Uma breve revisão das etapas dessa revolução e uma pergunta incômoda: qual será a próxima?O mundo universitário em grande parte dos países do Ocidente anda às voltas com várias iniciativas e programas de prevenção contra abusos sexuais. Entre debates acalorados, uma verdade não pode ser negada: as mulheres se sentem cada vez mais inseguras numa cultura que, sob o disfarce da “libertação”, as transformou, ainda mais explicitamente, em objetos de prazer sexual.
As mostras estão por toda parte.
Há poucos meses, dois clips de cantoras jovens e mundialmente populares exacerbaram a sensualidade das protagonistas: o de Nicki Minaj mostrava mulheres se contorcendo no meio do mato, enquanto o de Miley Cyrus mostrava a própria se contorcendo sozinha num canteiro de obras. O clip de Miley Cyrus bateu o recorde de visualizações no YouTube para um mesmo vídeo em 24 horas. Foi superado, pouco depois, pelo de Nicki Minaj. Passada a sensação do momento, as duas terão de buscar mais algum jeito de suscitar frenesi – durante mais algumas horas.
Em vez de denunciar a expectativa-padrão de que as mulheres precisam tirar a roupa para ser interessantes, as feministas abraçaram essa “causa”. Conquistou algumas horas de repercussão, na mesma época dos clipes citados acima, a premiação musical VMA em que a cantora Beyoncé e um grupo de dançarinas seminuas se contorceram diante de letras garrafais que diziam “FEMINIST”. Feministas do mundo todo comemoraram aquele momento no Twitter e na revista Time como se fosse uma “gloriosa vitória das mulheres”. Passados já vários meses, qual é hoje, para as mulheres, o resultado prático daquela “gloriosa vitória”? Mistério.
A chamada “revolução sexual” está cheia de “vitórias” que tornaram cada vez mais fácil o “uso” de mulheres e homens como objetos. Se é que se pode considerar isso um “avanço”, a quantidade de mulheres que usam homens aumentou, mas continua longe de se igualar à de homens que usam mulheres – afinal, nunca foi tão fácil “usar” mulheres adotando o próprio discurso feminista de “emancipação sexual”.
Essa “revolução” vem acontecendo por etapas:
A década de 1960 popularizou a pílula, expandindo exponencialmente a independência entre o sexo e a vinda de bebês ao mundo. A atitude cultural no tocante ao sexo fora do casamento passou rapidamente das piscadelas da geração anterior à música rock e pop que louvava o sexo livre, de “Let’s Do It, Let’s Fall In Love” a “Why Don’t We Do It In the Road?”. Nem todo mundo estava fazendo sexo extraconjugal, mas, no final daquela década, quase todo mundo estava proclamando o “direito” de fazê-lo.
Os anos 1970 popularizaram o aborto e deram início a uma era de dramáticas ironias: o sexo era celebrado como diversão descomplicada, por um lado, mas, por outro, surgiu a “consequência” de “ter que” matar os próprios filhos gerados “sem querer” durante essa diversão. Os hippies faziam do sexo uma forma de “iluminação” e de “autorrealização”, enquanto os homens do tipo “machão”, de James Bond a Burt Reynolds, faziam dele uma forma de conquista.
A década de 1980 popularizou o preservativo. Com as epidemias de doenças venéreas e o drama da aids tornando o sexo mais perigoso do que nunca, o mantra passou a ser o do “sexo seguro”. As escolas orientaram os estudantes a “dizer não” às drogas, mas lhes deram camisinhas para dizerem sim ao sexo. Produziam-se vídeos musicais e filmes direcionados especialmente a um público de adolescentes cada vez mais obcecados por sexo.
Os anos 1990 popularizaram a lingerie sensual. A Victoria’s Secret fez sucesso com seus desfiles de moda íntima e até o presidente dos Estados Unidos foi atraído pela “moda íntima” da estagiária Monica Lewinski. A roupa de baixo ainda não tinha se transformado no traje oficial das artistas femininas em cima dos palcos, mas cantoras como as Spice Girls e Britney Spears já começavam a trilhar essa estrada.
A primeira década dos anos 2000 popularizou a pornografia. O governo federal dos Estados Unidos já tinha dobrado a quantidade de leis relacionadas com atos obscenos na década de 1990, porque a internet vinha surgindo com força e recheada de um vasto arsenal de pornografia que se multiplicou espantosamente nos anos seguintes. O pornô se tornou um gigantesco setor de negócios. Os homens começaram a gastar muito tempo on-line sozinhos e a portas fechadas. E as mulheres, cada vez mais, também.
O que a nossa década vai popularizar? Já vimos a florescente indústria dos brinquedos sexuais e sabemos que os tribunais estão ocupados em redefinir o próprio conceito de casamento, dissolvendo-o numa simples afirmação de sentimentos “mais ou menos afetivos” e retirando do seu núcleo a crucial missão de criar e educar solidamente os filhos nascidos de uma relação de mútua entrega perpétua.
Em 1999, numa sala da redação do jornal católico norte-americano National Catholic Register, eu me lembro de alguém comentando que a amoralidade sexual da nossa cultura não poderia ficar pior do que estava. Um editor mais velho e mais sábio alertou: “Só espere”. A nossa cultura está hoje saturada de sexo: tudo é escancarado e nada é deixado para a imaginação.
Mary Eberstadt demonstrou, com as ciências sociais, que a revolução sexual trouxe consequências devastadoras para mulheres, homens, adolescentes e crianças.
Talvez a maior mudança cultural esteja precisamente na degradação das mulheres.
Os católicos sabem que a “pureza do coração” é a qualidade que nos permite ver o verdadeiro valor do outro. Há pessoas que descrevem a experiência de olhar nos olhos de São João Paulo II ou da beata Teresa de Calcutá dizendo que era como se você fosse a única pessoa que existia para eles naquele instante. Esta é, no fim das contas, a pureza de coração: ser tratado como o que se é, como uma pessoa única e de dignidade infinita.
A máxima tragédia da sexualização da nossa cultura pode ser exatamente a perda dessa pureza. Quando permitimos que os seres humanos se tornem meros objetos de prazer sexual, todos nós diminuímos aos olhos uns dos outros.
Num mundo em que as mulheres precisam estar mais constantemente em guarda do que nunca, os católicos têm uma mensagem importante a transmitir: o poder das mulheres não está na sua sexualidade, mas na sua humanidade. Assim como o dos homens.