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Cardeal escocês envolvido em escândalo sexual perde todos os privilégios

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John Burger - publicado em 23/03/15
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Keith O’Brien renuncia ao direito de voto no próximo conclave
O papa Francisco aceitou a renúncia do cardeal escocês Keith M. O’Brien aos seus direitos e privilégios cardinalícios. O purpurado se afastou do posto de arcebispo de St. Andrews e Edimburgo há dois anos, após sofrer acusações de má conduta sexual.

Segundo um comunicado vaticano emitido neste fim de semana, "o Santo Padre aceitou a renúncia aos direitos e privilégios de cardeal, expressos nos cânones 349, 353 e 356 do Código de Direito Canônico, apresentada por Sua Eminência o Cardeal Keith Michael Patrick O’Brien, arcebispo emérito de St. Andrews e Edimburgo, depois de um período de oração e penitência. Com esta disposição, Sua Santidade gostaria de manifestar a sua solicitude pastoral a todos os fiéis da Igreja na Escócia e incentivá-los a prosseguir com esperança no caminho da renovação e da reconciliação".

O’Brien foi acusado por três padres e por um ex-sacerdote de ter cometido assédio sexual no início da década de 1980, quando era diretor espiritual em uma universidade. Ele não poderá participar da eleição do próximo papa nem ajudar no governo da Igreja. A arquidiocese de St. Andrews e Edimburgo informou que o cardeal O’Brien ficará confinado a uma "vida estritamente privada, sem participação alguma em eventos públicos, civis ou religiosos".

O atual arcebispo de St. Andrews e Edimburgo, dom Leo Cushley, afirmou em comunicado: "Como a maioria das pessoas está ciente, o papa Francisco é um homem de oração cujo caráter encarna a justiça e a misericórdia. Tenho a confiança de que a decisão do Santo Padre é justa, equitativa e proporcional. O comportamento do cardeal O’Brien angustiou a muitos, desmoralizando fiéis católicos e tornando a Igreja menos credível para os não católicos. Eu reconheço e acolho o seu pedido de desculpas às pessoas afetadas pelo seu comportamento e também ao povo da Escócia, em especial à comunidade católica".

De acordo com a arquidiocese, o anúncio se segue à decisão tomada no ano passado pelo papa Francisco de enviar um representante pessoal, o arcebispo Charles Scicluna, em missão de inquérito à Escócia. Francisco chegou à sua conclusão canônica baseado nessa investigação, cujo conteúdo é conhecido na íntegra somente pelo papa e por Scicluna. A decisão do cardeal O’Brien foi tomada após uma conversa privada com o papa Francisco, precedida por um período de oração e penitência em que o cardeal pôde refletir sobre a sua má conduta.

O arcebispo Cushley acrescentou: "Gostaria de expressar a minha tristeza pelos que mais sofreram com as ações do meu antecessor. Também presto tributo a quem teve a coragem de conversar abertamente com o arcebispo Scicluna. Espero que, agora, todos nós que fomos afetados por este triste e lamentável episódio abracemos o espírito de perdão, o único que pode curar todo rancor e mágoa que ainda permanecem".

A arquidiocese também informou que o arcebispo Scicluna realizou a sua missão de inquérito em abril de 2014, recebendo os depoimentos de pessoas que preferiram se manter no anonimato.

O cardeal O’Brien viverá fora da Escócia "até poder solicitar o alojamento residencial integral para doentes e idosos", prosseguiu a arquidiocese, em cujo site o cardeal O’Brian declarou: "Gostaria de repetir o pedido de desculpas que fiz à Igreja católica e ao povo da Escócia há dois anos, no dia 3 de março de 2013. Na ocasião, admiti que houve momentos em que a minha conduta sexual ficou abaixo dos padrões esperados de mim, fato pelo qual estou profundamente arrependido. Agradeço ao papa Francisco pelo seu cuidado paternal para comigo e para com quem foi ofendido de alguma forma pelo meu comportamento. Deixarei de desempenhar qualquer papel na vida pública da Igreja na Escócia e dedicarei o resto da minha vida ao retiro, rezando especialmente pela arquidiocese de Saint Andrews e Edimburgo, pela Escócia e por todos aqueles a quem eu possa ter ofendido de qualquer forma".