O líder do EI, Zarqawi, era tão fanático que fazia Bin Laden parecer um moderado
O grupo Estado Islâmico (EI) aprendeu com os erros do passado cometidos pelos movimentos jihadistas e estabeleceu uma base de apoio quase invencível dentro do Iraque e Síria, com apelo espetacular para muitos dos muçulmanos sunitas do mundo, revelou um novo livro.
Os autores de "ISIS: Inside the Army of Terror", publicado neste mês nos Estados Unidos, conversaram com dezenas de combatentes e membros do grupo para compreender seu fascínio e como ele justifica suas táticas brutais. ISIS é o acrônimo do Estado Islâmico em inglês.
Em uma entrevista por telefone à AFP, um dos autores, o jornalista de origem síria Hassan Hassan, declarou que é vital entender que algumas das crenças religiosas centrais do grupo foram amplamente difundidas.
"Apresenta-se como um movimento apocalíptico, falando sobre o fim dos dias, o retorno do califado e sua eventual dominação do mundo", explicou Hassan, que vive em Abu Dhabi, onde trabalha como pesquisador para um "think tank".
"Essas crenças não estão à margem – elas são absolutamente dominantes. Elas são pregadas por mesquitas em todo o mundo, especialmente no Oriente Médio", disse.
"O ISIS pega essas crenças existentes e as torna mais atraentes, oferecendo um projeto que está acontecendo agora", explicou, usando um nome alternativo para o EI.
A pesquisa de Hassan junto com o co-autor Michael Weiss – um jornalista baseado nos Estados Unidos – deu a eles uma visão rara sobre o treinamento de novos recrutas do EI, que varia de duas semanas a um ano.
"Os recrutas recebem formação militar, política e religiosa. Eles também são treinados em contra-inteligência para evitar infiltrações", disse Hassan.
"Depois de se formarem, os recrutas permanecem em observação e podem ser expulsos ou punidos se mostrarem hesitação, ou enviados de volta aos campos para fortalecer a sua fé", declarou.
O EI utiliza certos textos e clérigos para fornecer uma justificativa religiosa para a sua violência, particularmente um livro chamado "The Management of Savagery" (A Gestão da Selvageria, em tradução livre), que argumenta que a brutalidade é uma ferramenta útil para incitar o Ocidente a uma reação exagerada.
Seis categorias
Os autores descrevem seis categorias de recrutas do EI.
Apenas duas estão enraizadas na religião: elas incluem os ultrarradicais que dominam os escalões superiores do grupo e as pessoas que aderiram recentemente à sua ideologia extremista.
Outros recrutas são apenas oportunistas que buscam dinheiro ou poder; pragmáticos que querem estabilidade e encaram o EI como a sua única chance; e os combatentes estrangeiros cujos motivos variam muito, mas "são quase sempre alimentados por equívocos graves sobre o que está ocorrendo no Iraque e na Síria".
A categoria final e mais importante de recrutamento é muitas vezes subestimada pelo Ocidente – os recrutas atraídos pela ideologia política do grupo.
Muitos muçulmanos sunitas da região se sentem ameaçados por xiitas liderados por um Irã ressurgente.
"Em toda a região, os xiitas estão confiantes, corajosos e em ascensão, enquanto os sunitas se sentem inseguros e perseguidos", disse Hassan.
"Muitos discordam de ISIS por razões éticas, mas o encaram como o único grupo capaz de protegê-los", explicou.
Os autores também ressaltam que o EI não é novo, mas surgiu das cinzas da Al-Qaeda no Iraque (AQI), um dos inimigos mais brutais dos americanos após a invasão de 2003.
A AQI foi amplamente derrotada depois que os Estados Unidos convenceram tribos locais a se erguer contra ela – uma estratégia conhecida como "The Awakening" (O despertar), que influenciou profundamente as ações do EI.