Restauração arqueológica do “Cárcere de São Pedro” em Roma trouxe revelações além de toda expectativa sobre São Pedro e a antiguidade pagã(Para ler a 1ª parte do artigo, clique aqui)
Entre os mistérios que ficam a serem esclarecidos, um é a conexão entre o cárcere e a sinistra Scalae Gemoniae.
Isto é, a escadaria que saindo do Foro era percorrida pelos condenados a morte. O nome vem do verbo “gemer” = a escadaria dos gemidos.
Naquela escadaria também eram expostos os cadáveres dos justiçados e que depois eram jogados no rio Tibre.
O sinistro cárcere está composto por dois andares de desenho vagamente circular, um sobre o outro.
Prisão de São Pedro após restauro 2010 |
O superior, ou“Carcere Mamertino”propriamente dito, foi cavado pelo quarto rei de Roma Anco Marcio (640-616 a.C.).
O andar inferior, dito Tullianum, teria sido feito por Servio Tullio, sexto rei de Roma (578-534 a.C.).
Ali se encontra a fonte de São Pedro.
Os trabalhos arqueológicos confirmaram se tratar de um verdadeiro manancial que não está ligado a conduto nenhum.
Segundo a Dra. Patrizia Fortini que dirige os trabalhos de restauração empreendidos a partir de 1985, segundo noticiou o jornal italiano La Repubblica, a “fonte está ativa até hoje e somente com bombas consegue-se impedir que alague todo o ambiente”, acrescentou.
Afresco recuperado: Cristo apoia sua mão no ombro de São Pedro enquanto abençoa |
Também no andar inferior foram exumados restos de sacrifícios pagãos dos séculos VI a III a. C., provavelmente oferecidos pelos insignes prisioneiros a seus falsos deuses que, aliás, não os tiraram da desgraça.
Esse andar inferior foi cárcere até que no ano 314 o papa São Silvestre I (270-335) o transformou em local de culto com o título deSan Pietro in Carcere.
Por sinal, San Silvestre foi o primeiro sucessor de São Pedro a cingir a tiara, símbolo também da realeza do Papa sobre a cidade de Roma e dos Estados Pontifícios.
Entre os afrescos agora desvendados figura o de Cristo apoiando sua mão esquerda sobre o ombro de São Pedro enquanto este com expressão sorridente levanta a mão direita para abençoar (foto).
A imagem do Príncipe dos Apóstolos que sorri triunfante sobre a brutalidade pagã jamais tinha sido vista em outros locais.
A pintura também transparece o comprazimento de Cristo transmitindo seus poderes a Pedro e seus sucessores.
A barba de São Pedro é representada como espuma branca e suas vestimentas exibem cor ocre por uma degradação da cor azul original.
Afresco recuperado apresenta muros de Roma medieval |
Também pode se perceber netamente uma coroa, parte de um afresco da coroação de Nossa Senhora.
Um grande manto vermelho e uma pequena mão fazem pensar na“Madonna della Misericordia”,testemunho da devoção a Nossa Senhora nos tempos medievais.
Em outras cenas, malgrado o estrago irreparável do tempo, podem se distinguir torres e muralhas da Roma medieval, inclusive da praça do Campidoglio, provavelmente feitas entre os anos 1100 e 1300.
O fragmento mais antigo é do século VIII-IX, está no “Tullianum”, e representa a mão de Deus Pai sobre um retângulo branco.
A mão de Deus que conduziu São Pedro e seus sucessores à vitória sobre a Roma pagã é a mesma mão que guia a marcha invicta da Igreja contra todos seus adversários até a consumação dos séculos.