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Sei que o meu bebê vai morrer assim que nascer, mas…

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Tommy Tighe - publicado em 01/02/16

O silêncio que ninguém percebe – exceto Ele e nossa Mãe

O surto preocupante de casos de microcefalia provocada pelo vírus zika tem voltado a esquentar as discussões em torno ao aborto. Enquanto isso, compartilhamos uma dolorosa experiência iluminada pela visão espiritual do sofrimento, vivenciada por um pai cujo filho, ainda no ventre materno, já está condenado a morrer logo depois do parto. Há Alguém que enxerga os nossos silêncios – e sua Resposta silenciosa pode ser vivificadora. Eis o depoimento desse pai norte-americano:

___________

Há objetos que flutuam silenciosamente por cima de nós, como nuvens negras invisíveis, que ninguém nota; há uma escuridão que os outros não enxergam, a não ser que queiramos compartilhá-la.

Para a minha esposa e para mim, essa nuvem negra invisível se tornou algo que não podemos mais esconder.

A cada dia que passa, o nosso precioso bebê continua crescendo e se desenvolvendo na segurança do útero da minha esposa. Antes que fizéssemos esta última ecografia, cada passo da nossa viagem rumo ao nascimento de nosso quarto filho nos enchia de felicidade, entusiasmo e ansiosa expectativa.

Mas agora, cada dia que passa nos aproxima cada vez mais de um dia muito diferente; o dia mais aterrador da nossa vida.

Faz pouco tempo, saímos da ecografia envoltos em profunda tristeza depois de receber o diagnóstico fatal de uma agenesia renal. O bebê continua crescendo e se desenvolvendo na proteção do útero da minha mulher – mas o prognóstico diz que ele só vai conseguir sobreviver durante poucos minutos após o nascimento.

Foi este fato o que se transformou no objeto do nosso silêncio.

A minha esposa, maravilhosa, vai continuar avançando firme e valentemente até completar esta odisseia nas próximas 20 semanas, e, sem dúvida, choverão sobre ela os bons desejos daqueles que veem a iminente maternidade, mas não podem ver a agonia.

Haverá comentários bem-intencionados, como “Vão faltar mãos para abraçar todos eles!”, mas nós os sentiremos como tapas em nossos ouvidos.

Cada centímetro que ele cresce, cada chute e cada movimento que sentimos são uma estranha mistura de felicidade e de dor dilacerante, neste caminho que nos leva à nossa pessoal e inevitável “Pietà”.

Como é que vamos enfrentar uma dor dessas? Como é que vamos seguir em frente quando o peso do nosso silêncio secreto nos aproxima do dia da provação indizível?

Só se torna possível quando nos damos conta de que existe Alguém que conhece, sim, este nosso silêncio que ninguém percebe. Ele conhece. A Mãe d’Ele e nossa conhece. Não importa o quanto tudo é invisível para quem nos rodeia.

Naquele primeiro domingo de missa depois da ecografia, eu não podia evitar um olhar com ira desesperada para o crucifixo. Cravava nele o meu olhar enquanto a mente se esvaía num redemoinho de pensamentos questionadores: “Como pudeste nos fazer isto?”.

E ao mesmo tempo, paradoxalmente, eu sentia que o que mais queria era desfalecer entre seus braços abertos. Eu sabia que só na presença d’Ele e da nossa Mãe Bendita poderíamos encontrar algum tipo de paz e de alívio. Eles conhecem o nosso silêncio.

Enquanto a minha família percorre este caminho, antecipando o momento mais doloroso e amargo da nossa vida, não há outro lugar em que possamos nos refugiar. Com lágrimas nos olhos, voltamos o olhar para Jesus na cruz, contemplamos Maria sustentado o corpo de Jesus, na “Pietà”, e ali encontramos outro tipo de paz, imersa num lugar profundo e silencioso.

É o tipo de paz que só experimentamos quando revelamos o objeto de nosso silêncio e ele é recebido e compreendido com amor incondicional.

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