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Ok, eu sei o que é um sacramento. Mas o que é um “sacramental”?

Fr Lawrence Lew OP CC

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O Fiel Católico - publicado em 16/09/15
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Você com certeza já usou muitos sacramentais. Alguns talvez façam parte da sua rotina. E é possível que haja vários guardados na sua casa, sabia?Os sacramentais têm grande valor de santificação e consagração, pois, por meio deles, Deus derrama sobre o homem suas bênçãos. Cremos que é da vontade do Senhor nos abençoar por intermédio da Igreja, e abençoar nossas casas, nossos corpos, nossos objetos. E onde existe a bênção de Deus, o demônio não pode tocar.

Ao entrar em uma igreja, impulsionado pela fé e pela beleza do ambiente que o cerca, o fiel católico se ajoelha diante do Sacrário, faz o Sinal da Cruz, molhando ou não a ponta dos dedos na água abençoada pelo sacerdote, repete uma a oração tradicional da Igreja, como o Pai-Nosso… E possivelmente nem sempre se tenha a noção exata de cada um destes atos. São os sacramentais.

Os Sacramentais estão bem perto, ao nosso alcance, e são de grande benefício espiritual, como pequenos canais de comunhão com o Santo Criador. A palavra Sacramental significa “semelhante a um Sacramento”, mas há grandes diferenças entre uma coisa e outra. Os Sacramentos (Batismo, Crisma, Eucaristia, Confissão, Unção dos enfermos, Ordem e Matrimônio) foram instituídos diretamente por Jesus Cristo para conferir a Graça santificante que apaga o Pecado e fortalece nossas almas, preparando-nos para a vida eterna no Céu. Já os Sacramentais não conferem a Graça à maneira dos Sacramentos, mas são como que vias para ela, e como tal ajudam a santificar as diferentes circunstâncias da vida humana. Os Sacramentais despertam no cristão sentimentos de amor santo e de fé. Diz o Catecismo da Igreja Católica (§1670-1667):

«Os Sacramentais (…) oferecem aos fiéis bem dispostos a possibilidade de santificarem quase todos os acontecimentos da vida por meio da Graça divina que deriva do Mistério Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. (…) A Santa Mãe Igreja instituiu também os sacramentais. Estes são sinais sagrados por meio dos quais, imitando de algum modo os sacramentos, se significam e se obtêm, pela oração da Igreja, efeitos principalmente de ordem espiritual. Por meio deles, dispõem-se os homens para a recepção do principal efeito dos sacramentos e são santificadas as várias circunstâncias da vida» (II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 60: AAS 56 (1964) 116: cf. CIC can. 1166; CCEO can. 867)

Os Sacramentais produzem seu efeito, no dizer teológico, ex opere operantis (pela ação daquele que opera), isto é, depende da boa disposição dos que os operam. Assim, para que haja um frutuoso efeito das graças dos Sacramentais, são necessárias nossa plena consciência e boa disposição ao recebê-los (o amor, a fé, o respeito e reverência, a reta intenção, o espírito de adoração, o comprometimento interno…).

Os sacramentais nos preparam para receber e cooperar com as graças que Deus nos concede. São, por si mesmos, – como o próprio nome indica, – atos fugazes e transitórios e, não permanentes, como no caso dos Sacramentos.

Quais são os Sacramentais?

Os Sacramentos da Igreja, como sabemos e vimos, são sete. Já os Sacramentais são numerosos, sendo que muitos teólogos os classificam em seis grupos:

Orans: basicamente são as orações que se costuma rezar publicamente na Igreja, como o Pai Nosso e as Ladainhas.

Tinctus: o uso da água benta e certas unções que se usam na administração de alguns Sacramentos e que não pertencem à sua essência.

Edens: indica o uso do pão bento ou outros alimentos santificados pela bênção de um Sacerdote.

Confessus: quando se reza o Confíteor, individual ou publicamente, para pedir perdão a Nosso Senhor por nossos pecados e falhas, das quais já não nos lembramos mais. Cremos que Deus, já neste ato, nos cumula de graças [1].

Dans: esmolas ou doações, espirituais ou corporais, bem como os atos de misericórdia prescritos pela Igreja. – Acima das esmolas que possamos dar, está o bem espiritual que possamos fazer ao próximo. Além desse ato ser um Sacramental, adquirimos uma série de méritos pela caridade fraterna e pelas outras virtudes que a acompanham.

