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Nosso estranho desejo de que existam os extraterrestres: por quê?

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David Mills - publicado em 29/01/15

Será por medo? E se, no fim das contas, estivermos mesmo sozinhos no universo?

“Será que temos medo?”. A pergunta, estampada no jornal inglês “The Guardian”, foi feita pela escritora Sue Blackmore, que quer entender por que a descoberta de Kepler 438b, um planeta muito parecido com a Terra, atraiu tanta atenção dos terráqueos.

Ela mesma admite que tem medo. Não de que os alienígenas existam, mas de que exista no universo alguma forma de vida inteligente "tão perigosa a ponto de não poder durar", já que essa inteligência seria capaz de criar tecnologias que potencialmente a matariam. Ela espera que o nosso fascínio pelos ETs se deva à curiosidade natural humana e acha que seria um prazer encontrar alienígenas mais preparados do que nós para lidar com os problemas da vida. Sue Blackmore encerra o seu artigo fazendo mais uma pergunta: "Ou será que temos medo apenas de estar sozinhos no universo?".

O artigo inclui a indefectível referência à suposta perturbação que as pessoas religiosas sentiriam ao descobrirem que existem outras formas de vida inteligente no cosmos. Os ETs, afinal, seriam uma ameaça para as pessoas “de mente moldada pela religião”, escreve ela. “Se você acredita que os seres humanos foram criados à imagem de Deus e são os únicos a ter alma, consciência moral e a chance de ir para o céu ou para o inferno, a existência de vida inteligente em outros lugares ameaçaria a sua imagem da humanidade e de si mesmo. Mas, claramente, este fascínio não se restringe aos fundamentalistas” (repare na correlação que ela sugere entre pessoas “de mente moldada pela religião” e “fundamentalistas”…).

Esse tipo de pensamento é bastante comum entre os laicos que escrevem sobre a possibilidade de vida extraterrestre. Às vezes, eu me pergunto se o mais agressivamente laico dentre eles deseja que exista vida fora da Terra basicamente por supor que isto seria um golpe mortal contra a religião. Se for isto o que eles pensam, ficariam decepcionados.

Nós (os “de mente moldada pela religião”, ou “fundamentalistas”, segundo tais escritores) deveríamos mesmo nos sentir ameaçados? Mas por quê? Nós acreditamos no que acreditamos por várias razões, mas nenhuma delas se baseia na proclamação da inexistência de alienígenas. Os argumentos a favor da existência de Deus e da Ressurreição de Cristo, bem como a nossa experiência da vida na Igreja, não mudariam por causa da potencial existência de mais seres inteligentes no vasto cosmos em que vivemos. Deus poderia ter criado outros seres como criou o homem, não poderia?

E, se os criou, Ele tem lá as suas razões, assim como deve ter para ter-nos criado. Não faz muito sentido que, de repente, resolvamos não acreditar mais na Ressurreição porque descobrimos que os nossos filhos estavam escondendo um pequeno ET clandestino debaixo da cama. Em todo caso, a chegada do alienígena levantaria questões teológicas interessantes e, provavelmente, a Igreja faria algum pronunciamento a respeito.

Alguém me disse, uma vez, que os católicos consideram que o homem é o ápice da criação e que, por causa disso, a nossa fé ficaria abalada caso fosse confirmada a existência de outras criaturas dotadas de inteligência, como nós. Isso nunca me pareceu um argumento consistente. Mesmo que os alienígenas tivessem aquela aparência que os filmes ruins de ficção científica supuseram que eles têm, com tentáculos no rosto, olhos pendendo de anteninhas e pernas extras repletas de garras, nós os reconheceríamos como criaturas semelhantes a nós em dignidade. Haveria espaço para eles também no “ápice da criação”. Podemos até achar que a relação deles com a Encarnação é uma questão teológica interessante, e pessoas como C.S. Lewis também acharam, mas não seria o caso de despejar a Bíblia e o terço na lata de lixo se esses seres existissem.




Eu não entendo esse fascínio todo com a busca de vida extraterrestre. Quando eu era mais jovem e mais interessado nessas coisas, a conversa era sempre sobre a conquista do espaço pelo homem. Eu não me lembro de ninguém se importando tanto em achar evidências de vida longe da Terra. Teria sido até curioso, mas o verdadeiro entusiasmo era o de ir aonde ninguém tinha ido antes.

Quando morávamos em Nova Iorque, eu levei o nosso filho mais novo ao Museu Americano de História Natural para ver uma exposição chamada "Além do Planeta Terra". Quase toda ela abordava a possível descoberta de um micróbio aqui ou ali. Quem criou a exposição parece que achava que o principal objetivo da exploração do espaço era encontrar vida, mesmo que fosse apenas um germe sepultado bem fundo na camada de gelo de alguma lua de Júpiter.

Talvez seja dinheiro demais esbanjado para achar um micróbio. Não bastaria sairmos para explorar o espaço porque é isso o que a humanidade faz ou porque pode ser que encontremos por lá algumas coisas de que precisamos aqui na Terra? Chegar a Marte não é impressionante o suficiente, mesmo que seja um planeta completamente morto? Eu achei fascinante a parte da exposição que tratava da exploração de Marte; muito mais interessante do que as partes sobre a perfuração do gelo para encontrar micróbios. Afinal, o que está em jogo no caso de Marte é um importante aprendizado sobre a possibilidade de levarmos a humanidade para mais longe.

Isso me traz de volta à questão inicial, proposta pela escritora Sue Blackmore: será que as pessoas, e ela se refere em particular às pessoas laicas, têm mesmo medo de estar sozinhas no universo? Eu não sei o porquê desse medo, já que vivemos num mundo tão rico em pessoas. Mas, aparentemente, há, sim, bastante gente que tem esse medo.

Eu suspeito que essa busca por vida extraterrestre é impulsionada não tanto pela curiosidade intelectual quanto pelo desejo de sentir que não estamos mesmo sozinhos. Quem tem fé religiosa sabe que não estamos sós, mesmo que o homem seja a única espécie inteligente em todos os bilhões de planetas do universo. E, se Deus não existisse, o fato de que em algum lugar houvesse outros seres na mesma situação que nós não seria particularmente reconfortante. Significaria apenas, afinal de contas, que continuamos sozinhos no universo.

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