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Fé e ciência: 35 jesuítas merecidamente no mundo da lua!

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Aleteia Brasil - publicado em 10/10/15

Eles contribuíram muito para a ciência e, como homenagem, seus nomes batizaram 35 crateras lunares

Os jesuítas

No dia 27 de setembro de 1540, o papa Paulo III aprovou a Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola. Como se já não bastasse a incrível obra de catequização empregada pelos clérigos jesuítas, como nosso apóstolo São José de Anchieta e inúmeros outros, eles também nos deram uma vasta contribuição científica nas mais diversas áreas.

Jonathan Wright, historiador, em seu livro The Jesuits Missions, Myths and Histories (Londres, 2004) escreve que no século XVIII os jesuítas:

“Contribuíram para o desenvolvimento dos relógios de pêndulo, dos pantógrafos, dos barômetros, dos telescópios refletores e dos microscópios, e trabalharam em campos científicos tão variados como o magnetismo, a ótima e a eletricidade. Observaram, em muitos casos antes de qualquer outro cientista, as faixas coloridas nas superfícies de Júpiter, a nebulosa de Andrômeda e os anéis de Saturno. Teorizaram acerca da circulação do sangue (independentemente de Harvey), sobre a possibilidade teórica de voar, sobre a maneira como a lua influi nas marés e sobre a natureza ondulatória da luz. Mapas estelares do hemisfério sul, lógica simbólica, medidas de controle de enchentes nos rios Pó e Adige, introdução dos sinais mais e menos na matemática italiana – tudo isso foram realizações jesuíticas, e cientistas influentes como Fermat, Huygens, Leibnitz e Newton não eram os únicos a ter jesuítas entre os seus correspondentes mais apreciados”.

Quando Charles Bossut, um dos primeiros historiadores da matemática, compilou uma lista dos matemáticos eminentes de 900 a. C. até 1800 d. C., 16 de 303 pessoas listadas eram jesuítas. Parece pouco (5%), mas na verdade é extraordinário! Ora, é só avaliar que os jesuítas apareceram somente nos dois últimos séculos e meio de vinte e sete séculos avaliados pelo estudo! Através deles a ciência ocidental foi introduzida na China e na Índia. No primeiro país, por exemplo, segundo Agustín Udías (Searching the Heavens ant the Earth: The History of Jesuit Observatories, Dordrecht, Holanda, 2009):

“Chegaram em uma época em que a ciência em geral, e a matemática e a astronomia em particular, tinham ali um nível muito baixo, se comparadas com o nascimento da moderna ciência na Europa. Fizeram esforços enormes para traduzir as obras ocidentais de matemática e de astronomia para o chinês e despertaram o interesse dos estudiosos chineses por essas ciências. Fizeram extensas observações astronômicas e levaram a cabo o primeiro trabalho cartográfico moderno na China. Também aprenderam a apreciar as conquistas científicas dessa antiquíssima cultura e difundiram-nas na Europa. E foi graças à sua correspondência que os cientistas europeus tiveram notícia, pela primeira vez, da ciência e da cultura chinesas.

Alguns anticlericais ou anticristãos dirão que isso foi há muito tempo e que nos séculos mais recentes não existiu uma contribuição grandiosa por parte dos jesuítas. Errado! A partir do século XIX, eles montaram observatórios destinados a estudos de astronomia, geomagnetismo, meteorologia, sismografia e física solar, e isso introduziu a medida acurada do tempo, permitindo fazer previsões climáticas (de suma importância no caso de tufões e furações) e avaliar o risco de terremotos, fornecendo também os primeiros dados cartográficos. Na América Latina, trabalharam principalmente com meteorologia e sismologia (a “ciência dos jesuítas”). O desenvolvimento científico proporcionado vai do Equador até o Líbano e as Filipinas!

Um dado muito interessante para a compreensão da ciência desenvolvida pelos jesuítas é este:

Você sabia que 35 crateras na lua têm nomes de jesuítas famosos, do século XVI ao XX?

