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Arábia Saudita: cai a máscara (dela e do Ocidente ligado a ela)

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Aleteia Brasil - publicado em 29/09/15

O país tenta passar uma imagem de combate ao terrorismo jihadista, mas, não contente com prender, torturar e assassinar os seus opositores, ainda expõe os seus cadáveres em cruzes públicas até que eles apodreçam

A indignação internacional despertada em janeiro pela condenação do blogueiro Raif Badawi a mil chicotadas e dez anos de prisão foi reavivada neste mês com a notícia de que um jovem xiita de 21 anos foi condenado a ser enforcado e depois ter o corpo crucificado e exposto em público até o apodrecimento (!) por participar de protestos contra o governo em 2012, quando tinha 17 anos.

Na semana passada, um impressionante tumulto perto de Meca resultou em mais de 750 peregrinos mortos depois de serem pisoteados. Esse tipo de massacre não é incomum na história das peregrinações obrigatórias que todo seguidor do islã deve fazer a Meca pelo menos uma vez na vida, mas provocou a ira de todos os países muçulmanos, que apontaram falhas grosseiras na organização – a começar pelo Irã, arruinando os esforços de reconciliação entre a monarquia árabe sunita e a república iraniana xiita.

Além de tudo isso, a ONU enfrenta uma tempestade de protestos depois de ter nomeado a Arábia Saudita como – pasmem – cabeça do grupo consultivo do seu Conselho de Direitos Humanos – absurdo que equivaleria a dar ao ditador da Coreia do Norte o Prêmio Nobel da Paz.

A indignação é mais do que compreensível quando o mundo inteiro sabe que a Arábia Saudita é uma monarquia islamista e absolutista governada pela sharia, onde todo partido político é proibido e onde a mutawa, ou “polícia religiosa”, persegue toda religião que não seja o islã sunita (o próprio islã xiita só é tolerado em uma única província).

A monarquia saudita, no entanto, sabe que o Ocidente não quer correr os riscos de romper seu relacionamento com ela. O motivo é o petróleo, obviamente, mas também a certeza dos EUA e dos seus aliados de manter um pé no Golfo Pérsico graças a essa parceria com Riad.

A Arábia Saudita enviou o seu número dois da diplomacia (Nizar Al-Madani) para participar da marcha de protesto em Paris, no dia 11 de janeiro, pelos atentados contra a revista Charlie Hebdo, mas os casos recentes escancaram ainda mais a hipocrisia de um regime absolutista que usa a mais rigorosa interpretação do islã para sujeitar a sua população; um regime que, não contente com prender, torturar e assassinar os seus opositores, ainda faz questão de expor os seus cadáveres em cruzes públicas até que eles apodreçam; um regime que censurou até a revista National Geographic quando a sua capa trouxe o papa Francisco – um sujeito perigosíssimo para a incolumidade de qualquer ditadura, ainda mais uma ditadura que se ampara no uso extremista da religião para pisotear os direitos humanos.

Que tipo de “paz” se pode esperar de um mundo com “arranjos diplomáticos” dessa categoria?

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