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Dinheiro e felicidade: o que você faria se ganhasse 30 milhões de reais na loteria?

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Aleteia Brasil - publicado em 29/01/16

A resposta da maioria da população para esta pergunta é muito significativa - e o que acontece com muitos dos ganhadores também

O que você faria se ganhasse 30 milhões de reais (ou de euros, ou dólares, ou libras…) na loteria?

A resposta da maioria da população para esta pergunta é significativa: “Largaria o trabalho e viveria de renda“.

Em tese, é uma escolha viável: 30 milhões de reais renderiam em torno de R$ 150.000 por mês se fossem aplicados na poupança a uma taxa de juros de 0,5%.

Na prática, porém, a simples perspectiva de dispor de uma grande soma de “dinheiro fácil” revela uma série de “pontos fracos” de quem conta com essa, digamos, “sorte”.

O baiano Antônio Domingos ganhou na loteria federal em 1983, aos 19 anos de idade, e não hesitou em começar a viver “a vida dos seus sonhos”. Foi morar na suíte presidencial de um dos melhores hotéis de Salvador, comprou nada menos que 18 carros 0 km, passou a jogar fora sua roupa usada em vez de lavá-la e torrou grandes somas quase diárias em festas, bebida e mulheres. Seu “sultanato” durou 5 anos. De volta à pobreza, Antônio Domingos foi morar em um “puxadinho” no terreno da casa da mãe. Dos 18 carros, não sobrou nenhum. Passou a trabalhar como garçom e a fazer bicos de pedreiro. Indagado sobre “arrependimentos”, Antônio responde que o maior de todos é o de não ter comprado uma casa melhor para sua mãe.

Nem todos os ganhadores de dinheiro fácil o perdem da mesma forma: o simples despreparo para lidar de modo disciplinado com as finanças devolve rapidamente um “sortudo” à pobreza. O agricultor mineiro Antônio Donizeti acertou na loteria em julho de 1977 e ganhou 16,1 milhões de cruzeiros, montante que o sustentaria pelo resto da vida. O “resto da vida”, porém, se limitou a 3 anos, durante os quais ele recebia cartas de mulheres de todo o Brasil interessadas (literalmente) em se casar com ele. Boa parte da fortuna foi trasformada em empréstimos a parentes e “amigos” – que nunca mais lhe pagaram. Antônio Donizeti passou a viver do seu pequeno sítio em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres de Minas Gerais.

Nos Estados Unidos não faltam casos semelhantes. Aliás, estatísticas norte-americanas indicam que cerca de um terço dos ganhadores de loteria no país vão à falência em um curto espaço de tempo.

Em 2002, nada menos que 315 milhões de dólares foram embolsados por Jack Whittaker, um profissional da construção civil que já era rico quando ganhou na loteria. A bolada, no entanto, abalou a sua estabilidade. Jack gastou mais de 100 mil de uma única vez em um clube de strip-tease. Outros 745 mil foram roubados de seu carro, onde ele os mantinha em dinheiro vivo para, literalmente, “sair gastando”. Jack foi preso por dirigir embriagado e por ameaçar o dono de um bar. Enfrentou ainda vários outros processos, quase todos por dívidas em jogos de azar: em um dos casos, foi processado por passar cheques sem fundo no valor de 1,5 milhão de dólares para encobrir perdas em um cassino. Sua mulher pediu o divórcio. A neta morreu de overdose, “financiada” pela mesada de 2,1 mil dólares que ele mesmo lhe dava. Whittaker ficou sem dinheiro e sem família. De sua fortuna, o que se salvou foi o dinheiro que Jack tinha doado a associações cristãs de caridade e à fundação Jack Whittaker, que ajuda pessoas carentes no Estado da Virgínia Ocidental.

Em 1997, o pastor norte-americano Billie Bob Harrell, do Texas, ganhou 31 milhões de dólares, comprou casas e carros e começou a sofrer pressões de desconhecidos para ajudá-los. Emprestou dinheiro a praticamente todos os que lhe pediam, mas poucos pagaram a dívida. O pastor também doou parte da fortuna à igreja e a obras de caridade. Meros 2 anos depois de ganhar o prêmio milionário, já falido e abandonado pela esposa, Billie cometeu suicídio. À família, restou apenas uma vultosa dívida com o governo por impostos que não tinham sido pagos.

A “sortuda” Evelyn Adams ganhou o prêmio máximo da loteria de New Jersey não apenas uma, e sim duas vezes, em 1985 e 1986, derrotando quase inacreditavelmente as estatísticas que calculam essa probabilidade em 1 chance em 17 trilhões(!). A soma dos dois prêmios era suficiente para garantir para Evelyn uma vida livre de quaisquer dificuldades financeiras: foram 5,4 milhões de dólares, uma quantidade bastante alta na década de 1980. Mas ela conseguiu destruir todo o patrimônio graças ao vício em jogos de azar. Falida em pouco tempo, teve de se mudar para um trailer, sem dinheiro e sem conforto.

Na Inglaterra, em novembro de 2002, o então gari Michael Carroll ganhou 9,7 milhões de libras (mais de 56 milhões de reais na cotação de hoje). Quando recebeu o prêmio, ele estava sendo monitorado pela justiça com tornozeleira eletrônica depois de uma condenação por arruaças calibradas por drogas e bebedeiras. Michael comprou uma bela casa de 6 quartos, mas os milhões restantes se esvaíram em festas, álcool, prostitutas de luxo (até 4 por noite), uma doação de 1 milhão de libras ao clube de futebol Rangers, do qual era torcedor fanático… Além disso, 1,2 milhão de libras literalmente viraram pó a fim de sustentar o vício de Michael em cocaína. Menos de 10 anos depois de se tornar milionário, Michael pôs a casa à venda e foi bater à porta do antigo emprego de gari para sustentar as duas filhas.

Também britânica, Vivian Nicholson ganhou na loteria em 1961 e ficou famosa pela declaração do que faria com o prêmio: “Gastar, gastar e gastar”. E gastou. Após ficar viúva, ela se casou mais cinco vezes, fez tratamento para alcoolismo, sofreu um derrame, foi deportada de Malta, tentou o suicídio, foi internada num hospício e, já idosa e aposentada, passou a viver com uma pensão de 87 libras por semana.

Nascer rico também pode ser sinônimo de dispor de dinheiro fácil sem discernimento. Jorginho Guinle era herdeiro da família que construiu o palácio do governo do Rio de Janeiro e o luxuoso hotel Copacabana Palace, além de receber a primeira concessão para operar o porto de Santos, o maior da América Latina. Mas o herdeiro se tornou famoso não por administrar a fortuna, e sim por sair com celebridades, dirigir carros de luxo e frequentar as grandes festas da chamada “alta sociedade”. Jorginho Guinle teve de trabalhar como guia turístico aos 85 anos de idade para poder se manter. Faleceu na pobreza aos 88 anos.

Não são só os “sortudos” que precisam de educação financeira e, principalmente, educação em “valores” que vão além dos financeiros. Pense em quantos conhecidos seus ganham bem e, mesmo assim, vivem endividados ou, simplesmente, não são felizes: sua vida é marcada por vícios, discórdias familiares, intrigas, traições, insegurança, desafeto, falta de tempo, cansaço, estresse, vazio…

Este artigo termina aqui, notavelmente incompleto. Ele deixa no ar, de propósito, várias perguntas. Faça-as a si mesmo.

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