Bettinus (71,4 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Mario Bettini (1582 – 1657), um astrônomo e matemático italiano e um dos mais ferozes críticos do método dos indivisíveis de Cavalieri.

Billy (45,7 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Jacques Billy (1602 – 1679), matemático francês, professor em diversos colégios jesuíticos e reitor dos colégios de Langres, Sens e Châlons.

Blancanus (105,3 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Giuseppe Biancani (1556 – 1624), matemático italiano que lecionou durante 20 anos em Parma e em outras cidades da Itália.

Boscovich (46 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Rudjer Boscovich (1711 – 1787), astrônomo italiano que lecionou matemática no Colégio Romano e na Universidade de Pavia, além de lhe terem sido confiadas missões científicas pelos papas, pelos magistrados de Luca e pelo imperador da Áustria. Nomeado por Luís XV o diretor de ótica da Marinha em Paris, é autor da teoria do atomismo dinâmico sobre a constituição dos corpos. Foi um dos primeiros europeus a adotar a teoria da gravitação de Newton e deduzir suas conclusões. Em 1760 fora admitido na Royal Society de Londres. Leia mais

Cabeus (98,4 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Nicolau Cabei (1586 – 1650), físico italiano que lecionou matemática e filosofia em muitas cidades italianas, profundo conhecer da hidrostática e hidrodinâmica, prestando sua contribuição ao duque de Módena e à cidade de Ferrara. Dedicou-se principalmente ao estudo do magnetismo.

Clavius (225 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Cristóvão Clávio (1537 – 1612), matemático alemão que lecionou por doze anos no Colégio Romano, escrevendo uma tradução latina de Elementos de Euclides, Astrolábio (pioneiro na construção plana do triângulo esférico), Geometria Prática. Colaborou na reforma do calendário gregoriano.

Cysatus (48,8 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Jean-Baptiste Cysat (1588 – 1657), matemático e físico suíço que lecionou matemática em Ingolstadt, reitor dos colégios de Lucerna, Innsbruck e Aich Staedt, foi um dos pioneiros em afirmar as órbitas regulares, retilíneas e não circulares dos cometas, observando em 1631 a passagem de Mercúrio pelo Sol (só observada por mais três ou quatro astrônomos).

De Vico (20,3 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta François de Vico (1805 – 1848), astrônomo italiano, trabalhando no Observatório do Colégio Romano, no de Georgetown (EUA) e descobriu novos cometas, fazendo importantes observações sobre Vênus, os satélites de Saturno e nebulosas.

Fenyi (39 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Gyula Fenyi (1845 – 1927), astrônomo húngaro e instrutor de química, matemática, física e história natural em Kalocsa, servindo no seu Observatório. Era conhecido por seus estudos com relação ao Sol, sendo o primeiro a demonstrar a relação entre o número de proeminências solares e as manchas solares. Foi da Academia Húngara de Ciências.

Furnerius (125,2 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Georges Fournier (1595 – 1652), geógrafo e matemático francês, conhecendo também técnicas navais e promovendo um embasamento científico ao design dos navios. Ensinou René Descartes.

Grimaldi (410 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Francesco Grimaldi (1618 – 1663), físico italiano que após ter lecionado letras clássicas dedicou-se às ciências exatas, colaborando com o pe. Riccioli no estudo das crateras lunares, pressentindo também o movimento ondulatório da luz, mencionando em sua obra Physico-mathesis de lumine, coloribus et iride, aliisque annexis, libri II (1665) a sua descoberta: a difração da luz.

Griemberger (93,6 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Cristóvão Griemberger (1561 – 1636), matemático austríaco que lecionou durante 28 anos da Áustria e em Roma, sucedendo Clávio no Colégio Romano.

Hagen (55,5 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Johann Hagen (1847 – 1930), físico e matemático austríaco, sendo diretor do Observatório do Colégio de Georgetown, dedicando-se ao estudo das estrelas variáveis. Nomeado por São Pio X em 1906 o diretor do Observatório do Vaticano, a fim de levantar a Carta Celeste entre 55º e 64º iniciada no pontificado de Leão XIII. Foi membro da Sociedade Astronômica Italiana e sócio honorário da Academia Pontifícia de Ciências, da Royal Society, entre outras. Recebeu a medalha de ouro da Academia Pontifícia em 1926.

