O guia supremo do Irã, Ali Khamenei, pediu ao presidente Hassan Rohani que desconfie de algumas grandes potências que assinaram o acordo nuclear, defendido com vigor pelo presidente americano, Barack Obama.
Esta advertência coincide com a visita, nesta quinta-feira a Israel, do ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond, para falar do acordo com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que o considerou um "erro histórico".
O acordo praticamente impossibilitará que o Irã fabrique a bomba atômica, mas lhe permitirá desenvolver um programa nuclear civil em troca da suspensão progressiva e reversível das sanções adotadas desde 2006 por ONU, Estados Unidos e União Europeia, que sobrecarregaram sua economia.
Em uma carta ao presidente iraniano, divulgada nesta quinta-feira, o guia supremo reconhece, no entanto, que a assinatura do acordo representa um grande passo, mas convoca Rohani a "ter cuidado de que as outras partes não violarão o compromisso".
"Você sabe muito bem que não se pode confiar em alguns dos seis Estados que participam das negociações", alerta.
No entanto, não informa a que país se refere dos cinco membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, China e Rússia) e da Alemanha, que participaram do acordo. Todos assinaram na terça-feira em Viena este acordo que colocou fim a cerca de dois anos de árduas negociações.
Ali Khamenei, guia religioso e político, a máxima autoridade do Irã cuja autorização foi necessária para as negociações e o acordo, costuma manifestar sua desconfiança com os Estados Unidos.
Diplomacia ou guerra
De volta na quarta-feira a Teerã após quase três semanas de negociações frenéticas em Viena, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, se declarou confiante na vontade de cada um de adotar medidas necessárias para cumprir o acordo.
Obama, que defende com vigor este acordo, telefonou na quarta-feira ao seu colega russo, Vladimir Putin, algo pouco frequente desde que os laços entre Washington e Moscou ficaram tensos pela crise ucraniana.
O presidente Barack Obama desafiou os que se opõem ao acordo, em Israel e no Congresso americano, a apresentarem uma solução para impedir o Irã de fabricar uma bomba atômica.
"Na realidade, só há duas alternativas: a via diplomática ou a força, ou seja, a guerra", disse nesta quarta-feira.
Obama, que tenta tranquilizar seus aliados na região – Israel e as monarquias sunitas do Golfo -, preocupados com a influência crescente de seu poderoso vizinho xiita, ressaltou que o Irã tem um papel importante a desempenhar, em particular no conflito na Síria.
Convencer Israel
Antes de viajar a Israel, o ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond, afirmou que "envolver o Irã nos assuntos regionais, de maneira razoável e medida, terá muitas vantagens".
Uma mensagem que tenta transmitir a Benjamin Netanyahu, que acusa o Irã, um "regime ditatorial", segundo ele, de querer destruir Israel.
Hammond disse confiar na capacidade dos israelenses para assumir de forma pragmática a nova realidade em terra.
O ministro britânico acrescentou que espera reabrir até o fim do ano a embaixada britânica em Teerã, fechada desde 2011, após o vandalismo de manifestantes hostis ao endurecimento das sanções de Londres contra o Irã pelo programa nuclear.
A república islâmica sempre desmentiu que pretendesse construir uma bomba atômica.
Além da abertura diplomática, o Irã, cuja economia sofreu com as sanções, espera ver desfilarem autoridades políticas e empresários interessados neste promissor mercado quando o acordo começar a ser cumprido, o que ainda levará alguns meses.
Com 78 milhões de habitantes, em sua maioria jovens ávidos por consumo e novas tecnologias, o Irã conta com as quartas maiores reservas do mundo de petróleo e as primeiras de gás.