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Uma lição do papa Francisco aos extravagantes líderes do Quênia

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Anadolu Agency

SIAME - publicado em 28/11/15

Sem precisar pronunciar a palavra CORRUPÇÃO, Francisco deixa claro qual é o sentido do serviço ao povo

Os gestos dizem mais que mil palavras. E, quando se trata de um país esmagado pela corrupção, a simplicidade do papa Francisco arrasa a parafernália oficial. Jornais impressos, sites e televisão do Quênia deram ampla difusão ao mesmo comentário: Francisco deu à esbanjadora classe política nacional uma lição de humildade.

A mídia da capital, Nairóbi, enfatizou o contraste entre a comitiva oficial do presidente Uhuru Kenyatta, composta por “um longo comboio de veículos caros de marcas como Mercedes, Toyota, Land Cruiser e Range Rover, todos sob manutenção dos contribuintes do Quênia”, enquanto o papa Francisco usou um modelo popular no país: um Honda Ballade.

Não só os cidadãos em geral ficaram espantados vendo o papa a bordo de um carro modesto diante do espalhafato dos políticos, como os comentaristas dos programas de TV soltaram observações espontâneas de surpresa: “It’s a Honda… Yes, it’s a Honda!”.

O Quênia é um dos países mais feridos pela corrupção e pela opacidade no continente africano. Os ativistas políticos opositores ao regime afirmam que, no governo de Uhuru Kenyatta, a corrupção é galopante e irrefreável, com perdas estratosféricas que aumentam a miséria do povo. O suborno é moeda corrente. Os índices de corrupção divulgados pela Transparência Internacional colocam o Quênia entre os piores do mundo. Nas enquetes, os quenianos dizem considerar a polícia, o judiciário e os políticos locais como os mais corruptos. Nos escalões mais altos do poder, os golpes midiáticos desviam as atenções para funcionários de nível mais baixo. O próprio presidente do país divulgou uma “Lista da Vergonha” com nomes de servidores acusados de corrupção – nenhum dos nomes, porém, era dos políticos poderosos que enriqueceram inexplicavelmente graças ao simples fato de fazerem parte do governo.

E qual foi o tema central do discurso do papa Francisco diante de juízes, deputados, senadores, ministros e do presidente do Quênia?

Sem sequer pronunciar a palavra “corrupção”, o pontífice puxou as orelhas do país denunciando “o mal que estremece a nação” e recordando as obrigações dos responsáveis pelos destinos políticos do Quênia:

“Eu os encorajo a trabalhar com integridade e transparência pelo bem comum e a fomentar um espírito de solidariedade em todos os âmbitos da sociedade. Eu os exorto, em particular, a se preocuparem verdadeiramente com as necessidades dos pobres, com as aspirações dos jovens e com a justa distribuição dos recursos naturais e humanos com que o Criador abençoou o seu país”.

O presidente se viu obrigado a tocar no assunto, ainda que de modo a eximir-se. Uhuru Kenyatta afirmou perante o papa:

“A corrupção desvia recursos e divide o nosso povo. Rouba a nossa segurança, a prosperidade e a nossa saúde. A corrupção nos coloca uns contra os outros, nos tira a esperança e nos assassina. A sociedade civil, os meios de comunicação, os líderes dos quatro cantos do país, todos nós, quenianos, sabemos que temos de vencer esta guerra contra a corrupção… Santo Padre, reze por nós enquanto lutamos esta guerra”.

A admiração pela singeleza do papa, entre os quenianos, não se deve apenas ao carro que ele usou. Francisco despertou um debate nacional sobre o sentido do serviço ao povo e sobre como os recursos e bens devem ser empregados para garantir este serviço.

Mais algum país a fim de admitir que o chapéu lhe serve?

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