Hell (33,3 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Maximiliano Hell (1720 – 1792), astrônomo húngaro que lecionou matemática na Transilvânia e durante 36 anos trabalhou no Observatório de Viena. Observou na Lapônia a passagem de Vênus pelo Sol, resultando no conhecimento das verdadeiras distâncias dos planetas.

Kircher (72,5 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Athanasius Kircher (1602 – 1680), profundo conhecedor da física e da matemática alemão, lecionando em Würzburg e no Colégio Romano (durante oito anos). Desceu no interior do Vesúvio, inventou a lanterna mágica e auxiliou a Egiptologia (ciência da qual é considerado o pai) de forma decisiva, descobrindo sem a Pedra de Roseta que os hieróglifos tinham valor fonético.

Kugler (65,8 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Franz Kugler (1862 – 1929), químico, matemático e assiriologista alemão, professor de matemática em Valkenburg na Holanda. Conhecido por seus estudos com relação às tábuas cuneiformes e a astronomia babilônica.

Malapert (69 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Charles Malapert (1581 – 1630), matemático belga reitor do colégio de Arras e professor de matemática na Polônia e em Douai. Chamado pelo rei Filipe IV da Espanha para lecionar em Madri quando faleceu, durante a viagem.

Mayer (38 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Christian Mayer (1719 – 1783), matemático alemão que lecionou em Heidelberg, dirigindo-se a São Petersburgo a pedido de Catarina II para observar a passagem de Vênus, construindo um observatório astronômico em Schwezingen e Manheim. Foi membro das academias científicas de Manheim, Munique, Londres, Bolonha e Gottingen.

McNally (47,5 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Paul McNally (1890 – 1955), astrônomo americano diretor do Observatório de Georgetown, participando de expedições de eclipse solar patrocinadas pela National Geographic. Foi também o regente da Escola de Medicina da Universidade de Georgetown.

Moretus (114,4 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Theodore Moret (1602 – 1667), matemático belga que trabalhou por muito tempo em Praga, onde foi autor das primeiras dissertações matemáticas defendidas e se correspondeu com grandes cientistas do seu tempo, inclusive outros jesuítas.

Petavius (176,6 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Denis Petau (1583 – 1652), teólogo francês que defendeu com sucesso duas teses na Universidade de Paris não só em latim, mas em grego, ensinando posteriormente retórica em Reims, La Flèche e em Clermont. Foi chamado para lecionar história eclesiástica em Madri por Filipe IV e para ser cardeal por Urbano VIII.

Riccioli (145,5 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Giambattista Riccioli (1598 – 1671), astrônomo italiano conhecido como o mais famoso do século XVII por Montferrier. Lecionou letras clássicas, filosofia e teologia, tornando-se totalmente dedicado à astronomia com um cientista eminente. Escreveu um sistema intermediário entre o de Ptolomeu e o de Copérnico.

Mapa lunar de Riccioli

Riccius (70,6 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Mateus Ricci (1552 – 1610), matemático e geógrafo italiano, estudando matemática com Clávio e partindo para uma missão na China, onde desenvolveu muito a ciência por ali, desenhando doze mapas-múndi e construindo globos terrestres, relógios e pêndulos, sendo uma referência constante na Corte. Leia mais

Rodes: Em homenagem ao jesuíta Luís Rodés (1881 – 1939), astrônomo espanhol que lecionou física em Barcelona, dirigiu o Observatório de Ebro, participou de Congressos Astronômicos de 1922 a 1938 em Roma, Madri, Cambridge, Praga, Estocolmo, Lisboa, Paris, etc. Membro das Sociedades Astronômicas da Espanha, França, Alemanha e Estados Unidos, pertenceu à Comissão Internacional da atmosfera solar, do Instituto de Coimbra e Comissão Espanhola de astronomia, geodésica e geofísica. Foi correspondente da Real Academia de Ciências e Artes de Barcelona e da Academia de Ciências de Portugal.

