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Reflexões do papa sobre quando tentam nos roubar o Evangelho, o amor fraterno e a força missionária

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Clemente Raphael Mahl - publicado em 05/08/15

Papa Francisco: Pega ladrão! E a ladra também! (parte 3 - final)

Antes de prosseguir, não deixe de ler a primeira e a segunda partes deste belíssimo artigo.

Quinta advertência: Não deixemos que nos roubem o Evangelho

“A alegria do Evangelho é tal que nada e ninguém no-la poderá tirar”, diz o papa com base em João (16,22; Evangelii Gaudium n. 84). Evangelho não é exposição de uma doutrina, mas a vida de uma pessoa. Vida de uma pessoa especial, salvadora, divina, encarnada. A pessoa de Jesus Cristo.

É possível que uma enxurrada de mundanismos nos leve embora o Evangelho. Isso pode acontecer quando “negamos a nossa história de Igreja, que é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança, de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso” (Evangelii Gaudium n. 96). Já com todo o esforço de que somos capazes, temos dificuldade de manifestar a beleza do Evangelho; imagine-se como ficarão as coisas se houver concordância com as ondas do mundanismo (cf. n. 195).

O Evangelho “é a alegria de um Pai que não quer que se perca nenhum dos seus pequeninos” (Evangelii Gaudium n. 237), pois todos fomos criados para aquilo que o Evangelho nos propõe: a amizade com Jesus e o amor fraterno” (n. 265).

As tentações são muitas. Os ladrões à espreita são numerosos quando se tem de enfrentar tarefas que não nos dão a satisfação desejada, quando as mudanças esperadas são lentas. O que pode então suceder? “O Evangelho, que é a mensagem mais bela que há neste mundo, fica sepultado sob muitas desculpas” (Evangelii Gaudium n. 277).

Como pode, Senhor, alguém nos roubar o Evangelho? O Evangelho não és tu? O Evangelho não é a tua Boa Nova? Santa Teresinha do Menino Jesus é exemplo para mim, para nós, no sentido de buscar com toda profundidade as riquezas inesgotáveis do Evangelho, pois ela declara: “É acima de tudo o Evangelho que me ocupa durante as minhas orações; nele encontro tudo o que é necessário para a minha pobre alma. Descubro nele sempre novas luzes, sentidos escondidos e misteriosos” (in Catecismo da Igreja Católica n. 127). O Evangelho é vida. Vida sempre. Vida tua, Senhor, que venceste o mundo. Que o Evangelho não nos falte jamais e que sejamos capazes de sustentar a nossa fidelidade a ele. Amém.   

Sexta advertência: Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno

O papa Francisco é bem explícito: “Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E uma vez comunicado, o bem se radica e se desenvolve. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem” (n.9).

Nosso amor fraterno é uma extensão de nós para além de nós mesmos. Como diz o papa, é “primariamente uma atenção prestada ao outro, considerando-o um só consigo mesmo” (São Tomás de Aquino). E o papa continua: “Esta atenção amiga é o início de uma verdadeira preocupação com a sua pessoa e, a partir dela, um desejo procurar efetivamente o seu bem. Isto implica apreciar o pobre na sua bondade própria, com o seu modo de ser, com a sua cultura, com a sua forma de viver a fé. O amor autêntico é sempre contemplativo, permitindo-nos servir o outro não por necessidade ou vaidade, mas porque ele é belo, independentemente de sua aparência: ‘Do amor, pelo qual uma pessoa é agradável à outra, depende que lhe dê algo de graça’ (São Tomás)”. E o documento papal prossegue: “Quando amado, o pobre ‘é estimado como de alto valor’ (São Tomás), e isto diferencia a autêntica opção pelos pobres de qualquer ideologia, de qualquer tentativa de utilizar os pobres ao serviço de interesses pessoais ou políticos. Unicamente a partir desta proximidade real e cordial é que podemos acompanhá-los adequadamente no seu caminho de libertação. Só isto tornará possível que os pobres se sintam, em cada comunidade cristã, como ‘em casa’. Não seria este estilo a maior e mais eficaz apresentação da boa nova do Reino?” (Evangelii Gaudium n. 199).

