Os mais de 3.000 bombardeios aéreos da coalizão liderada por Washington não conseguiram impedir o avanço do EIO grupo jihadista Estado Islâmico (EI) executou nesta quarta-feira 20 homens na cidade histórica síria de Palmira, enquanto no Iraque, o exército apoiado pelas milícias xiitas tentavam cercar os jihadistas na cidade de Ramadi.
Uma semana após conquistar Palmira, no centro da Síria, o "EI matou a tiros, em frente a uma multidão reunida no teatro romano de Palmira, 20 homens acusados de serem xiitas e nosairitas (termo pejorativo dado aos alauitas) que combateram com o regime", disse Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
O EI tomou Palmira em 21 de maio, depois de um ataque sangrento que durou nove dias. Segundo o OSDH, o EI executou desde então 217 pessoas, incluindo 67 civis, na cidade e em seus arredores.
O diretor sírio de Antiguidades, Maamoun Abdulkarim, considerou que "se a notícia for verdadeira (…) utilizar as ruínas romanas para matar civis prova que eles desprezam a humanidade."
Do outro lado da fronteira, as forças iraquianas apoiadas pelas milícias xiitas tentavam nesta quarta-feira cercar os jihadistas em Ramadi.
Ramadi, capital da província de Al-Anbar, a maior do Iraque, foi conquistada pelos jihadistas no dia 17 de maio depois de uma ampla ofensiva e de uma retirada caótica das forças iraquianas.
O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, prometeu recuperar esta região das mãos do EI. Sua perda constituiu um importante revés que impulsionou o Iraque e os Estados Unidos a revisar sua estratégia contra o EI.
O EI controla a maior parte da província de Al-Anbar – onde se implantou desde janeiro de 2014 – estendendo seus limites desde a região de Bagdá até as fronteiras síria, saudita e jordaniana.
No âmbito da operação iniciada na terça-feira, 4.000 homens – soldados, policiais, milicianos xiitas e membros de tribos sunitas – se dirigiram do sul da província de Saladino à província fronteiriça de Al-Anbar, de onde avançaram para Ramadi.
O nome dado a esta operação – "As suas ordens, Hussein", uma referência ao xiismo – foi criticada pelo influente chefe xiita Moqtada Al-sadr, que alega que pode avivar as tensões sectárias com os sunitas, majoritários nesta região.
O presidente do Parlamento iraquiano, Salim al-Juburi, criticou a operação, considerando-a mal preparada.
Para ajudar a expulsar os jihadistas de Ramadi – 100 km a oeste de Bagdá – o primeiro-ministro iraquiano recorreu às Unidades de Mobilização Popular (Hashd Al-Shaabi em árabe), uma força paramilitar majoritariamente xiita que já ajudou o exército em sua luta contra o EI.
As principais milícias destas Unidades desempenharam um papel chave em operações bem-sucedidas contra o EI em diversas zonas ao norte de Bagdá, mas foram acusadas de cometer abusos e realizar execuções sumárias.
Em Ramadi, o exército, a polícia e estas milícias tomaram o controle dos bairros de Al-Taesh e Al-Hmeyrah, segundo um coronel do exército.
Segundo Raja Al-Isaui, membro do conselho provincial de Al-Anbar, a recuperação destes dois setores ao sul da cidade é "importante para cortar as linhas de fornecimento" do EI.
"Califado" do EI
Os mais de 3.000 bombardeios aéreos da coalizão liderada por Washington não conseguiram, no entanto, impedir o avanço do EI, que estendeu seu califado, proclamado em junho de 2014, entre Síria e Iraque.
Na Síria, aproveitando a guerra civil, o grupo jihadista se amparou de extensas regiões e no dia 21 de maio conseguiu controlar a cidade antiga de Palmira, no deserto fronteiriço com o Iraque.
Mas os jihadistas também sofreram derrotas na Síria. As forças armadas curdas expulsaram os combatentes do EI de 14 localidades cristãs assírias do nordeste da Síria, que controlavam desde fevereiro passado, anunciou nesta quarta-feira uma ONG.
"Ao término de uma ofensiva de dez dias, os combatentes curdos tomaram o controle, no início da semana, das 14 localidades assírias que o grupo EI controlava desde fevereiro", disse à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), com sede na Grã-Bretanha.
O OSDH também afirmou que as forças curdas reconquistaram Mabruk, a sudoeste da cidade de Ras al-Ain, fronteiriça com a Turquia, onde 50.000 pessoas viviam até 2011.
(AFP)