"Necessitamos de jovens com esperança e fortes de espírito, não de jovens fracotes, que nem que sim, nem que não (indecisos). Não queremos jovens que se cansem rápido, e que estejam com a cara de enfado"
O papa Francisco manteve um vibrante encontro com milhares de jovens em Assunção, pouco antes de encerrar uma intensa visita que também o levou ao Equador e à Bolívia.
Depois de celebrar uma missa campal ante um milhão de peregrinos no complexo militar de Ñu Guazú, na periferia da capital, Francisco foi aclamado como uma estrela do rock por uma multidão de jovens em um ato às margens do rio Paraguai.
O Papa assumiu um tom enérgico, como se fosse o diretor de uma escola.
"Façam bagunça, mas a organizem direito", afirmou. "Façam bagunça, sim, mas também ajudem a arrumar a bagunça que fazem. Façam bagunça e depois a organizem, não destruam nada", enfatizou, em um sermão de dez minutos.
"Francisco, não se vá", cantou a multidão, interrompendo o papa diversas vezes.
Francisco então deixou de lado seu discurso oficial e mais uma vez improvisou, ao relatar que um bispo comentou com ele, numa mistura de brincadeira e seriedade: "Você continua aconselhando os jovens a fazer bagunça, mas depois as bagunças feitas pelos jovens somos nós que temos que resolver".
"Necessitamos de jovens com esperança e fortes de espírito, não de jovens fracotes, que nem que sim, nem que não (indecisos). Não queremos jovens que se cansem rápido, e que estejam com a cara de enfado", afirmou.
"Façam uma bagunça que nos dê um coração livre, solidariedade, esperança, uma bagunça que nasça de ter conhecido Jesus e de saber que Deus é minha fortaleza. Essa é a bagunça que precisam fazer", concluiu.
Após esse encontro, Francisco partiu para cumprir com seu último compromisso em Assunção, mas o ato sofreu um contratempo quando uma multidão ultrapassou as barreira de segurança e se aproximou perigosamente do papamóvel.
Com isso, o pontífice não pôde se encontrar com os familiares dos 400 mortos em um incêndio ocorrido em um centro comercial local em 2004.
A agenda oficial previa que o Papa visitaria o Memorial dos Mortos o incêndio no centro comercial Ycuá Bolaños e trocasse algumas palavras com os familiares das vítimas, mas o incidente fez com que a segurança conduzisse o carro papal diretamente para o aeroporto internacional "Silvio Pettirossi" para regressar a Roma.
Em meio à tensão, Francisco continuou saudando a multidão.
Os familiares das quase 500 vítimas fatais ficaram frustrados com o cancelamento do compromisso depois de meses de organização.
No entanto, o papa abençoou os restos do prédio incendiado, ocupado até hoje pelos familiares que o converteram praticamente em um templo.
Latim e guarani
Pela manhã, ao som de cânticos em latim e em guarani, o papa Francisco celebrou sua última missa campal carregada de referências à cultura nativa.
Diante de mais de 500.000 pessoas, o papa fez uma homilia muito solene na presença do presidente anfitrião, Horacio Cartes, e sua colega argentina, Cristina Kirchner.
A presidente se aproximou de Francisco por alguns minutos ao final da missa junto a Corte e o presenteou com um quadro, antes de posar com os três para uma foto.
Milhares de fiéis dormiram ao relento, debaixo de chuva, para conseguir um lugar privilegiado para ver o papa oficiar a missa em um imponente altar preparado pelo artista plástico Koki Ruiz, que criou um mosaico com a imagem de São Francisco com 32.000 espigas de milho.
Em seu sermão, o papa descreveu "a cédula de identidade do cristão" e afirmou que o objetivo dos fiéis de Jesus é "passar da lógica do egoísmo, da clausura, da luta, da divisão, da superioridade, à lógica da vida, da gratuidade, do amor".
"É preciso passar da lógica do domínio, do arrasar, manipular, para a lógica do acolher receber, cuidar. São duas lógicas que estão em jogo, duas maneiras de enfrentar a vida e a missão", enfatizou.