Romana (33,6 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta António Romaña (1900 – 1981), matemático espanhol doutorado na Universidade de Madri. Trabalhou no Observatório de Viena, foi encarregado em 1934 da seção de magnetismo e eletricidade terrestre e atmosférica do Observatório de Ebro, sucedendo Rodés na direção. Participou de Congressos Científicos da Colômbia à Alemanha, sendo secretário da União Nacional de Astronomia, chefe da seção de astronomia do Instituto Nacional de Geofísica e presidente da seção astronômica-geodésica-geofísica da Associação Espanhola para o Progresso da Ciência. Presidiu a Comissão Espanhola para a reforma do calendário e participou nas comissões da União Internacional de Geodésica e Geofísica para o estudo da força magnética horizontal, ionosfera equatorial e influência lunar nos fenômenos meteorológicos, magnéticos e elétricos.

Scheiner (110,4 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Cristóvão Scheiner (1575 – 1650), astrônomo suíço que lecionou matemática em Ingolstadt, Freiburg e Roma. Foi reitor do Colégio de Neiss e professor de matemática do duque Maximiliano. Ensinou um sistema intermediário entre Copérnico e Galileu. Afirmou que os dias e noites eram produzidos pelo movimento da Terra e as estações pelo movimento do Sol. Estudou as manchas solares e aperfeiçoou o pantografo.

Schoenberger (85 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta George Schoenberger (1596 – 1645), matemático austríaco que lecionou por nove anos em Freiburg, sendo reitor em Praga e Olmutz.

Secchi (22,7 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Angelo Secchi (1818 – 1878), célebre astrônomo italiano, diretor do Observatório do Colégio Romano, ampliando suas instalações e aperfeiçoando com aparelhos sofisticados. Estudou as estrelas duplas dos catálogos de Herschel e Struve e as nebulosas de Libra, Andrômedra e Hidra. Desenhou a nebulosa de Órion. Pesquisou a composição física do Sol e analisou quimicamente suas protuberâncias. Estudou a espectroscopia das estrelas e cometas, publicando numerosos artigos inclusive na Academia de Ciências de Paris. Foi membro da comissão Geodésica Internacional, da Royal Society e das Academias de São Petersburgo, Berlim, Bruxelas, Madri e Filadélfia. Foi oficial da Legião de Honra, nomeado professor de astrofísica da Universidade de Roma e membro do Conselho Diretor da meteorologia italiana, eleito presidente.

Simpelius (70,4 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Hughues Semple (1596 – 1654), matemático escocês, professor de matemática na Espanha e reitor do Colégio Escocês de Madri.

Sirsalis (42 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Gerolamo Sersale (1584 – 1654), astrônomo e selenógrafo italiano, desenhou um mapa relativamente preciso da Lua em 1650.

Stein (33,7 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Johan Stein (1871 – 1951), astrônomo holandês, atuando como professor e posteriormente assistente no Observatório do Vaticano. Ensinou matemática em Amsterdam por 20 anos. Tornou-se diretor do Observatório em 1930, modernizando-o. Recebeu a Ordem do Leão da Holanda pela rainha Juliana.

Tacquet (6,6 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta André Tacquet (1612 – 1660), matemático belga que lecionou em Lovain e Antuérpia.

Tannerus (28,6 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Adam Tanner (1572 – 1632), matemático e filósofo austríaco, teólogo em Ingolstadt.

Zucchius (64,2 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Nicolau Zucchi (1585 – 1670), astrônomo e matemático italiano que lecionou muito tempo no Colégio Romano, sendo embaixador de Fernando II. Descobriu em 1630 as manchas de Júpiter por meio do seu telescópio.

Zupus (38 km de diâmetro): Em homenagem ao jesuíta Giovanni Battista Zupi (1590 – 1650), astrônomo e matemático italiano que descobriu pioneiramente que Mercúrio possui fases orbitais, demonstrando que o planeta orbita o Sol.

Este artigo foi publicado originalmente pelo blog Castelo Histórico

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