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E o Oscar não vai para… Deus!

Neil Patrick Harris Oscars 2015 – pt

John Shearer/Invision

David Ives - publicado em 24/02/15

Quem foi e quem poderia ter sido premiado

Eu gostei de várias coisas em quase todos os filmes indicados ao último Oscar, mas poucos deles fazem parte da minha lista de preferidos de 2014.

No topo da minha lista viria "Calvário", uma brilhante abordagem da fé e do perdão na Igreja da Irlanda, tão ferida emocionalmente. A minha estima por esse filme do roteirista e diretor John Michael McDonagh cresceu ainda mais quando o vi pela segunda vez. Entre as personalidades católicas que elogiaram a produção, o arcebispo norte-americano dom Charles J. Chaput afirmou que "Calvário" traz a melhor apresentação que ele viu em décadas sobre um bom sacerdote em meio a situações extremas. Eu não tenho dúvida alguma em considerá-lo entre os filmes de melhor direção e atuações do ano, além de reconhecer nele o longa mais autenticamente cristão produzido por um grande estúdio. Com todos esses predicados, naturalmente, ele não recebeu uma única indicação sequer. Afinal, no Oscar, Deus raramente é convidado a se sentar ao lado de Jack Nicholson e Meryl Streep.

Todos sabemos que as escolhas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas são problemáticas. Quando "Shakespeare Apaixonado" bateu "O Resgate do Soldado Ryan" como Melhor Filme (dói só de digitar isso), ficou claro de uma vez por todas que as campanhas publicitárias bancadas pelos estúdios contam bem mais do que a qualidade de uma produção na hora de reivindicar uma estatueta. Todos coçamos a cabeça quando filmes e performances notavelmente valiosos nem sequer são indicados nas suas categorias. E, especialmente se somos cristãos, todos estremecemos cada vez que alguém leva ao palco e alguma causa política parcial e defendida de modo incoerente. Apesar de tudo isso, é sempre interessante saber o que essas pessoas entendem por qualidade e que tipo de mensagem elas esperam promover.

Dito isso, eu gostaria de compartilhar alguns comentários meus sobre esta edição do Oscar:

– "Whiplash" é uma daquelas produções a que eu gostei de assistir, mas que só posso recomendar com algumas ressalvas. O personagem de J. K. Simmons tem um nobre objetivo, mas ignora a dignidade dos outros ao tentar alcançá-lo. Da última vez que eu chequei o Catecismo, ele dizia que não devemos usar meios maus para tentar fazer o bem. E o Catecismo não mudou. A motivação declarada do personagem principal deste filme é conquistar grandeza aos olhos do mundo, custe o que custar. Acho que ele se esqueceu das Bem-Aventuranças… É, em suma, um bom filme sobre pessoas não muito admiráveis.

– "Ida" ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro! Eles deram um prêmio a um filme sobre uma freira que é realmente feliz com a sua vocação! A Academia provavelmente tomou essa decisão por causa da composição clássica e da fotografia do filme, e não pela temática espiritual da história, mas não deixa de ser uma pequena vitória!

– Shirley MacLaine? Mas ela não acabou de publicar um livro em que sugere que os mortos no Holocausto passaram por aquele suplício para “equilibrar o seu carma” devido a crimes que teriam cometidos em vidas passadas? Senhoras e senhores, bem-vindos ao lado escuro da New Age!

– Patricia Arquette, como esperado, levou para casa o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em “Boyhood” (cuja resenha foi publicada pela Aleteia neste artigo). Foi ela quem nos proporcionou a primeira e inevitável diatribe política da cerimônia, juntamente com o primeiro palavrão censurado. Eu, particularmente, preferi o convite de J. K. Simmons a honrar os nossos pais e mães.

– Quase três horas de cerimônia se passaram até que alguém finalmente desse graças a Deus! Muito bem, Common e John Legend! Mas a reação da plateia diante da menção ao Criador poderia ter sido mais entusiasmada. Deus podia, pelo menos, ter recebido um aplauso de cortesia…

– De todos os filmes historicamente inexatos que concorriam às premiações, o mais inexato de todos levou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado: "O Jogo da Imitação". Motivo? Que eu possa discernir, nenhum. A não ser o fato de contar, e ainda imprecisamente, a história de um cientista homossexual que a agenda liberal considera mais importante por ter sido homossexual do que cientista.

– Eu cheguei a apostar em Eddie Redmayne como Melhor Ator por "A Teoria de Tudo", mas passei a pensar que ele não ganharia quando "Birdman" começou a ganhar força.

– Já a estatueta de ouro para Julianne Moore por "Para Sempre Alice" passa longe de ser uma surpresa. É verdade que a maior parte do filme segue o típico padrão Lifetime e também é verdade que Alec Baldwin é um erro lamentável de escalação como o marido dedicado, mas o desempenho de Julianne Moore como vítima repentina do mal de Alzheimer é maravilhoso. Por um momento, eu supus que a Academia fosse premiar a desagradável protagonista de "Livre", interpretada por Reese Witherspoon, por conta de algum daqueles confusos gestos de apoio ao manifesto feminista proposto por esse filme, mas eles acabaram optando por uma performance que celebra a vida e o valor de todas as pessoas, sem importar o seu estado de saúde. É quase o suficiente para alimentarmos alguma esperança em Hollywood…

– Mas, é claro, Hollywood gosta, acima de tudo, de honrar a si mesma. E o Oscar de Melhor Filme vai para… "Birdman", que celebra, entre outras coisas, a ideia de que não há nada mais importante neste mundo do que aquilo que os atores e atrizes fazem. Eles não bateram palmas para Deus nessa noite, mas como foram rápidos em aplaudir a si mesmos!

E é isso. A cerimônia deste ano voltou a mostrar uma Hollywood aferrada à sua agenda laica na escolha dos filmes premiados, mas que pareceu um pouco mais cautelosa na hora de esfregar essa agenda na cara de todo mundo durante a transmissão. Talvez eles tenham finalmente percebido que eles próprios podem não sentir a necessidade de honrar a Deus, mas um belo montante do dinheiro arrecadado nas bilheterias vem de pessoas que sentem essa necessidade. E isso não deixa de ser outra pequena vitória.

Tags:
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