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O Papa e Kirill: o primeiro e histórico encontro será em Cuba

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Andrea Tornielli - publicado em 08/02/16

Nunca se verificou um encontro entre um bispo de Roma e um bispo da que é chamada a “terceira Roma”

A próxima viagem do Papa Francisco ao México se tinge de ecumenismo. Acaba de ser anunciado que o Pontífice se reunirá em Havana, Cuba, com o Patriarca de Moscou e de toda Rússia, Kirill, antes de se dirigir à Cidade do México. Nunca se verificou um encontro entre um bispo de Roma e um bispo da que é chamada a “terceira Roma”, depois da sede dos sucessores de Pedro e André, ou seja, Constantinopla.

Durante uma coletiva de imprensa, o padre Federico Lombardi, porta-voz vaticano, apontou que no próximo dia 12 de fevereiro, o Papa Francisco irá de Roma para Cuba, antes de chegar a Cidade do México. Chegará a Havana às 14h.

“A Santa Sé e o Patriarcado de Moscou tem o prazer de anunciar que, pela graça de Deus, Sua Santidade, o Papa Francisco, e Sua Santidade, o Patriarca Kirill, de Moscou e toda Rússia, vão se encontrar no próximo dia 12 de fevereiro. O encontro acontecerá em Cuba, onde o Papa fará uma escala antes de sua viagem ao México, e onde o Patriarca estará em visita oficial. Haverá uma conversa pessoal no Aeroporto Internacional José Martí, de Havana, e se encerrará com a assinatura de uma declaração comum”. Este encontro histórico, explicou o padre Lombardi, será encerrado com a assinatura de uma declaração comum.

“Este encontro dos primazes da Igreja Católica e da Igreja Ortodoxa Russa – continuou Lombardi -, preparado há tempo, será o primeiro na história e marcará uma etapa importante nas relações entre as duas igrejas. A Santa Sé e o Patriarcado de Moscou desejam que seja um sinal de esperança para todos os homens de boa vontade. Convidando a todos os cristãos a rezar com fervor para que Deus abençoe este encontro, que dê bons frutos”.

No dia 30 de novembro de 2014, durante o voo de retorno de Istambul, onde participou, aceitando o convite do Patriarca ecumênico Bartolomeu, nas solenes celebrações pela festa de Santo André, Francisco respondeu à pergunta do correspondente em Roma da Agência Tass, Alexey Bukalov, sobre a possibilidade de um encontro com Kirill: “Eu o fiz saber – respondeu Bergoglio – e ele também está de acordo; existe a vontade de nos encontrarmos. Disse-lhe ‘Vou onde me disser. Você me diz, e eu vou’. E ele também tem a mesma vontade”. “Nós dois queremos nos encontrar – continuou -, e queremos seguir adiante”.

O ecumenismo é uma prioridade para Francisco, que em várias ocasiões falou sobre a importância do “ecumenismo de sangue”, sofrido pelos cristãos perseguidos de diferentes confissões: “Nossos mártires estão nos gritando: ‘Já somos um! Já temos unidade, no espírito e também no sangue’”, explicou o Pontífice. Francisco também disse que considerava superada a via do ‘uniatismo’: As Igrejas católicas orientais têm o direito de existir, é certo. Mas, o uniatismo é uma palavra de outra época. Hoje, já não se pode falar assim. É preciso encontrar um caminho”.

Um dos temas sempre “polêmicos” nas relações entre os católicos e os ortodoxos russos é justamente o do uniatismo na Ucrânia, país no qual, além dos católicos de rito oriental que voltaram à comunhão com Roma e a Igreja Ortodoxa que depende de Moscou, existem outras duas Igrejas ortodoxas nacionais autocéfalas.

Há poucos dias, em uma entrevista publicada em “Inside the Vatican”, o cardeal Kurt Koch, presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, após ter comentado a importância da presença de Francisco na cidade sueca de Lund (para a comemoração com os luteranos do 500º aniversário da Reforma, em outubro deste ano), disse a respeito de um possível encontro com o Patriarca russo: “Agora, o semáforo já não está no vermelho, mas no amarelo”. Algo estava se movimentando.

Kirill havia programado uma viagem a Cuba, justamente nos mesmos dias em que Francisco estará no México (de 12 a 17 de fevereiro). Foi convidado pessoalmente pelo presidente Raúl Castro, durante uma visita a Moscou (maio do ano passado). O anúncio de hoje confirma que o projeto foi amadurecendo lentamente, com todas as reservas, e que a possibilidade do histórico encontro sempre esteve presente nos bastidores da preparação da viagem ao México.

Há muitos anos se fala sobre a possibilidade de que o Papa de Roma e o Patriarca de Moscou se encontrem. Um dos sonhos que João Paulo II não pôde realizar foi uma viagem a Moscou. Apesar da abertura ecumênica do Papa Wojtyla, que na encíclica “Ut unum sint” se disse disposto a discutir as formas para exercer o primado de Pedro, muitas portas haviam ficado fechadas.

Não se deve esquecer que para os ortodoxos russos a origem polonesa do Pontífice era uma espécie de obstáculo: entre os russos e os poloneses as relações nunca foram boas ao longo da história, e o Bispo de Roma, originário de Wadowice, era descrito como um “conquistador” católico. Além disso, a decisão de João Paulo II em fundar verdadeiras dioceses católicas na Rússia aumentou as tensões na relação.

Com a eleição do teólogo Bento XVI, a hipótese começou a ter maiores possibilidades, mas também não se tornou realidade. Enquanto isso, após a morte de Alexy II, Kirill chega à cátedra moscovita. O Patriarca russo tem jurisdição sobre dois terços dos duzentos milhões de ortodoxos no mundo.

O abraço entre Kirill e o Papa Francisco, em Havana, é um novo e importante passo para o “degelo”, e terá consequências positivas não só nas relações entre o catolicismo e a ortodoxia, mas também para a paz no mundo.

(Vatican InsiderIHU Online)

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