Existe a noção no terreno de que o ISIS não é sustentável per si?
Sim, claramente, e vimos que há conflitos internos dentro do Estado Islâmico, porque os guerrilheiros que vêm da Europa estão a receber mais que os guerrilheiros que são daquela zona, e a Igreja acredita que, se a comunidade internacional conseguir estancar a venda de armamento, se parar a compra de petróleo ao Estado Islâmico – disseram-nos que o Estado Islâmico vende o petróleo a 3 dólares o barril – o financiamento será cortado e o Estado Islâmico vai autodestruir-se. É preciso parar com a hipocrisia de estarmos a vender armas e a fazer negócio ao mesmo tempo que, do outro lado, usamos mais armas para combater essas armas que venderam. É preciso parar com estes negócios e perceber que existem pessoas que estão a sofrer. O grande problema é as grandes potências olharem para o Médio Oriente como cifrão, como lucro, e não verem o desastre que está a acontecer, a destruição de património e de uma história milenar. O Patriarca Gregorius disse-nos que, se a paz for conseguida naquela zona, que também os nossos países na Europa gozarão dela. Nós estamos a perder a nossa liberdade e a nossa segurança por causa de todos estes movimentos radicais que começam a afetar a Europa também. Não se compreende como é que hoje temos pessoas a viver da forma que encontrámos no Iraque e no Líbano.
Se esses guerrilheiros estão a ser pagos para combater, também se esfuma a ideia da guerra santa, motivada pelo ardor religioso…
Ninguém sabe bem o que leva estes jovens a irem lutar, mas não vão apenas para defender uma causa, vão à procura de lucro e de uma forma diferente de fazerem coisas com adrenalina. Um bispo dizia-nos que a ida de todos estes jovens servia para nos mostrar como está a falhar a nossa educação e como a família está a falhar na Europa. O nosso sistema falhou com estes jovens, pois a maioria destes jovens vêm de famílias destruturadas, com problemas, e muitos são abandonados à sua sorte. O desemprego na Europa leva à desocupação, e por isso estes jovens acabam por descobrir aqui um rumo por falta de encontrarem outro na Europa. Estes jovens vão para lá a pensar no seu lucro.
Ricardo Perna