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Uma obscura aliança entre católicos, muçulmanos e maçonaria

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David Mills - publicado em 16/03/15

A mensagem não intencional por trás das acusações mais descabeladas contra a Igreja

Eles dizem: “Eu não tenho nada contra os católicos”. Eles dizem até que amam os católicos, apesar de “terem certeza” de que a Igreja católica é malvada e mentirosa por natureza. Eles acham que a Igreja católica é uma grande e pérfida força maligna, que mantém alianças obscuras com outros poderes das trevas. Eles concordam que seria bom reforçar os laços de amizade entre os cristãos divididos, mas não com a Igreja católica.

E quem são eles? Eles são um grupo complexo, diversificado, difuso, que abrange desde amadores entusiasmados com as teorias da conspiração até televangelistas influentes, principalmente em países de língua inglesa, como o norte-americano Jim Nations e sua afirmação de que “os jesuítas inventaram a maçonaria como uma sociedade secreta falsamente cristã para contra-atacar a reforma protestante e criar uma ‘nova ordem mundial’”. O mesmo Jim Nations também acredita que “a maçonaria, o islã e a Igreja católica trabalham juntos para estabelecer essa nova ordem mundial, descrita no Apocalipse, capítulos 13 e 17”.

Podemos pensar que eles são doidos varridos, como diria a minha avó. Afinal, nem sequer os críticos evangélicos mais ferrenhos diriam que a Igreja faz parte de uma conspiração secreta com os maçons e os muçulmanos.

Esse tipo de visão bombástica, no entanto, exerce pouco efeito prático sobre a maioria das pessoas: não há muita gente que sinceramente pense desta maneira. Ainda assim, as pessoas que acreditam nessas histórias são mais numerosas do que costumamos imaginar.

Alguns anos atrás, quando eu ainda era episcopaliano, tive uma conversa com um amigo presbiteriano conservador em que lamentávamos as dificuldades para melhorar as relações entre os cristãos divididos. Eu citei, em tom de brincadeira, algum daqueles livros que dizem que existem túneis secretos entre o Vaticano e os conventos das proximidades para que os padres e as freiras possam se entregar a orgias desenfreadas. Meu amigo me olhou e, com expressão muito séria, sentenciou: “Mas isso é verdade”. Eu respondi que não era; ele replicou que era, sim. E começou a contar uma série de boatos desse tipo, irredutível em sua “certeza” de que são fatos comprovados e inquestionáveis, por mais que ele próprio não apontasse prova alguma a não ser generalidades típicas, como “Tem muitos livros que afirmam isso”.

Desde que me tornei católico, eu tive várias conversas com não católicos que soltavam histórias tão gratuitas quanto essa. E o mais curioso: eles pareciam pressupor que todos os católicos são pouco convictos da própria religião e concordariam facilmente com eles, a ponto de que os meus protestos os surpreendiam!

Nenhuma das histórias que eu já ouvi, no entanto, foi tão longe quanto a da “aliança” entre maçonaria, islã e Igreja católica. As pessoas que me falaram dessa tese demonstravam a maioria das características dos grupos extremistas: marginalização cultural, coesão grupal baseada em bodes expiatórios, medo do outro, preconceitos herdados do passado… Além disso, é um fanatismo fácil de alimentar, já que essas pessoas raramente conversam com um católico de verdade. Suas palavras nunca encontram quem as questione.

Mas há outras razões para esse tipo de comportamento, acredito eu. Uma delas é o grande apelo de “pertencer à minoria dos iluminados”, de “saber mais do que os outros”, de conhecer “a verdadeira história” por trás das aparências em que a maioria acredita. Todos nós conhecemos esse apelo: ele é uma das causas da fofoca. Quando nos deixamos seduzir pela excitação de “fazer parte do pequeno grupo de conhecedores da ‘verdade por baixo dos panos’”, nem sempre percebemos quando e o quanto ultrapassamos a divisa entre o plausível e o absurdo. As pessoas acostumadas com essas hostilidades contra a Igreja, por exemplo, tendem a partir rotineiramente de uma hermenêutica da suspeita. Não importa o quanto a Igreja faça coisas boas em público: “no fundo”, para eles, o que a Igreja “realmente” pretende é sempre macabro. Dentro dessa mentalidade, a Igreja “dos Bórgias e dos jesuítas” é muito boa em parecer boa.

Essas teorias sobre os “planos diabólicos secretos do catolicismo” apontam, porém, para uma perspectiva esperançosa: o fato de que todos nós temos a capacidade de perceber que é comum engolir bobagens sobre “os outros”.

Como católico, eu posso entender os evangélicos que repetem os velhos estereótipos de que os católicos não leem a bíblia, adoram Maria, pecam à vontade porque pensam que a confissão vai resolver tudo… E por que eu entendo isso? Porque eu reconheço que também entre nós, católicos, persistem estereótipos preconceituosos contra os evangélicos: que todos eles são emocionalmente carentes, fanáticos, manipulados, racistas, intolerantes, ignorantes, intrometidos, etc. É como uma briga de crianças: “Você é bobo!”. “E você tem cara de melão!”. “Você é idólatra!”. “E você é fundamentalista!”. 

É exatamente por ser uma briga de crianças que alguma hora ela acaba. As crianças se xingam de feias e bobas, mas param de gritar e começam a agir como amigas quando percebem que o outro, na verdade, não é assim. Elas brincam em paz quando mudam o foco da vontade de brigar para o prazer de conviver como irmãos e compartilhar valores sólidos em comum.

Conviver e conhecer-se na prática: é assim que se superam os pré-conceitos. Existem, sim, esperanças.

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