Os talibãs confirmaram nesta quinta-feira em um comunicado a morte de seu líder supremo mulá Omar, um dia depois do anúncio feito pelo governo afegão.
"A liderança do Emirado Islâmico e a família do mulá Omar anunciam que o líder morreu devido a uma doença", afirma o Talibã, usando o nome oficial do movimento.
O comunicado não diz quando ele morreu, mas afirma que "sua saúde se deteriorou nas últimas duas semanas".
Acrescenta que três dias de cerimônias religiosas foram organizados para "orar pela alma de mulá Omar".
A informação de que Omar teria morrido há duas semanas contrasta com o anúncio do governo. Segundo o serviço de inteligência do Afeganistão, o líder supremo dos talibãs afegãos faleceu há dois anos, em circunstâncias misteriosas.
Divididos e ameaçados pelo avanço do grupo Estado Islâmico, os talibãs afegãos enfrentam agora a importante decisão de escolher o sucessor de seu líder.
O mulá Omar mantinha os talibãs unidos há 20 anos e os levou ao poder em Cabul entre 1996 e 2001, antes de sua expulsão pela coalizão liderada pelos Estados Unidos após os atentados do 11 de Setembro.
Diferentes fontes da rebelião afegã indicaram à AFP que o mulá Ajtar Mansur, um dos principais dirigentes do Conselho Central dos talibãs, parte como favorito para suceder Omar, mas ainda não ocorreu qualquer eleição.
"O mulá Mohamad Ajtar Mansur, que dirige de fato os talibãs desde 2013, é visto como próximo ao Paquistão e favorável às negociações de paz" com Cabul, declarou à AFP um alto dirigente do grupo.
Outro candidato à liderança dos talibãs é o filho de Omar, o mulá Yaqub, de 26 anos, favorito de alguns comandantes do grupo.
Negociações adiadas
O ministério das Relações Exteriores do Paquistão anunciou nesta quinta-feira o adiamento de uma rodada de negociações entre o Afeganistão e os insurgentes talibãs em função da notícia da morte.
Os contatos estavam previstos no Paquistão e os dirigentes afegãos haviam anunciado que iam propor um cessar-fogo.
As primeiras negociações oficiais entre os dois lados aconteceram em 7 e 8 de julho, em Murree, perto de Islamabad, com a participação de diplomatas da China e dos Estados Unidos.
Mas em outro comunicado, os talibãs explicaram que "os meios de comunicação estão publicando que as negociações de paz começarão em breve (…) na China ou no Paquistão".
"Nosso escritório político não está a par deste processo", acrescentaram os rebeldes, que estão há 14 anos em guerra com as forças afegãs e estrangeiras.
O fato é que os talibãs estão divididos entre a nova geração de comandantes que dirigem a guerra no país e os líderes anteriores refugiados no exterior desde 2001.
Também existem divergências entre os líderes no exterior. De um lado os comandantes presentes no Paquistão e de outro o burô político exilado no Catar, que acusa os primeiros de estar dirigidos pelo governo paquistanês.
Por sua vez, os talibãs registraram nos últimos meses deserções de militantes atraídos pelo grupo Estado Islâmico.
Estes militantes, assim como vários comandantes em território afegão, se opõem às negociações com o governo.
Até agora, os talibãs colocaram como condição a uma eventual negociação de paz a retirada do Afeganistão de todas as tropas estrangeiras, que os expulsaram do poder no fim de 2001 e apoiam o governo pró-ocidental de Cabul.
A última mensagem atribuída a Omar é justamente um comunicado escrito enviado em meados de julho, pouco antes do Aid el Fitr, a festa que marca o fim do Ramadã, no qual aprovava implicitamente o diálogo com o governo.
Crise existencial
Para Michael Kugelman, analista em Afeganistão do centro internacional Woodrow Wilson, com sede em Washington, as incipientes negociações estão perdendo seu ímpeto.
"O anúncio da morte do mulá Omar provocará uma crise existencial entre os talibãs e a última coisa em que vão pensar é em negociações de paz. Terão de se concentrar em sua própria sobrevivência", explica.
As autoridades afegãs afirmaram, no entanto, que as bases para a negociação são agora mais sólidas e pediram de novo aos insurgentes que participem no processo de paz.
Muitos comandantes talibãs ainda colocam em dúvida a legitimidade dos negociadores e fazem temer novas divisões dentro do movimento.
As divergências se viram fortalecidas pela emergência de uma facção do Estado Islâmico no Afeganistão, que no ano passado declarou um califado nas zonas que controla no Iraque e na Síria.
Os talibãs advertiram recentemente que o EI não deve tentar se expandir para seu território, embora alguns insurgentes do grupo tenham optado por declarar lealdade ao líder dos jihadistas, Abu Bakr al Bagdadi.