Aleteia logoAleteia logoAleteia
Domingo 10 Dezembro |
Nossa Senhora de Loreto
Aleteia logo
Religião
separateurCreated with Sketch.

Respeitai, amai e servi África na verdade!

hero-african-child-water-un-photo-sylvain-liechti-cc.jpg

UN Photo/Sylvain Liechti; UN Photo/Sylvain Liechti

Aleteia Brasil - publicado em 18/09/15

Declaração comum dos Bispos de África e de Madagáscar

Os bispos da África pedem o fim imediato das “campanhas imundas de promoção da civilização mundial da morte no continente”. Em um forte documento, divulgado com exclusividade por meio da Aleteia hoje, os bispos alertam sobre o “ressurgimento aterrador do espírito colonialista, disfarçado sob os nomes atraentes de liberdade, igualdade, autonomia, democratização e desenvolvimento”. Leia a seguir e divulgue.

Declaração comum dos Bispos de África e de Madagáscar

Tendo em vista os desenvolvimentos actuais no continente Africano, em perspectiva da Cimeira de 25 a 27 Setembro em Nova Iorque para adoptar um «desenvolvimento pós 2015 global».

Respeitai, amai e servi África na verdade

  1. Aos nossos Chefes de Estado e governos africanos,

Ao Secretário-Geral das Nações Unidas,

Aos Chefes de Estado e governos com os quais os nossos países tenham celebrado acordos bilaterais ou multilaterais,

Aos responsáveis das instituições pan-africanas,

Aos chefes das organizações internacionais,

Aos parceiros da governança mundiale financiadores

Aos filhos e filhas do nosso bem-amado continente africano.

2. Nós, Bispos de África e de Madagáscar, aqui representados pelos presidentes das nossas Conferências Episcopais, ou pelos bispos por eles mandatados, animados por um grande amor a Deus e a todos os homens, colocando a nossa confiança na Providência divina que faz tudo concorrer para o bem daqueles que procuram Deus, em íntima ligação, com a Igreja universal, de toda a família humana, consideramos ser nosso dever diante do Eterno, nesta hora critica da cooperação internacional, lançar a todos, mas mais particularmente aos dirigentes políticos e responsáveis dos organismos internacionais, este apelo urgente:

3. Tende a coragem e empenhai-vos em respeitar, amar e servir África em verdade! Não tenhais medo de vos abrir à contribuição humana e espiritual que o continente negro pode oferecer à humanidade, nesta hora em que a decadência moral teve como consequência, nos outros continentes, males que nós, africanos, não queremos! Protegei e defendei os valores ancestrais do nosso continente! Procurai e servi, antes de mais, o bem dos seus filhos e filhas! Renunciai à tripla sedução do prazer, do dinheiro e do poder!

4. Estamos unanimemente feridos, no mais íntimo do nosso coração de pastores, pelos ataques contra a vida, a família, o que é moral e sagrado, o sadio desenvolvimento humano dos nossos jovens, futuro de África, a plena realização das mulheres, o respeito pelos idosos, que nas nossas culturas africanas tem um sentido tão forte. Interesses egoístas e perversos impõem-se ao nosso continente a uma velocidade que não pára de aumentar, com uma agressividade que não pára de se reforçar, de forma cada vez mais organizada e financeiramente poderosa, introduzindo nas nossas sociedades um individualismo e um hedonismo totalmente estranhos ao que nós somos e queremos ser.

5. É por esta razão que vos imploramos de pôr fim às campanhas imundas de promoção da civilização mundial da morte no nosso continente. Trata-se de um ressurgimento aterrador do espírito colonialista, disfarçado sob os nomes atraentes de liberdade, igualdade, autonomia, democratização e desenvolvimento. Preservativos, contraceptivos, programas de educação sexual produzidos algures, puramente técnicos, sem referências morais, aborto alegadamente «sem riscos» tornaram-se mais acessíveis para os africanos do que as instruções sobre o desenvolvimento integral do qual temos uma necessidade vital. Já ninguém ignora que sob o eufemismo de «saúde e direitos sexuais e reprodutivos», estes programas são pura e simplesmente impostos como condição de ajuda ao desenvolvimento. O mesmo se passa com a «perspectiva do género», segundo a qual a maternidade, a identidade filial e esponsal do ser humano e da família, baseada no casamento entre um homem e uma mulher, seriam «estereótipos discriminatórios». Não, as mulheres e os homens em África não são indivíduos autónomos dos seus pais, esposos, filhos: mulheres, homens, crianças, todos somos pessoas, criados por amor e para o amor e todos fazemos parte de uma família e de uma comunidade unida de forma vital, ontológica e afectiva!

