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“Tanto no Oriente quanto na Europa, é a Virgem Maria quem vai nos salvar”

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Aleteia Brasil - publicado em 12/02/16

“Eu tenho amigos muçulmanos que começam a deixar o islã porque eles percebem que não podemos viver na violência”, conta o padre Najib, refugiado no Iraque

O padre dominicano Najib Michail, refugiado iraquiano em Erbil, foi o convidado de honra de uma conferência realizada em Paris no dia 2 de fevereiro em apoio aos cristãos do Oriente.

VEJA TAMBÉM o seu aterrador depoimento sobre o dia em que os cristãos fugiram dos terroristas do Estado Islâmico: “Eles iam matar todos nós. Fiz minha última oração e dei a absolvição a todos – inclusive aos muçulmanos

Aleteia conversou com ele na França.

Aleteia: Qual é o sentimento religioso dos refugiados em Erbil?

Pe. Najib: Eu acho que, hoje, nós não temos mais o mesmo discurso de um ano atrás. Nós estávamos muito otimistas e esperávamos voltar para casa assim que Mossul e Nínive fossem libertadas. Infelizmente, as pessoas tiveram que enxergar, com mais realismo, que a libertação não está chegando. Sinjar foi libertada já faz seis ou sete meses, mas ainda não podemos voltar, e vai ser a mesma coisa para a planície de Nínive e Mossul. Há uma perda de confiança entre as pessoas, religiões, raças.

Mesmo assim, os cristãos não perderam a fé, que, na minha opinião, permanece muito enraizada. Eles estão ligados à sua terra, e até os que estão no processo de deixá-la para trás dizem que é só temporário e que eles vão voltar para casa um dia. Embora muito poucos retornem mesmo, a boa semente nunca morre e vai permanecer na Mesopotâmia. A fé não é coisa minha, mas do Espírito Santo. Deus nos deu a graça da fé, então eu tenho que fazê-la crescer, mas o proprietário é Deus.

Aleteia: Os refugiados cristãos vêem na desgraça a cruz e um martírio salutar?

Pe. Najib: Deus, sem dúvida, tem planos salutares para todos os seres humanos, sejam eles cristãos, judeus, muçulmanos ou ateus. Pessoalmente, eu vejo a cruz plantada na terra sobre o Gólgota, nesta realidade selvagem, mas elevada para o céu à medida que recebemos a nossa força de Deus. Ao mesmo tempo, os dois braços da Cruz nos fazem ir aos quatro cantos do mundo para abraçar a humanidade e levar a Boa Nova, o Amor de Cristo, o Amor da Ressurreição. Eu tenho amigos muçulmanos que começam a deixar o islã porque eles percebem que não podemos viver na violência. Há muitos muçulmanos que são pessoas profundamente boas e que se dão conta de que juntos nós podemos derrotar o terrorismo e o obscurantismo que deixa os crentes aprisionados a textos datados, que não podem ser aplicados em nosso contexto moderno.

Aleteia: Vocês conseguem celebrar a missa? Vocês têm hóstias?

Pe. Najib: É claro! Nós temos pão, uvas, tudo. Não temos nenhum problema neste ponto. Muitas pessoas, nas horas difíceis, se apegam à fé tremendamente. Nos dois campos de refugiados, Al Amal (“A Esperança”) e Al Karma (“A Vinha”), até falta espaço para as pessoas se sentarem durante a missa. Todas as igrejas em Erbil estão cheias de fiéis que vão comungar e rezar. Nos dois centros, todos os dias e sem precisarmos pedir às pessoas, elas rezam o rosário às 10h da noite. Os fiéis rezam e cantam à Virgem Maria e depois vão dormir. Eu acredito, e isto também é válido para a Europa, que é a Virgem Maria quem vai nos salvar. Temos que pedir, rezar o rosário, dizer que somos cristãos, que acreditamos em um Deus amoroso, e não hesitar. Os terroristas não hesitam em matar pessoas, então por que deveríamos ter vergonha de orar por eles e amá-los?

Entrevista realizada por Aliénor Gamerdinger

Tags:
Estado IslâmicoPerseguiçãoTerrorismo
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