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Será possível que a Rússia seja um “baluarte da moral” no mundo?

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Aleteia Brasil - publicado em 18/02/16

Um eterno desafio para os analistas de todos os âmbitos: o que a Rússia de fato quer? E o que nós, católicos, temos a ver com isso?

Em dezembro de 2013, o jornal britânico The Telegraph observou que o presidente russo Vladimir Putin tinha “lançado a Rússia à posição de árbitro moral do mundo” durante o seu discurso anual sobre o estado da nação:

“Putin defendeu os valores cada vez mais conservadores do seu governo e lamentou a ‘revisão de normas da moralidade’ no Ocidente e em outras regiões do planeta. ‘Essa destruição dos elevados valores tradicionais não só traz consequências negativas para a sociedade como é também inerentemente antidemocrática, já que se baseia numa noção abstrata e vai contra a vontade da maioria do povo’, disse Putin, acrescentando que não pode haver benefício para a sociedade quando se trata ‘o bem e o mal’ de forma igual. Em seus 70 minutos de discurso, pronunciado num ornamentado salão do Kremlin e transmitido pela televisão, Putin declarou que os valores familiares tradicionais são um baluarte contra a ‘assim chamada tolerância – sem gênero e infértil’”.

Em fevereiro daquele mesmo ano, Putin havia apelado por mais influência da Igreja ortodoxa no país; ao longo do ano, tinha levado a Rússia a resistir ao avanço da agenda gay proibindo as paradas do orgulho gay e a “propaganda de relações sexuais não tradicionais” para menores. Ainda em 2013, em novembro, tinha visitado o papa Francisco no Vaticano e, junto com o pontífice, beijou um ícone da Santíssima Virgem Maria. Na época, um meme nas redes sociais dizia a respeito do encontro:

“Se, em 1959, você contasse a um católico (ou a qualquer pessoa) que o presidente russo iria beijar uma imagem de Maria ao lado do papa enquanto o presidente dos EUA iria apoiar o aborto, ignorar a embaixada do Vaticano, lançar aviões não tripulados como armas de guerra, ameaçar o matrimônio, invadir a privacidade das pessoas e espionar os líderes estrangeiros, esse católico (ou qualquer pessoa) teria achado que você andou fumando alguma coisa muito, muito forte”.

Mas nem todo mundo recebeu sem desconfianças aquela “nova liderança moral” de Putin:

“Putin vai fazer ou dizer qualquer coisa para promover a Rússia e o seu próprio poder. A Rússia não é a bússola moral nem dela própria, que dirá do mundo” (Anthony Esolen, professor de literatura no Providence College, EUA).

E, mesmo desconfiando, nem todos condenaram totalmente essa suposta “nova liderança moral” de Putin:

“Nós temos que desconfiar desse uso que o Putin está fazendo da Igreja russa para apoiar o seu regime, que é profundamente imperfeito, que se baseia no capitalismo de compadrio e em táticas autoritárias. Mesmo assim, as políticas do regime Putin estão muito mais alinhadas com a lei natural do que as políticas do governo Obama. Levando em conta que os dois foram treinados no marxismo, Putin chegou bem mais perto da visão do bem que animava os fundadores dos Estados Unidos da América do que o nosso querido presidente” (O escritor norte-americano John Zmirak). “No lado positivo, a Rússia se tornou de repente um aliado das ONGs pró-família na ONU, com destaque para o fato de que a Rússia é um dos poucos países desenvolvidos que falam e agem contra a ‘esquerda sexual’, esse movimento internacional pró-agenda GLBT que tenta glamourizar a atividade homossexual e consagrá-la como um direito humano. Por outro lado, o governo russo ainda sofre com a corrupção em muitos níveis, falta proteção aos direitos humanos e policiamento adequado em várias partes da Rússia, e a estrutura familiar russa ainda não se recuperou das décadas de materialismo ateu forçado (…) O aborto é acessível numa escala amplíssima, os índices de aborto e de divórcio ainda são muito superiores aos dos EUA, as uniões matrimoniais são incomuns e de curta duração. Ironicamente, o próprio Putin se divorciou da esposa no início deste ano. Ao mesmo tempo em que o partido do governo russo vem percebendo a necessidade de um retorno a leis que protejam e promovam a família tradicional, a nação também tem um longo caminho a percorrer antes de virar uma sociedade ideal” (John Bergsma, professor de Teologia, Universidade Franciscana de Steubenville, EUA).

São considerações interessantes a ser repassadas no atual contexto da alegada “liderança moral russa” no mundo.

Atualmente, há três cenários principais em que a Rússia está exercendo o que alguns analistas chamam de “liderança moral” ou, pelo menos, “influência político-militar misturada com elementos de moralidade”:

  1. A Ucrânia, onde prosseguem os conflitos e onde a Rússia diz apenas apoiar o direito dos ucranianos do leste de se unirem também politicamente à Rússia da qual se consideram culturalmente filhos;
  2. A Síria, onde os russos combatem o Estado Islâmico posicionando-se em defesa do regime de Bashar al-Assad, que consideram legítimo e que dizem ser vítima dos interesses escusos dos Estados Unidos e seus aliados preocupados não com a legalidade, mas com o petróleo;
  3. E a Igreja ortodoxa, cuja liderança é acusada há décadas de subserviência ao regime soviético e, depois do fim do comunismo, aos interesses políticos do Kremlin.

São vários lados de várias moedas – russas e não russas – e é preciso levá-los todos em conta na complexa “contabilidade” do atual contexto moral da humanidade, com todas as consequências que brotam dele: sociais, políticas, econômicas e… religiosas.

Tags:
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