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Fritjof Capra e a Nova Era: o físico austríaco que manipula conceitos científicos para defender misticismos

New Age

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Alexandre Zabot - publicado em 28/08/15

Perigosas doutrinas holísticas são mascaradas com muitos jargões da ciência

Alguns cientistas adeptos dos misticismos da Nova Era (ou, em inglês, New Age) têm conseguido muito espaço na mídia para veicular suas perigosas doutrinas holísticas mascaradas com muitos jargões científicos. Um dos adeptos mais conhecidos deste grupo é o físico austríaco Fritjof Capra, que fez muito sucesso com a publicação do livro “O Tao da Física” e também “O Ponto de Mutação”. Levando conceitos físicos maldosamente além de seus limites, o autor defende abertamente o fim do pensamento ocidental e o nascimento de uma “Nova Era”, quando, segundo ele, as pessoas estarão livres da mentalidade medieval e limitada de até então. Será uma era pós-cristã em termos de religião.

Para entender completamente o que é proposto por Capra, é preciso conhecer um pouco deste movimento chamado de “Nova Era”. Baseados em misticismos e religiões orientais, como budismo, hinduísmo e taoísmo, seus adeptos pregam o fim das tradições religiosas ocidentais e o início de um novo tempo (daí Nova Era), quando haverá uma religião universal que abarcará todas as crenças, num sincretismo total. Segundo eles, cada indivíduo se identifica com o todo, com o Universo, e está conectado com a natureza através de energias cósmicas misteriosas. Baseados nas tradições orientais, defendem a união entre o bem e o mal. Não há certo e errado, tudo passa a ser relativo. Conceitos cristãos como “bem absoluto” são vistos como excludentes de pessoas. Costumam dizer que ensinam uma verdadeira “ecologia cósmica” e atacam o cristianismo como fonte de mal para a natureza.

Pessoas de todas as áreas do conhecimento abraçam a filosofia da Nova Era, inclusive alguns físicos. Capra, sem dúvida, é o mais famoso deles. Ele defende que a Física Moderna, na Relatividade de Einstein, na Mecânica Quântica e na Cosmologia, “oferece, não raro, surpreendentes paralelos face às ideias expressas nas filosofias religiosas do Extremo Oriente” (O Tao da Física, pág. 21).  Para ele, a Igreja é a vilã responsável por alienar o mundo ocidental das visões holísticas místicas que são capazes de libertar o homem unindo a ciência com a religião. Segue, ainda, o velho discurso de que a Idade Média foi um período de ignorância graças à perversa defesa pela Igreja do modelo aristotélico. Segunda ele, essa influência maléfica só começou a terminar no Iluminismo, quando a humanidade se libertou de Aristóteles e da Igreja.

Todo este discurso, entretanto, é completamente falso. Nada na física leva ao misticismo oriental. Suas descobertas não passam de enunciados sobre a natureza. Dizer, como ele faz, que a ininterrupta interação entre as partículas fundamentais leva à conclusão de que o mundo está todo conectado é propagandear o óbvio, da mesma forma que é evidente que somos poeira das estrelas ou que é preciso estudar os ciclos naturais para entender a vida na Terra. Ou, ainda, que todos os seres vivos formam uma rede. Não há nada de moderno nisso, menos ainda de contraditório em relação ao cristianismo. Essas conexões não são mágicas: são físicas.

As “novas” interpretações propostas por ele exigem uma componente externa, não científica, mas ideológica. No caso, um repúdio ao cristianismo e uma falsa noção de harmonia entre as doutrinas panteístas orientais, a gnose e mais uma centena de outras filosofias. A física, enquanto verdadeira ciência, não tem meios de fazer afirmações espirituais como querem os adeptos da Nova Era. Apesar de eventualmente reconhecerem isto, maliciosamente usam fatos científicos para tentar apoiar suas ideias. De fato, é justamente aí que elas se tornam muito perigosos.

Uma análise criteriosa do livro “O Tao da Física” não seria capaz de apontar grandes erros de física. Pelo menos, creio, não encontraria mais do que em qualquer outro livro. A diferença é que Fritjof Capra usa a tática vil de colocar enunciados corretos de física seguidos de pensamentos filosóficos orientais. Desta forma, alguém menos treinado cientificamente, ou desavisado quanto ao marketing doutrinário, é levado a acreditar que a física dá base ao budismo ou ao hinduísmo, por exemplo; e pior: conduzido pelo pensamento antiocidental do autor, é levado a acreditar que o cristianismo está falido porque não se enquadra nas novas descobertas científicas. Isto, obviamente, não faz sentido algum. Basta ver que grandes cientistas foram cristãos muito piedosos e que os filhos da Igreja sempre participaram (e continuam a participar) ativamente do desenvolvimento da ciência, inclusive da Física Moderna.

As descobertas científicas se aplicam ao mundo material. Implicações filosóficas e espirituais podem ser traçadas a partir da perspectiva do conhecimento adquirido. Entretanto, isso deve ser feito com honestidade, mantendo-se as pessoas conscientes do “passo além” que está sendo dado. O cristianismo não é uma doutrina falida que não se adapta aos novos conhecimentos da ciência, como afirmam os defensores da Nova Era e Fritjof Capra. Antes, é a verdadeira fonte deles, já que foi a partir da civilização cristã ocidental que eles foram desenvolvidos. E esses conhecimentos, em especial a parte conhecida como Física Moderna, não têm qualquer incompatibilidade com a fé.

Tags:
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