Ouça a sublimidade do gregoriano nas vozes dos monges beneditinos de um mosteiro de 1400 anosA MÚSICA CRISTÃ
Segundo os pensadores medievais, há dois modos de degustar a música:
– a forma vulgar, que fica no sensível, no prazer imediato da orelha afagada pelos sons doces;
– a forma intelectual, que eleva a beleza sonora até o mundo das proporções inteligíveis, até o próprio Deus.
Na primeira forma, os compositores se comprazem na simples audição e compõem segundo o seu capricho. Na segunda forma, compõem segundo as regras.
Para os sábios, a música é uma atividade intelectual e contemplativa. Ouvindo-a com inteligência, penetra-se no mundo dos mistérios sublimes, das regras da harmonia, dos números eternos. Assim faziam os antigos, mas os cristãos sobem mais alto e chegam até a Unidade, a Fonte de toda harmonia, o Criador de toda beleza, a Felicidade absoluta. A música, assim, se dilata em êxtase místico.
A sinfonia é a imagem do universo unificado em Deus. Guilherme de Auvergne vê nas notas mais altas a harmonia das criaturas mais sublimes. Para ele, os sons graves são signo dos seres materiais. Todo concerto é o símbolo da harmonia cósmica, da fabulosa unidade do universo estruturado com hierarquia e proporção.
O CANTO GREGORIANO
Dentro da música cristã, o ápice é ocupado pelo canto gregoriano. Trata-se de um gênero vocal monofônico e monódico (de uma só melodia), sem acompanhamento instrumental (ou somente acompanhado pelo organum). Suas características básicas são uma herança dos salmos judaicos e das escalas musicais gregas, que, no século VI, foram adaptadas por São Gregório Magno para as celebrações litúrgicas da Igreja. O texto é a razão de ser do canto gregoriano, com total primazia sobre a melodia. O canto gregoriano, afinal, se baseia no princípio de que "quem canta ora duas vezes".
Na década de 1990, tornou-se mundialmente reconhecido como um "centro de excelência" na preservação e execução do canto gregoriano o mosteiro espanhol de Santo Domingo de Silos, uma abadia beneditina localizada na província de Burgos. O mosteiro remonta à época visigótica, no século VII, e foi passando por fases de decadência e ressurgimento ao longo dos séculos. Seu claustro, aliás, é uma das obras-primas do românico espanhol.
No vídeo acima, você pode ouvir um exemplo da beleza sublime da oração cantada que é o gregoriano, nas vozes dos monges beneditinos de Silos.
* Com excertos de Edgar de Bruyne, “Études d’esthétique médiévale”, tomo 2, Albin Michel, Paris; citado no blog Glória da Idade Média.