As negociações para evitar que o Irã produza a bomba nuclear entraram em uma nova fase decisiva nesta quarta-feira, com alguns avanços, mas com vários obstáculos para alcançar um acordo.
Depois do fim do prazo, fixado para a meia-noite de terça-feira, para estabelecer os princípios do que os negociadores esperam que seja um acordo histórico, a maratona de reuniões em Lausanne (Suíça) foi interrompida por algumas horas durante a noite.
O chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, pediu nesta quarta às grandes potências que "aproveitem o momento" para concluir um acordo sobre o programa nuclear de seu país, ressaltando que esta ocasião pode não se repetir.
"Chegou o momento de nossos parceiros nessas negociações aproveitarem o momento e a oportunidade (de um acordo) que pode não se repetir", declarou Zarif à imprensa, num momento em que as discussões se arrastam há uma semana em Lausanne.
Nas últimas horas, vários diplomatas ocidentais também exortaram o Irã a "tomar decisões".
Apesar da impaciência que começa a reinar, o secretário de Estado americano, John Kerry, garantiu que ficará em Lausanne pelo menos até a manhã de quinta-feira para continuar as negociações.
Por sua vez, o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, disse, ao retornar à cidade suíça, que as negociações "estão nos últimos metros, antes da linha de chegada, que são os mais difíceis".
"O que está em jogo é muito importante porque se trata da luta contra a proliferação nuclear e, de uma certa forma, da reintegração do Irã na comunidade internacional", reforçou Fabius.
Ele afirmou que a França apoia um acordo "robusto e verificável".
Fabius tinha deixado Lausanne ao amanhecer desta quarta-feira para participar do Conselho de Ministros, em Paris, e havia advertido que só retornaria se fosse "útil".
Pontos de atrito
As discussões estão emperradas em três pontos-chave: a duração do acordo, o fim das sanções da ONU e o mecanismo de garantia e controle.
No ponto que diz respeito à duração do acordo, as grandes potências desejam um quadro estrito de controle das atividade nucleares iranianas por ao menos 15 anos, mas o Irã não quer se comprometer além de 10 anos.
Na questão da retirada das sanções da ONU, os iranianos querem o fim de todas as penalidades econômicas e diplomáticas, consideradas humilhantes, assim que o acordo for assinado, mas as grandes potências desejam uma retirada gradual dessas medidas ligadas à proliferação nuclear e adotadas a partir de 2006 pelo Conselho de Segurança da ONU.
Em caso de retirada de algumas dessas sanções, certos países do 5+1 querem um outro mecanismo que permitiria reimpor rapidamente as punições em caso de descumprimento por Teerã de seus compromissos.
Cacofonia
Neste contexto, uma cerca cacofonia parece reinar.
O chefe dos negociadores sobre o programa nuclear do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que ainda existem problemas.
Em uma entrevista ao canal estatal iraniano, Araghchi explicou o que trava as negociações.
"Até que tenhamos soluções para todos os problemas não podemos chegar a um acordo completo", afirmou, antes de mencionar que os principais pontos bloqueados são os relativos às sanções e à pesquisa e desenvolvimento nuclear.
Araghchi destacou que durante a tarde um comunicado conjunto deve ser divulgado para explicar os avanços dos últimos dias.
"Conseguimos avanços importantes nos últimos dias, mas lentamente", disse o ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond, que afirmou "cruzar os dedos" por um sucesso nas negociações, que segundo ele registraram avanços "notórios".
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou à imprensa russa que as grandes potências chegaram a um "acordo de princípio sobre todos os aspectos-chave do acordo final".