6. Cada africano está ciente da manipulação em curso. A África não se desenvolve em harmonia com a sua alma. Os agentes da civilização da morte utilizam uma linguagem ambivalente, seduzindo os decisores e as populações no sentido de estabelecer com eles parecerias com objectivos ideológicos. Envolvem o maior número possível nas «parcerias» das quais são na realidade os mestres. Aproveitam-se da pobreza, da fraqueza e da ignorância para submeter os povos e os governos à sua chantagem.

7. Nós, pastores africanos, não queremos que os africanos sejam reduzidos a «parceiros servis». Trata-se de uma nova forma de escravatura! Queremos que a dignidade dos nossos povos seja respeitada. Não, a África não é um imenso mercado potencial para a indústria farmacêutica dos contraceptivos e dos preservativos. Sim, a África está povoada com homens, mulheres e crianças dotadas de uma dignidade transcendente, de uma vocação magnífica e eterna. O povo africano tem hoje uma missão insubstituível para com a humanidade. Ele é amado por Deus! Hoje «a África é o pulmão espiritual da humanidade» declarou solenemente Bento XVI[i]. Mais de 50 anos depois da descolonização dos nossos territórios, não será já tempo de permitir aos povos africanos que se determinem livremente e ofereçam as suas próprias riquezas culturais à humanidade?

8. Observamos com profunda tristeza que as nossas instituições pan-africanas, desde a sua criação, têm estado sob o jugo de lobbies neocolonialistas. Em 2003, estes fizeram adoptar pela União Africana, acabada de nascer, o Protocolo da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos Relativo aos Direitos das Mulheres em África, o único tratado internacional que vergonhosamente reconhece o aborto como um direito das mulheres. Assim, apesar de mandatada para representar, servir e fazer que seja respeitado o povo de África, a UA vendeu a soberania dos povos africanos por alguns subsídios e uma miserável «ajuda técnica» vinda de fora e altamente tóxica para África. Em dez anos, 48 dos 54 estados africanos, sob pressão externa incessante, assinaram o Protocolo de Maputo, e 36 ratificaram-no. Determinados a aplicá-lo, as mesmas parcerias transnacionais da contracepção e do aborto exerceram a sua influência ao nível da Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, «órgão de supervisão» da aplicação dos tratados e protocolos da União Africana pelos Estados-membros.

9. Os pastores africanos tomaram conhecimento das Observações Gerais nº2 sobre o artigo 14.1 (a), (b), (c) e (f) e o artigo 14.2 (a) e (c) do Protocolo à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos relativo aos Direitos da Mulher em África[ii], que a Comissão adoptou em Maio de 2014. Constatámos com consternação a determinação dos verdadeiros autores dessas observações – o lobby transnacional dos «direitos reprodutivos» – de tudo fazer para que os Estados signatários do Protocolo legalizem ou despenalizem o aborto médico seguro, ou revejam as leis restritivas para as alargar; que proporcionem o «acesso universal» à «gama completa» dos contraceptivos modernos; que removam as barreiras aos serviços de saúde reprodutiva que consideram «fundados em ideologias ou crenças»(25); que integrem a saúde reprodutiva nos programas escolares (52), e os direitos sexuais e reprodutivos nos cursos de educação cívica (60); que «sensibilizem» os líderes religiosos e os chefes tradicionais sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres (44); que garantam a prestação de uma informação completa e de uma educação sexual aos adolescentes (51); e assim por diante. Com que direito as ONG’s ocidentais que representam apenas os seus interesses ideológicos afirmam ser juridicamente vinculativa para os Estados africanos a sua visão de mundo? Porquê esta programação e esta vontade de poluição e perversão generalizada do continente Africano?

