdote, era uma daquelas peças velhas, que eu mesmo restaurei. As estátuas começaram a voltar para as igrejas. Alguns dos velhos hinos também retornaram. E a missa em latim, depois de anos e anos relegada aos porões, foi “espanada” e hoje volta a ser apreciada por muitos católicos, principalmente por católicos jovens. Eu também tive a felicidade de ajudar a restaurar duas igrejas antigas, devolvendo a elas o velho resplendor e desfazendo um pouco da iconoclastia que elas tinham sofrido. Além disso, eu uso a minha batina com bastante frequência.
Não me incomoda que existam igrejas de arquitetura mais moderna; algumas delas têm uma simplicidade realmente bonita. Mas nada me irrita mais do que ver uma bela igreja antiga "renovada" para evocar 1985, toda nua e despojada. Eu acho, felizmente, que essa época terrível está chegando ao fim.