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Paquistão discute se deve armar professores para fazer frente a ataques talibãs

Attentat Pakistan – pt

© STR / AFP

Agências de Notícias - publicado em 26/01/16

O paquistanês Naveed Gul, diretor de uma escola de ensino fundamental em Peshawar, mantém um guarda armado em frente ao seu gabinete e não hesita em sacar uma arma enquanto seus alunos estão do lado de fora da escola para o turno matinal.

“É uma pistola M20, fabricada na China, e funciona perfeitamente”, assegura.

A discussão sobre se é preciso armar os professores volta a ser atual no Paquistão poucos dias depois do ataque de talibãs contra uma universidade do noroeste do país, no qual morreram 21 pessoas.

Entre os mortos está um professor de química, Syed Hamid Husain, que morreu atirando e defendendo seus alunos.

Segundo os estudantes, o professor de 33 anos, pai de dois filhos, morreu protegendo-os dos talibãs que na quarta-feira passada atacaram a universidade de Bacha Khan, na cidade de Charsadda, na província de Khyber Pakhtunkhwa.

Os professores desta universidade tinham permissão para andar armados desde que em 2014 os talibãs mataram mais de 150 pessoas, a maioria crianças, em um ataque a uma escola de Peshawar, capital da província.

Por isso, Naveed Gul, diretor desta escola pública Akhunabad de Peshawar, não duvida em guardar sua pistola – imitação de uma arma soviética da Segunda Guerra Mundial — na gaveta da escrivaninha porque, diz, faz com que se sinta mais seguro.

“Se você tem armas pode lutar”, afirma este homem de bigodes parecidos com os dos caubóis. “Se um terrorista viesse enquanto estou aqui sentado, sacaria automaticamente a pistola”, explica, gesticulando.

Segundo psicólogos americanos consultados recentemente pela AFP, as trocas e tiros maciças como as ocorridas no Paquistão podem provocar um estado de alerta próximo da paranoia.

Mas Gul se considera um homem prático em um país onde as escolas são frequentemente alvo de ataques talibãs, como o tiroteio em 2012 contra a estudante Malala Yousafzai em Swat ou os massacres de Peshawar no ano passado ou na universidade dias atrás.

“Não temos ninguém”

Na sexta-feira, o grupo talibã que lançou o ataque em Charsadda prometeu continuar atacando as escolas, que considera “criadouros” para os que desafiam a lei divina.

Segundo Shaukat Yousafzai, porta-voz da província, Khyber Pakhtunkhwa só dispõe de 55.000 policiais, número insuficiente para garantir a segurança de suas 68.000 escolas e por isso as autoridades permitiram que os professores levem armas.

“Não há nenhum problema em usá-las em caso de ataque”, afirma. Mas segundo Saad Khan, general de brigada reformado e agora consultor, é uma decisão “estúpida”.

“São homens jovens, se há um tiroteio os ânimos se exaltam e já se sabe o que acontece se há armas”, afirma, pedindo que se estudem as causas da violência ao invés de armar os professores.

Syed Hamid Husain, o professor de química morto na universidade, era um acadêmico brilhante mas, segundo sua família, mudou após a chacina da escola de Peshawar, em 2014.

“Não sabemos de onde tirou toda essa coragem”, disse à AFP seu irmão mais velho, Sajjad, que se sente orgulhoso por ter defendido seus alunos apesar de que – contou – quando era criança desmaiava quando via sangue.

Na província de Khyber Pakhtunkhwa, os pais e os alunos concordam em que os professores andem armados.

“Assim podem lutar e talvez matar duas, três ou quatro pessoas”, disse Ehsanullah, que tem um filho na escola do professor Gul.

“Não temos ninguém”, afirmou Shafey Hussain, um menino de dez anos.

(AFP)

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