10. Nós, pastores africanos, estamos cientes que as pressões vêm de todos os lados e não são apenas jurídicas. São também culturais, políticas, financeiras e económicas. As declarações políticas adoptadas nesta última década, ao nível da União Africana, contêm o mesmo programa. A Declaração de Addis-Abeba sobre a População e o Desenvolvimento em África, adoptada por todos os nossos países excepto o Chade, é cronologicamente a última. A Campanha para a Aceleração da Redução da Mortalidade Materna, Neonatal e Infantil em África, promove activamente a contracepção como meio de reduzir a mortalidade materna! Antes dela, o Plano da Acção de Maputo para a Implementação do Quadro de Orientação Continental para a Promoção da Saúde e dos Direitos Sexuais e Reprodutivos foi integralmente ditado pelos agentes da revolução sexual ocidental. Todas essas pressões políticas e económicas têm um único objectivo: o controlo e a redução drástica da população africana, a demolição planeada do casamento e da família. Nós, Africanos, devemos dizer categoricamente ‘não’ a esse plano que acaba por assassinar o nosso continente. «Estejamos atentos às novas formas de colonização ideológica», exorta-nos o Papa Francisco. «Existem colonizações ideológicas que procuram destruir a família. Não nascem do sonho, da oração, do encontro com Deus, da missão que Deus nos dá. Provêm de fora; por isso, digo que são colonizações. Não percamos a liberdade da missão que Deus nos dá, a missão da família E assim como os nossos povos, num determinado momento da sua história, chegaram à maturidade de dizer ‘não’ a qualquer colonização política, assim também como família devemos ser muito sagazes, muito hábeis, muito fortes, para dizer ‘não’ a qualquer tentativa de colonização ideológica da família»[iii]. Do mesmo modo, como podemos nós não lamentar a inclusão da «Introdução de uma educação sexual e reprodutiva completa adaptada à Idade» (par. 41) e do «acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e aos direitos em matéria de reprodução» na Posição Africana Comum sobre o Programa de Desenvolvimento para o pós-2015 da União Africana?

11. Os bilhões de dólares atribuídos à produção e distribuição de preservativos e contraceptivos, bem como à implementação de programas de educação sexual não respeitadores das normas morais universais são um escândalo que clama vingança aos céus, uma nova escravidão infligida pelo ídolo «dinheiro». O objectivo a alcançar é, em particular, controlar eficazmente o crescimento da população Africana, de acordo com o «modelo» ocidental, que actualmente acusa, na Europa, um crescimento zero.

12. Chegou a hora de desmistificar o que a linguagem da governança mundial[iv] chama de «apropriação nacional» e iniciativas «conduzidos pelos países». Não, esses programas nada têm de africano! Eles são, de A a Z, pilotados por agentes externos à África: desde a introdução de conceitos normativos do «desenvolvimento» tais como o «género» ou a «saúde reprodutiva», à redacção dos documentos políticos ou jurídicos[v], à sua adopção, depois à sua implementação e por fim à supervisão da sua aplicação. Fazemos apelo à responsabilidade dos africanos que, comprados pelo dinheiro, colaboram com esses programas hediondos e mortíferos. Convidamos com insistência os responsáveis políticos e religiosos, que têm a pesada tarefa de conduzir e de proteger as nossas populações africanas, a estudar com atenção e analisar com grande cuidado e responsabilidade os documentos, as estratégias e os programas de desenvolvimento da governança mundial. Estes documentos, mesmo se, na sua apresentação e formulação exterior, parecem procurar elementos de bem-estar e de prosperidade para todos, na realidade, quando integram, muitas vezes de maneira velada, a agenda da revolução sexual ocidental, são verdadeiros programas de destruição dos pobres e dos valores da humanidade, e não de desenvolvimento respeitador da dignidade e da sacralidade da pessoa humana e do bem-estar da família.

13. Nós pastores africanos, constatamos hoje com profunda tristeza que o programa de desenvolvimento mundial pós 2015, no seu actual estado de elaboração, continua na dinâmica das conferências do Cairo e de Pequim, e que vinte anos depois dessas conferências, as parcerias que se estabeleceram para as implementar, tornaram-se um poderosa força política e financeira. Mas essas «parcerias», nas quais se envolvem tão facilmente os nossos governos e as nossas populações, roubam aos africanos a sua liberdade soberana e traem a sua confiança!