Em uma passagem um pouco mais à frente, Francisco vai dizer: “Cada vez que nos encontramos com um ser humano no amor, ficamos capazes de descobrir algo de novo sobre Deus (…) Cada vez que os nossos olhos se abrem para reconhecer o outro, ilumina-se mais a nossa fé para reconhecer a Deus. Em consequência disto, se queremos crescer na vida espiritual, não podemos renunciar a ser missionários. A tarefa da evangelização enriquece a mente e o coração, abre-nos horizontes espirituais, torna-nos mais sensíveis para reconhecer a ação do Espírito, faz-nos sair dos nossos esquemas espirituais limitados” (Evangelii Gaudium n. 272).




Senhor Jesus, “tu és o evangelizador por excelência e o Evangelho em pessoa”. Tu te identificaste especialmente com os mais pequeninos. Assim recordas a nós, cristãos e cristãs, de que somos chamados a cuidar dos mais frágeis da Terra. Desse modo, ajuda-nos a ter boa percepção da realidade ao nosso redor, a ter sensibilidade diante das necessidades dos outros, a reconhecer o outro, a ter preocupação com o outro para que ele atinja o seu bem almejado, principalmente se este se situar onde se situa a tua vontade, Jesus. Somos todos frágeis e limitados, mas, se nos dermos as mãos, teremos a tua força para avançar e gozarmos de grande proximidade contigo.

Sétima advertência: Não deixemos que nos roubem a força missionária

Existe o perigo de nos ser roubada a força missionária, mas, diante dessa tentação, Deus nos dá os meios para sairmos dela vitoriosos (cf. 1Cor 10,13). Paulo confessa que o Senhor lhe disse: “Para ti, basta a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder” (2Cor 12,9). Em vista disso, Paulo acrescenta: “Por isso eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e angústias, por causa de Cristo, pois quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12,10).

A pastoral decididamente missionária é fonte das maiores alegrias para a Igreja. “Sabemos bem que a vida com Jesus se torna muito mais plena e, com Ele, é mais fácil encontrar o sentido para cada coisa. É por isso que evangelizamos. O verdadeiro missionário, que não deixa jamais de ser discípulo, sabe que Jesus caminha com ele, fala com ele, respira com ele, trabalha com ele (…). Se uma pessoa não o descobre presente no coração mesmo da entrega missionária, depressa perde o entusiasmo e deixa de estar seguro do que transmite; faltam-lhe força e paixão” (Evangelii Gaudium n. 266). Com a força missionária, sendo necessário a ela o dom de nós mesmos, “talvez o Senhor se sirva da nossa entrega para derramar bênçãos noutro lugar do mundo, aonde nunca iremos” (Evangelii Gaudium n. 279).

Graças ao sacramento da Crisma, ganhamos “uma força especial do Espírito Santo para difundir e defender a fé pela palavra e pela ação, como verdadeiras testemunhas de Cristo, para confessar com valentia o nome de Cristo e para nunca sentir vergonha em relação à cruz” (Catecismo da Igreja Católica n. 1303).

Oremos: “O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus, para sempre. Amém” (Ap 7,12).

Senhor,
se eu nunca vesti um entusiasmo missionário tamanho “G”;
se eu já me deixei abater na alegria da evangelização;
se eu já deixei respingar em mim fagulhas de dúvida diante da beleza do tesouro imperdível da esperança;
se eu já causei alvoroço e deixei de somar dentro da comunidade;
se eu já desconsiderei a tua importância e a do teu Evangelho em minha vida e no meu modo de proceder;
se eu já passei por momentos em que nem dei bola ao ideal do amor fraterno;
se eu já me senti sem força na minha força missionária;
o que faço, o que faço?

A mim e a tantos outros que se veem pequenos, sem as melhores condições físicas e espirituais, apesar de tudo, Maria, “dá-nos a santa ousadia de buscar novos caminhos para que chegue a todos o dom da beleza que não se apaga. Estrela da nova evangelização, ajuda-nos a refulgir com o testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do evangelho chegue até os confins da terra e nenhuma periferia fique privada de sua luz. Mãe do Evangelho vivente, manancial de alegria para os pequeninos, roga por nós. Amém, Aleluia!” (Evangelii Gaudium n. 288).

Clemente Raphael Mahl
Conselho Nacional do Laicato do Brasil – Região Episcopal Sant’Ana – SP

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