A artista plástica brasileira Mirtis Moraes fala sobre o enigma que inspira a sua arte sacra
Em junho deste ano, o Santo Sudário será exposto à visitação pública em Turim, na Itália, e o papa Francisco já confirmou que irá pessoalmente à cidade para ver a relíquia.
Aqui no Brasil, a artista plástica Mirtis Gonçalves de Moraes, que já organizou na quaresma de 2014 a exposição de arte sacra "Sudário da Ressurreição", fala sobre o misterioso tecido em que o corpo de Jesus teria sido envolvido no sepulcro.

Mirtis, a sua exposição de arte sacra "Sudário da Ressurreição" não se concentra apenas no Santo Sudário. Você expõe uma sequência de peças sacras ligadas a vários momentos da História da Salvação. Por que o título da exposição faz referência especificamente ao Sudário?
Mirtis – Porque o Sudário é um ícone da Ressurreição de Cristo, que é o evento mais importante de toda a fé cristã. É o evento que dá sentido a todos os outros episódios da História da Redenção. "Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé". Alguns outros episódios da História da Salvação eu também represento na exposição, mas sempre girando em torno do núcleo da Ressurreição.
Desses outros episódios que giram em torno da Ressurreição, quais são representados na exposição de arte sacra?
Mirtis – Eu represento uma série de momentos, personagens e conceitos, cujo sentido sempre se orienta para o ápice que é a Ressurreição de Cristo. O Amor do Pai, por exemplo, é a explicação suprema da própria Ressurreição, já que tudo foi feito porque Deus amou tanto a humanidade que entregou o próprio Filho para redimi-la do pecado e reconciliá-la consigo. As peças que representam o Amor de Deus Pai são O Coração do Pai e A Criação, simbolizada pela mão de Deus tocando a mão do homem, numa releitura da Criação de Adão, de Michelangelo, mas agora em forma de escultura. A Santíssima Trindade é representada por uma peça tripla, em forma de cruz inserida num círculo, com caracteres hebraicos que evocam a historicidade concreta da linguagem da redenção. Maria, a Mãe de Deus Encarnado, está presente em três peças: o Magnificat, a Rainha da Paz e o Coração Imaculado, em que ela é representada junto com o Sagrado Coração de Jesus, de quem é inseparável. E, é claro, as peças que evocam especificamente os episódios da Semana Santa. A primeira delas é, na verdade, uma instalação composta, chamada Encruzilhada, que reúne a cruz latina, a cruz grega e a cruz celta. Temos também o Lenço da Verônica, o Mandamento do Amor do Cristo Missionário, o Triunfo de Cristo, o Cristo Vivo e duas versões do Sudário. A primeira versão se chama exatamente Sudário da Ressurreição: ela apresenta o sudário envolvendo os braços de uma Cruz flutuante e transparente, já sem o Corpo de Jesus. E a outra versão é o Sudário Vivo, que é uma peça de estilo mais abstrato, fundida em bronze e recoberta de pátina. Essa peça é muito mais simbólica, subjetiva, aberta à reflexão de cada um. Aliás, cada uma das peças é acompanhada, na exposição, por um texto que propõe uma reflexão filosófica ecumênica, aberta a crentes e não crentes. A reflexão de fundo é unitária: o mistério da nossa própria ressurreição para uma vida espiritual.
Toda a Semana Santa culmina no dia da Ressurreição de Cristo, no Domingo de Páscoa. A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, quando Cristo entra em Jerusalém montado num burrinho e é recebido como o Salvador pela multidão, que o aclama com ramos de oliveira. Na Quinta-Feira Santa, Jesus celebra a Última Ceia: é quando Ele institui a Eucaristia, o grande memorial do seu sacrifício, atualizado em todas as missas. Na Sexta-Feira Santa, Ele enfrenta a Paixão, o grande, terrível sofrimento da cruz. No Sábado Santo, a Igreja guarda um grande silêncio, meditando sobre Jesus e acompanhando sua Mãe, Maria, que permaneceu firme aos pés da cruz. E no Domingo de Páscoa, quando Cristo já ressuscitou dos mortos, só o sudário é encontrado dentro do sepulcro aberto. Mirtis, você concebeu o "Sudário da Ressurreição" como uma exposição para a Semana Santa?