Benedicens: as bênçãos que dão o Papa, os Bispos e os sacerdotes; os exorcismos; a bênção de reis, abades ou virgens e, em geral, todas as bênçãos sobre coisas santas.

Certos objetos bentos de devoção, como medalhas, velas e escapulários, também são considerados Sacramentais: o Crucifixo, a Medalha de Nossa Senhora das Graças e a Medalha de São Bento estão entre os maiores exemplos, sendo fundamental entender que não são “talismãs” nem “amuletos da sorte”, e sim sinais visíveis de nossa fé. Não agem automaticamente contra as adversidades, como se tivessem “poderes mágicos”, mas são como recursos auxiliares para nos unir ainda mais a Nosso Senhor e devem nos estimular no progresso da fé.

No caso do crucifixo, em sua forma clássica ou na versão de São Damião, representam nossa fé na palavra do Cristo, que diz que todo aquele que quiser segui-lo deve carregar a sua própria cruz. Sabemos muito bem que a cruz que devemos carregar não é esta pequena peça que trazemos ao pescoço, pendendo de um cordão ou de uma correntinha, mas é uma maneira de nos lembrarmos sempre disso, além de funcionar como uma espécie de testemunho de nossa fé.

Quantas graças, quantas dádivas da Santa Igreja à nossa disposição!

Efeitos dos Sacramentais

Os efeitos que produzem ou podem produzir os Sacramentais dignamente recebidos são muitos. Em geral:

• Obtêm graças atuais (temporais), com especial eficácia, pela intervenção da Igreja (ex opere operantis Ecclesiae).

Perdoam os pecados veniais por via de impetração, enquanto que, pelas boas obras que fazem praticar e pela virtude das orações da Igreja, excitam-nos aos sentimentos de contrição e atos de caridade.

• Às vezes, perdoam toda pena temporal dos pecados passados, em virtude das indulgências que costumam acompanhar o uso dos Sacramentais.

• Obtêm-nos graças temporais, se convenientes para nossa salvação. Por exemplo, a restauração da saúde corporal, a proteção numa viagem perigosa, etc.

“Não há uso honesto das coisas materiais que não possa ser dirigido à santificação dos homens e o louvor a Deus” (II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 61: AAS 56 (1964) 116-117)

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[1]. O Confíteor (‘Eu confesso’) é uma oração penitencial que tem origem nos primórdios do Cristianismo e em que nós, reconhecidos dos nossos pecados, buscamos a misericórdia e o perdão de Deus. O texto abaixo é a forma completa da oração, introduzida no rito da Missa no século XI. Na Missa atual é rezada uma versão abreviada, mantendo-se o costume tradicional de se bater no peito ao se recitar “minha culpa, minha tão grande culpa” (na versão abreviada) em sinal de humildade.

Confiteor Deo omnipotenti, beatae Mariae semper Virgini, beato Michaeli Archangelo, beato Ioanni Baptistae, sanctis Apostolis Petro et Paulo, et omnibus Sanctis, quia peccavi nimis cogitatione, verbo et opere: mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michaelem Archangelum, beatum Ioannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, et omnes Sanctos, orare pro me ad Dominum Deum nostrum. Amen.

Tradução:

Confesso a Deus Todo-poderoso, à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado João Batista, aos santos Apóstolos Pedro e Paulo, e a todos os santos, que pequei muitas vezes por pensamentos, palavras e ações, por minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa. Por isso, peço à bem-aventurada sempre Virgem Maria, ao bem-aventurado Miguel Arcanjo, ao bem-aventurado João Batista, aos santos Apóstolos Pedro e Paulo, e a todos os santos, que oreis por mim a Deus, Nosso Senhor. Amém.

Versão Abreviada (Missal de Paulo VI):

Confesso a Deus Todo-poderoso e a vós, irmãos, que pequei muitas vezes por pensamentos e palavras, atos e omissões, por minha culpa, minha tão grande culpa. E peço à Virgem Maria, aos Anjos e Santos, e a vós, irmãos, que rogueis por mim a Deus, Nosso Senhor.

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Fonte bibliográfica:

D’ELBOUX, Luiz G. Silveira. Doutrina católica 13ª ed., São Paulo: Loyola, 1997, pp. 96-98

(O fiel católico)

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