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Greve de fome: é lícita?

A man in a tunnel – pt

© Frenzel/SHUTTERSTOCK

Joan Antoni Mateo - publicado em 12/02/15

Será válido recorrer à greve de fome, ainda que seja por motivos nobres?

Pergunta

É lícito recorrer à greve de fome? Os mártires, de alguma maneira, também não tiram a própria vida, ao negar-se a renunciar à fé?

Resposta

A doutrina da fé e o senso comum nos fazem ver que não é correto colocar a vida em risco sem uma grave necessidade – por exemplo, fazer uma cirurgia diante da alternativa de uma morte certa ou lutar para deter agressores injustos que causam mal a inocentes.

Não existe uma doutrina do magistério católico sobre a greve de fome. Penso que não há um pronunciamento direto, dada a relativa novidade do fenômeno, sobretudo em sua dimensão midiática.

A greve de fome, quando não é uma montagem ou um simples jejum, implica que o grevista esteja disposto a chegar às últimas consequências, ou seja, morrer de fome se suas reivindicações não forem atendidas.

É evidente que esta morte é provocada pelo próprio grevista, porque ninguém o obriga a parar de comer e, neste sentido, tal ação se assemelha ao suicídio – um suicídio lento que é preciso evitar, ainda que seja contra a vontade do grevista.

Além disso, esta morte daria uma grande alegria aos tiranos. Ainda que as intenções do grevista sejam as melhores do mundo, isso não transforma uma ação errada em certa. O fim não pode justificar os meios.

Evidentemente, é preciso alimentar a pessoa quando sua vida está em risco.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que "cada qual é responsável perante Deus pela vida que Ele lhe deu, Deus é o senhor soberano da vida; devemos recebê-la com reconhecimento e preservá-la para sua honra e salvação das nossas almas. Nós somos administradores e não proprietários da vida que Deus nos confiou; não podemos dispor dela" (2280).

É totalmente inapropriado comparar a greve de fome ao martírio. Os mártires cristãos são fiéis a Deus até a morte, mas não provocam sua própria morte por si mesmos. Eles sofrem a morte, pelas mãos dos perseguidores, por fidelidade à fé, mas não buscam a morte.

Evidentemente, se os mártires puderem fugir da morte, devem fazê-lo, mas não vendendo a própria consciência.

Fazer uma brincadeira fingindo que se renuncia à fé é incompatível com a mais elementar dignidade da consciência. É um autêntico ridículo diante de Deus e de si mesmo.

Tags:
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