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A “piada séria” que o papa Francisco contou aos líderes judeus

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Ary Waldir Ramos Díaz - publicado em 30/10/15

Claudio Epelman, diretor do Congresso Judaico Latino-Americano e amigo do papa, nos explica a simpática anedota

O papa Francisco recebeu na Casa Santa Marta nesta última quarta-feira, 28 de outubro, seis dos principais líderes judeus do mundo. O encontro aconteceu antes da audiência geral inter-religiosa por ocasião do 50º aniversário da declaração “Nostra Aetate”, do Concílio Vaticano II, sobre as relações entre a Igreja e as religiões não cristãs.

Participou da audiência privada com Francisco o argentino Claudio Epelman, diretor executivo do Congresso Judaico Latino-Americano, que conversou com Aleteia e relatou que, durante o encontro, o papa contou uma piada, com seu estilo direto, para explicar o vínculo histórico entre católicos e judeus.

“O papa nos contou a história de um padre que era muito antissemita. No domingo, ele chegou para a missa e começou a homilia atacando profundamente, virulentamente os judeus”, explicou Epelman. “De repente, a igreja estremece, a pregação é interrompida… Jesus desce da cruz. Ele volta o rosto, olha para a Virgem Maria e diz: ‘Mamãe, vamos embora. Parece que não somos bem-vindos por aqui’”.

Pois é: Jesus, Maria e José eram judeus.

O papa já tinha contado esta anedota em setembro de 2013, quando, por ocasião do ano novo judeu, recebeu os líderes do Congresso Mundial Judaico em visita ao Vaticano.

“Essa história tão simples, contada de novo pelo papa, eu acho que dá uma ideia muito profunda do que significa essa origem comum das duas comunidades de fé”, declarou Epelman, que tinha estado presente também naquele encontro.

Bom humor nas relações

Horas depois da reunião com o papa, o presidente do Congresso Judaico Mundial, Ronald Lauder, disse à imprensa que “as relações entre católicos e judeus nunca foram melhores em todos os seus dois mil anos de história”. É uma relação que passa também pelo bom humor. Em 2013, os “irmãos maiores do cristianismo”, como os chamava São João Paulo II, disseram ao papa argentino recém-retornado da JMJ no Brasil que ele tinha realizado um prodígio: “Agora os brasileiros gostam de um argentino. Isto é um milagre!”.

Lições da inédita audiência inter-religiosa

Epelman falou sobre o significado do evento desta quarta-feira na Praça de São Pedro em memória do dia 28 de outubro de 1965, quando Paulo VI aprovou o documento que mudaria as relações entre a Igreja católica e as religiões não cristãs.

“O que o papa Francisco realizou no dia de hoje eu acho que é um fato transcendental na história das relações entre judeus e católicos. O fato de estar presente uma delegação de 150 líderes judeus de mais de 60 países ao redor do papa é importante”.

“Nós o acompanhamos no momento em que ele se dirigia ao público católico manifestando como os homens de fé devem se relacionar com os judeus e com as pessoas de outras religiões. É verdadeiramente um ponto alto em nossas relações”.

“Foi um dos momentos mais transcendentais de que eu tive a oportunidade de participar durante a relação de trabalho que já dura muitos anos entre as duas comunidades de fé”.

Como a Nostra Aetate mudou as relações entre a Igreja católica e a comunidade judaica?

“Durante quase dois mil anos, a relação entre católicos e judeus foi estigmatizada. Nós, judeus, sofremos perseguições, discriminação, a inquisição, as expulsões dos países. Depois de quase dois mil anos, de repente, a história parou e o marcador voltou para o zero. Abriu-se uma oportunidade de diálogo positivo, de reconciliação, de fraternidade e de descoberta de algo que foi maravilhoso, que é a relação entre judeus e católicos, unidos por uma raiz comum, como recorda o papa quando diz que um católico não pode ser antissemita porque todos os cristãos têm raízes judias”.

Amigos de longa data

Sobre a velha amizade entre o arcebispo Bergoglio e as comunidades judaicas de Buenos Aires, Epelman destacou: “Tive a oportunidade de conhecê-lo há muitos anos. E, desde que o conheci, eu entendi que o momento mais sensível da vida pessoal dele tinha a ver com o Natal. Comecei a acompanhá-lo na missa natalina. Ele nos convidava a jantar num ambiente muito simples, característico de Francisco, com muita humildade, com muita simplicidade. Compartilhávamos a ceia de Natal e, assim, ao longo de muitos anos, construímos um vínculo pessoal com ele”.

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