Papa Francisco: Pega ladrão! E a ladra também! (parte 2)
Antes de prosseguir, não deixe de ler aqui a primeira parte deste artigo.
Segunda advertência: Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização
Seja-nos permitido começar pelo inverso. O que marca a tristeza? Instalar-se como centro do mundo e, mesmo assim, ainda fazer-nos sentir incomodados, nada plenificados. Tristeza é isolamento. É impor minha opinião porque ela vale mais. Minhas ações merecem todo o destaque entre as demais. Minhas decisões são as melhores. Tristeza é a busca de prazeres fugazes. Uma vez encontrados, vividos, não satisfazem e tem-se a necessidade de buscar outros mais. Outros mais, que também não saciam. A alegria, aquela sensação de estar lidando com algo grandioso, que satisfaz, está na outra ponta. É de modo todo especial um dom com que conta o cristão. A alegria tem sua sustentabilidade. O papa Francisco, no dia mundial das missões, em 8 de junho de 2014, disse muito bem: “O Pai é a fonte da alegria. O Filho é a manifestação e o Espírito Santo é o animador”. Jesus disse aos apóstolos que ele iria morrer, mas que voltaria ressuscitado. “Vocês ficarão tristes, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria” (Jo 16,20). E dois versículos adiante: “Quando vocês tornarem a me ver, vocês ficarão alegres, e essa alegria ninguém tirará de vocês” (v.22). Nesse espírito, os bispos da América Latina e do Caribe souberam se expressar assim: “Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber: tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (Documento de Aparecida, n. 29). Dito isso, dá para entender o que é a alegria da evangelização e o que se há de fazer para que ninguém a roube. Pois em qualquer forma de evangelização o primado é sempre de Deus, que quis chamar-nos para cooperar com Ele e impelir-nos com a força do seu Espírito… a iniciativa pertence a Deus, porque Ele nos amou primeiro (1Jo 4,19) e é só Deus que faz crescer (1Cor 3,7).
A quem deve visar a alegria da evangelização? “A alegria do Evangelho é para todo mundo, não se pode excluir ninguém” (Evangelii Gaudium n. 23). No entanto, em outra passagem, o papa emenda: “…mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, àqueles que não têm com que retribuir” (Lc 14,14; Evangelii Gaudium n. 48). Qual a razão disso? É que a “opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica” (Evangelii Gaudium n. 198).
E qual deverá ser o espírito da nova evangelização, além de ser alegre por ser exercida sob a iniciativa do Senhor? “Quando se diz que uma realidade tem espírito, indica-se habitualmente uma moção interior que impele, motiva, encoraja e dá sentido à ação pessoal e comunitária […]. Uma evangelização com espírito é uma evangelização com o Espírito Santo, já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora” (Evangelii Gaudium n. 261).
Não se pode dizer que a evangelização, hoje, seja mais difícil do que em outros tempos. O papa não acha bom que pensemos assim. O papa tem o pensamento de que hoje é diferente, não mais difícil (cf. n.263).
Se nos roubarem a alegria da evangelização, nos roubarão o Mestre, Jesus Cristo. E nos sentiremos isolados, desamparados, sós como Maria Madalena. Para dois apóstolos ela disse: “Tiraram do túmulo o Senhor e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20,2). E depois para os anjos, justificando seu choro: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram” (Jo 20, 13). Pior aqui. É-nos roubado o Senhor ressuscitado. É-nos roubada a alegria. A razão da nossa alegria. Diz o Catecismo da Igreja Católica que “a alegria é um dos frutos do Espírito, os quais são perfeições que o Espírito Santo modela em nós, como primícias da glória eterna” (n. 1832).