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Poupar em 2015: ainda é possível?

Plants of money – pt

© Spiber/SHUTTERSTOCK

Família Cristã - publicado em 07/01/15

Começa um novo ano e temos menos dinheiro na carteira depois da época festiva. Como assumir daqui para a frente o controle das nossas despesas?

Eis 2015. Renova-se a esperança de que este pode ser um ano melhor que os anteriores. É todos os anos assim. Acredita-se que tudo pode ser diferente quando começa a contagem decrescente para o ano novo. Três, dois, um… Viva 2015! E… tudo permanece igual, os dias vão passando e nada parece mudar (só as rugas que vão aparecendo e os quilos a mais depois das comezainas das festas alteram alguma coisa – mas mudanças dessas, quase todos dispensam).

Ainda há dias se multiplicavam os votos para que o novo ano fosse próspero e… por ora, não há grandes sinais de prosperidade. Mas o que se começou a fazer para alterar o rumo do ano? Agora que começou 2015, está na altura de se pensar em propósitos de vida para os meses vindouros. «A poupança tem de ser um objetivo de vida, mas também tem de ter um objetivo ou vários», sublinha Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado (GAS), criado pela DECO.

O ano será mais frutífero se as sementes forem lançadas à terra no tempo certo. Janeiro é a altura ideal para se começar a elaborar um orçamento mensal. A gestão equilibrada das finanças pessoais visa não só a acumulação de dinheiro, mas também permite que se alcancem os objetivos a que as pessoas se propõem: «O início do ano leva muitas famílias a repensarem nos seus comportamentos. Olham para o que aconteceu no ano passado e para aquilo que pretendem fazer este ano. Um bom objetivo para 2015 e que não custa nada – só mesmo tempo – é fazer-se um orçamento familiar mensal. Está demonstrado que é o melhor instrumento que as famílias têm para gerir o seu dinheiro, envolvendo todos nessa operação», realça a especialista da DECO na questão da poupança.

Novos comportamentos financeiros

Há modelos de orçamentos para todos os gostos que ajudam a disciplinar as finanças. Cada agregado familiar pode encontrar ou criar o que melhor se ajusta ao seu contexto. «O ideal é que seja construído pela própria família, porque nem todas têm, por exemplo, rubricas de crédito. Olha-se para um modelo, mas não tem se seguir tudo exatamente tal como está lá – tem de ser adaptado à realidade de cada família.»

Há que encarar 2015 com novos olhos. A situação de dificuldades em que se encontram as famílias que têm procurado a ajuda da associação para a defesa dos consumidores lança o alerta: «Por mês, recebemos mais de 600 pessoas que nos contactam pessoal e telefonicamente ou por escrito. Até temos recebido contactos de fora do país, de emigrantes portugueses, que partiram por situações de desemprego para poderem pagar as suas dívidas», conta Natália Nunes.

Esta realidade convida a uma reflexão. Há quem olhe para esta crise e veja uma oportunidade para repensar na vida e optar por novos comportamentos financeiros. Há também quem torça o nariz e dê voltas e mais voltas à cabeça sem saber onde pode fazer poupança quando o dinheiro mal chega até ao fim do mês. Se há, de facto, famílias que já não têm capacidade de poupança, outras há que ainda podem encontrar uma nesga de luz: «Lembro-me que no início de 2000, antes da crise em 2008, fazíamos ações de sensibilização da gestão do orçamento familiar e, quando chegávamos à questão da poupança, todos nos diziam nessa altura que já não era possível poupar. E demonstrávamos às pessoas que era possível, com alguns comportamentos, conseguir-se poupar», recorda.

Se se olhar para o passado e para o presente, encontram-se diferenças substanciais: «Analisando o antes e o depois de 2008, verificamos que, com o agravar da crise, a generalidade das famílias, com menos rendimentos disponíveis ao fim do mês, começou a ser mais cuidadosa na forma como lida com o dinheiro, com a água, luz, gás, compara preços no supermercado, opta por marcas próprias… Esta alteração de comportamentos mostrou que havia ainda capacidade de poupança da parte das famílias portuguesas», sustenta.

Para as famílias que ainda estão em condições de poupar, a especialista da DECO sugere que se comece por uma pequeníssima poupança que pode dar frutos no futuro. Se todos os dias se beber menos um café, são 0,60 cêntimos que ficam na carteira. Ao final do mês, há um acréscimo de cerca de 20 euros. No fim do ano temos mais de 200 euros. Parece coisa pouca. Mas este valor terá um significado diferente, depois de um esforço de poupança. Cada família saberá melhor que ninguém onde encontrar o tal gasto que ainda é possível evitar.

Definir prioridades

Os economistas e a literatura especializada referem a importância de se poupar 10% dos rendimentos. Contudo, Natália Nunes defende ainda outra teoria: «Eu costumo dizer que cada um deve poupar aquilo que conseguir. Tem é de ter um objetivo de poupança, nem que seja o correspondente a um café por dia – e já está assim a ganhar hábitos de poupança. Se se propuser a um objetivo demasiado ambicioso, sente-se desmotivado a cumpri-lo», realça.

Distinguir os desejos das necessidades, reconhecer as despesas essenciais das supérfluas, definir as prioridades, é um bom lema de vida para se começar um novo ano.

Quando se assume o controle das despesas, o barco da vida segue rumo a um destino seguro. As múltiplas solicitações da sociedade de consumo piscam o olho constantemente, mas a vida é mais do que o status, materialismo e estereótipos que empurraram algumas famílias para o endividamento. «As nossas decisões são muitas vezes determinadas por esta sociedade de consumo em que vivemos, mas temos de repensar tudo isto e sermos consumidores mais ativos e mais responsáveis. É a própria família que tem de se sentar à volta de uma mesa e tentar definir o que é uma necessidade e um desejo. Aquilo que é um desejo para uma família pode não ser para outra. Se fizermos este exercício, conseguiremos gastar menos. Se gastarmos menos, vamos ter os tais 10% do nosso rendimento destinado à poupança mensalmente.»

Importa aqui voltar a salientar que tem de haver objetivos para essa poupança. Segundo esta especialista da associação para a defesa dos consumidores, «a poupança não pode ser encarada como um amealhar puro e simples». É mais fácil poupar quando temos um propósito para o que queremos. Quantos não gostariam de fazer umas férias merecidas, comprar um miminho para si, trocar de carro ou de casa? Estes são apenas alguns exemplos que fazem sonhar muita gente. Sonhos possíveis de concretizar quando existe estabilidade financeira.

«Cada um vive com o que tem» ou «viver com o suficiente» são expressões que se ouviam nas gerações passadas e voltam a ecoar na cabeça de muitos, depois de terem sido abalados pela crise económica. Porém, isso não significa que não possa haver qualidade de vida. Diz Natália Nunes: «É possível termos qualidade de vida e não gastarmos muito dinheiro. Temos alguma oferta cultural sem despendermos qualquer verba. Só temos de estar atentos e procurar. Existe também a ideia errada que é preciso gastar muito dinheiro para se ter uma alimentação equilibrada. Nós temos vindo a demonstrar – com alguns estudos e até com algumas receitas que temos feito – que é possível ter uma alimentação equilibrada sem gastar muito dinheiro…. Para termos uma qualidade vida aceitável não é necessário termos muito dinheiro, temos é de fazer uma boa gestão desse dinheiro», realça a coordenadora do GAS.

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