14. Nós, bispos de África e Madagáscar, sabemos que as nossas preocupações são partilhadas por outras confissões religiosas, cristãs e muçulmanas, presentes no continente, e as religiões tradicionais africanas. São também as dos nossos povos, enraizadas nas culturas que celebram a beleza e a sacralidade da vida e da família. Autores e parceiros, africanos ou estrangeiros, dos programas da alegada «libertação sexual», ouvi a voz da vossa consciência! Despertai a vossa consciência! Recordai-vos que cada pessoa humana terá de prestar contas a Deus pelos seus actos.

15. O Papa São Gelásio I, um africano, escreveu em 494 numa carta dirigida ao imperador bizantino Anastácio I (491-518): «Peço-vos, Vossa Piedade, que não julgueis arrogante o que é dever para com a verdade divina. Espero que não se venha a dizer de um imperador romano que não soube tolerar que lhe recordassem a verdade. Há dois princípios, Imperador Augusto, pelos quais o mundo se rege: a autoridade sagrada dos pontífices e o poder real, e dos dois, é a carga dos sacerdotes a mais pesada, pois diante do tribunal de Deus, eles prestarão contas até mesmo pelos reis dos homens.Sabeis com efeito, Filho clementíssimo, que, mesmo reinando sobre o género humano, vós curvais, com devoção, a cabeça diante daqueles que presidem às coisas divinas, e esperais de entre eles os meios da vossa salvação».

16. O Estado e as organizações internacionais devem respeitar o que todos os homens e mulheres podem reconhecer como real, verdadeiro e bom na sua consciência e no seu coração. Devem honrar a transcendência, centralidade e superioridade em valor, da família fundada no casamento entre um homem e uma mulher, da maternidade e da vida, da religião. Devem servir os povos tais como são e querem ser, enraizados numa rica diversidade de culturas. Possam as políticas de desenvolvimento mudar radicalmente de rumo, neste sentido!

17. O nosso auspício, o nosso desejo, a nossa oração, o nosso empenho pastoral têm como fim que a África, nesta era de globalização, ofereça à humanidade de hoje a contribuição insubstituível que tem para oferecer à humanidade, segundo os dons que recebeu de Deus e que lhe são próprios.

Acra (Gana), 8-11 de Junho de 2015

[i] Homilia do Papa Bento XVI na Missa de abertura da II Assembleia Especial para África, Basílica Vaticana, 4 de Outubro de 2009.

[ii] http://www.achpr.org/fr/instruments/general-comment-two-rights-women/

As Observações foram redigidas com o apoio técnico do ramo africano de um lobby de origem americana, Ipas: outra confirmação, se fosse necessária, da origem estrangeira do protocolo, escrita em grandes letras nos muros das instituições pan-africanas.

[iii] Discurso do Santo Padre Papa Francisco, durante o encontro com as famílias, Manila, 16 de janeiro de 2015.

[iv] Uma parceria mundial multi-accionista com as Nações Unidas no seu centro.

[v] Referímo-nos aqui ao Protocolo à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos relativo aos Direitos da Mulher em África.

Apoiar a Aleteia

Se você está lendo este artigo, é exatamente graças a sua generosidade e a de muitas outras pessoas como você, que tornam possível o projeto de evangelização da Aleteia. Aqui estão alguns números:

  • 20 milhões de usuários no mundo leem a Aleteia.org todos os meses.
  • Aleteia é publicada diariamente em sete idiomas: inglês, francês,  italiano, espanhol, português, polonês e esloveno
  • Todo mês, nossos leitores acessam mais de 50 milhões de páginas na Aleteia.
  • 4 milhões de pessoas seguem a Aleteia nas redes sociais.
  • A cada mês, nós publicamos 2.450 artigos e cerca de 40 vídeos.
  • Todo esse trabalho é realizado por 60 pessoas que trabalham em tempo integral, além de aproximadamente 400 outros colaboradores (articulistas, jornalistas, tradutores, fotógrafos…).

Como você pode imaginar, por trás desses números há um grande esforço. Precisamos do seu apoio para que possamos continuar oferecendo este serviço de evangelização a todos, independentemente de onde eles moram ou do quanto possam pagar.

Apoie Aleteia a partir de apenas $ 1 - leva apenas um minuto. Obrigado!

PT300x250.gif
Oração do dia
Festividade do dia





Envie suas intenções de oração à nossa rede de mosteiros


Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia