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Analista francês de política estratégica: “Os ocidentais têm que parar de apoiar os jihadistas”

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Aleteia Brasil - publicado em 30/09/15

“Se a ONU apoiar a intervenção russa na Síria, a guerra pode acabar nos próximos meses”

Xavier Moreau é um analista francês de política estratégica que vive em Moscou há 15 anos. Ele acaba de publicar o livro “Ukraine, pourquoi la France s’est trompée” (“Ucrânia: por que a França se enganou”) e conversou com Aleteia sobre o atual panorama internacional.

Aleteia: Qual é a política atual da Rússia em relação à Síria?

Xavier Moreau: Esmagar o Estado Islâmico, pura e simplesmente. Em operações militares conjuntas com as forças de Assad, por terra, treinadas por instrutores russos. Este apoio militar prevê também o apoio aéreo de pilotos russos, porque os sírios ainda não estão treinados suficientemente para esse tipo de operação. Além disso, o compromisso da Rússia na Síria prevê o fornecimento de equipamentos, incluindo armas modernas que estão faltando no exército árabe sírio.

Aleteia: Nas redes sociais há imagens de soldados russos lutando com o exército sírio…

Alguns voluntários integraram o exército árabe sírio, mas não haverá envio de tropas regulares russas. Em primeiro lugar, porque a Rússia não quer reproduzir o Afeganistão, mas, principalmente, porque não é necessário. O exército sírio tem hoje quatro anos de experiência operacional. O que falta são os recursos materiais e o apoio aéreo. Esse tipo de apoio é conjunto com as operações por terra; do contrário, é inútil. Isso é exatamente o que pode ser observado nos bombardeios norte-americanos e franceses: são inúteis. Só uma ofensiva coordenada com tropas terrestres pode dar fruto.

Aleteia: É possível imaginar uma cooperação do exército francês com o exército sírio?

Não com este governo francês, mas é a única solução eficaz para dar resultados significativos. Se os russos se encarregarem, será suficiente. O necessário, acima de tudo, é que o Ocidente pare de apoiar os islamistas. É preocupante que os americanos não parem de esse apoio para enfraquecer um pouco mais a Rússia. O perigo é este: que o Ocidente jogue o islamismo contra os países laicos ou cristãos.

Aleteia: Como Putin pode negociar essa intervenção e como essa proposta será recebida?

O que ele fez é particularmente inteligente, já que existe um consenso mais ou menos firme sobre a erradicação do Estado Islâmico. Ele quer uma resolução da ONU para a luta contra o EI. Com isso, vamos poder observar quem apoia os islamistas e quem realmente os está combatendo. Não devemos esquecer que a prioridade de Washington e de Paris é sempre a queda de Bashar al-Assad! O que os incomoda é que, se a Rússia se envolve, o Estado Islâmico pode ser derrotado e Assad pode permanecer no poder. Depois da Ucrânia, seria mais um revés para a diplomacia ocidental.

Aleteia: Existe o risco de que a França fique isolada?

Sim. Os americanos são muito táticos do ponto de vista diplomático. Eles são capazes de dar um giro de 180°. Mesmo que obedeçamos aos americanos, eles não nos mantêm a par de nada. Se amanhã Washington decidir deixar Assad em paz na Síria, eles vão deixar Paris diante de um fato consumado, deixando os franceses abandonados à sua sorte.

Aleteia: Se a ONU apoiar a intervenção russa na Síria, a guerra pode acabar nos próximos meses?

Acho que sim. Para chegar a Palmira, os terroristas islâmicos fizeram 300 quilômetros pelo deserto. Como é que os Estados Unidos e seus aliados permitiram isso? E como é que os jihadistas puderam manter um fluxo logístico em Palmira sem que os aviões americanos acabassem com ele? Esta não é a Guerra do Vietnã. O Estado Islâmico não tem a selva para se esconder. Ele é extremamente vulnerável em comparação com o Vietnã. Mas, se os russos assumirem o controle das coisas, o resultado será diferente. Especialmente porque os terroristas islâmicos não estão ligados à terra da Síria como os soldados do exército sírio. Os jihadistas irão para outro lugar. A questão é qual.

Aleteia: Há dois protagonistas importantes, que são Netanyahu e Erdogan, recentemente recebidos no Kremlin. Que tipo de relação Putin está tentando construir com eles?

Putin faz diplomacia verdadeira: ele quer chegar a acordos. Com o chefe de Estado turco, o presidente russo deve ter abordado a questão do projeto de gasodutos através da Turquia, que deve ignorar a Ucrânia. Recentemente, houve protestos na Macedônia, que seria atravessada pelo gasoduto. Temos que ver a intervenção dos Estados Unidos para impedir esse projeto. Quanto a Israel, são os estados modernos que representam uma ameaça. O Estado Islâmico não é um problema para o seu exército moderno. Mas o islamismo é uma boa maneira de desestabilizar países laicos de forte potencial, como o Iraque, a Líbia e agora a Síria. No entanto, o armamento despejado pela Rússia na Síria preocupa Israel, pois poderia torná-la um dos países mais fortes da região, capaz de desafiar o Estado judeu. Netanyahu irá querer garantias de Putin de que as armas entregues à Síria não se voltem um dia contra ele. E o presidente russo deve ter tido necessariamente que lhe dar satisfação.

Tags:
Estado IslâmicoGuerraMundoPolítica
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