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As mentiras do diabo e as falsas promessas deste mundo

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Pe. Charles Pope - publicado em 16/01/15

O círculo vicioso que nos leva a estar sempre em busca de "só mais uma coisa"

Uma das grandes ilusões com que trabalhamos é a de que, se conseguirmos só mais uma coisa deste mundo, vamos ser felizes. Se tivéssemos um pouco mais de dinheiro, ou um emprego melhor, ou o iPad mais recente, ou se fôssemos casados com Fulana ou com Fulano, ou nos mudássemos para um bairro melhor… aí sim ficaríamos satisfeitos e finalmente seríamos felizes!

Mas esse “finalmente” nunca chega, nem sequer quando consigamos várias das coisas da nossa lista. Afinal, como diz o Eclesiastes, “o olho nunca se cansa de ver, nem os ouvidos de ouvir” (Ecl 1, 8). Ou, ainda, “quem ama o dinheiro nunca tem dinheiro suficiente; quem ama a riqueza nunca está satisfeito com o que ganha” (Ecl 5, 8).

Sabemos muito bem disso, mas, por algum motivo, continuamos comprando a mentira uma vez atrás da outra: “só mais uma coisa”. E gastamos dinheiro e tempo, mas o prazer que conseguimos dura vinte minutos. O mundo simplesmente não consegue nos satisfazer.

Existe uma historinha que ilustra a sedução do “só mais uma coisa”. Aqui vai ela, seguida de alguns comentários:

Um homem que vivia sozinho pensou que um animal de estimação talvez o ajudasse a suavizar a falta de companhia. Ele foi então até uma loja de animais, olhou muitos dos bichos que havia lá e se viu atraído por um deles em particular. A etiqueta na gaiola dizia: "Papagaio falante: é garantido que ele fala!".
– Ah, este aqui com certeza vai resolver o meu problema, pensou o homem. Ele sabe até falar!
– São 250 dólares, disse o comerciante.

Uma semana depois, o homem voltou à loja:
– Este papagaio não está falando!
– Você quer dizer, retrucou o comerciante, que ele não sobe a escadinha e não conversa?
– Escadinha? Mas você não me disse nada sobre essa escadinha.
– Ah, me desculpe, disse o comerciante. São só 10 dólares.
Uma semana depois, o homem voltou de novo:
– O papagaio ainda não está falando nada!
– Você quer dizer, perguntou o comerciante, que ele não sobe a escadinha, não se olha no espelho e não fala?
– Espelho? Mas você não tinha falado nada sobre esse espelho!
– Ah, me desculpe, disse o comerciante. Ele custa só 10 dólares.

Outra semana depois, o homem voltou mais uma vez:
– O papagaio continua não falando!
– Você quer dizer, indagou o comerciante, que ele não sobe a escadinha, não se olha no espelho, não bica o sininho e não conversa?
– Sininho? Mas você não me falou de sininho nenhum!
– Ah, me desculpe, disse o comerciante. São só 10 dólares.

Uma semana depois, o homem voltou dizendo:
– Este papagaio ainda não está falando!
– Você quer dizer, perguntou o comerciante, que ele não sobe a escada, não se olha no espelho, não bica o sininho, não pula no balanço e não conversa?
– Balanço? Mas você não tinha me falado sobre esse balanço!
– Ah, me desculpe, disse o comerciante. Ele custa só 10 dólares.

Uma semana depois, o homem chegou à loja e o comerciante perguntou:
– Como está o papagaio?
– Morto, respondeu o homem.
– Morto? Mas ele não chegou a falar antes de morrer?
– Chegou. Até que enfim, ele falou, disse o homem.
– E o que foi que ele disse?
– Ele perguntou: “Mas naquela loja eles não vendem alpiste?”.

Lição 1: Promessas, promessas

Essa história nos ensina, com certa dose de humor, que o mundo e o “príncipe deste mundo” estão sempre nos prometendo resultados. Quando esses resultados não são satisfatórios, no entanto, a prática é simplesmente a de exigir mais do mesmo. Primeiro o papagaio, depois a escadinha, depois o espelho, depois o sininho, depois o balanço. Sempre existe a “necessidade” de algo mais e, depois disso, o resultado perfeito “com certeza virá”. Mas é mentira! E a mentira vem de muitas formas: basta só mais um acessório, basta apenas passar da versão livre para a versão paga, basta apenas comprar a atualização para resolver a dificuldade… Ou só mais uma bebida, só mais uma dieta, só um carro mais novo, só uma casa maior, só uma aplicação de botox, só uma cirurgia bariátrica… É sempre “só mais uma coisa”; a felicidade está sempre “logo após a próxima compra”.

Jesus, ao falar com a mulher samaritana à beira do poço de Jacó, disse a respeito da água: “Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede” (Jo 4, 13). Ele falava da água daquele poço, que representa o mundo. E esta é a pura verdade sobre este mundo: ele não pode saciar a nossa sede, porque nós temos sede de Deus e de eternidade. Mas nós apelamos ao mundo uma vez e mais outra, e mais outra, e mais outra, e ouvimos sempre a mesma mentira, pensando que “desta vez vai ser diferente”.

É sensato, sem dúvida, fazermos uso das coisas deste mundo na medida em que elas nos ajudam a realizar os nossos deveres e direitos básicos. Mas elas não são a resposta para as nossas necessidades mais profundas. A grande mentira é justamente a de dizer que elas são a resposta. E quando elas falham, a mentira só fica maior, porque declara que “só mais um pouquinho” daquele mesmo produto que já falhou vai agora funcionar com certeza. A grande mentira se torna uma mentira maior ainda.

Lição 2: A única coisa necessária

No insensato processo de comprar escadinhas, espelhos, sininhos e balanços, a única coisa realmente necessária acabou sendo descuidada: a comida. E isto é válido para nós também. Acumulamos brinquedos e bugigangas deste mundo, que passarão, mas negligenciamos as realidades eternas e duradouras. Já gastamos tempo suficiente com a TV, com o lazer, com a academia de ginástica, com as fofocas, com as compras, com… você pode completar com a sua própria lista de coisas de menor importância. Mas a oração, a sagrada escritura, os sacramentos, a liturgia, a adoração a Deus e o desenvolvimento de uma relação pessoal com Ele são atos negligenciados com enorme frequência ou até mesmo esquecidos completamente em meio à nossa busca de escadinhas, espelhos, sininhos e balanços. Olhamos demais para o espelho que nos deixa focados só em nós mesmos. Os sinos do mundo nos convocam o tempo todo para inúmeras coisas, a maioria delas, no fim das contas, triviais. E tentamos subir a escada do sucesso aparente sem prestar atenção em qual é a parede na qual a escada está encostada.

E todas essas questões menos importantes nos afastam da única coisa necessária: alimentar a nossa alma em Deus. “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele (…) Quem se alimenta de mim viverá por causa de mim” (cf. Jo 6, 56-58).

Ah, mas não dá tempo para tudo isso. Ter que ir até a igreja, rezar, receber a comunhão? Não dá tempo! O sino do mundo me chama para só mais uma diversão, só mais uma reunião. Estou ocupado demais subindo a escada do sucesso. Estou ocupado demais olhando para mim mesmo no espelho, porque quero ter a certeza de que os outros vão gostar de mim.

– Como está o papagaio?
– Morto.
– Morto? Mas ele não chegou a falar antes de morrer?
– Chegou. Até que enfim, ele falou.
– E o que foi que ele disse?
– Ele perguntou: “Mas naquela loja eles não vendem alpiste?”.

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