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Drogas, tortura e assassinato a marteladas em festim sexual entre homens: por quê?

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Gelsomino Del Guercio - publicado em 15/03/16

O jovem italiano de 23 anos morto a facadas e marteladas durante uma orgia porque os assassinos queriam saber "qual era a sensação de matar"

O que há por trás do assassinato de Luca Varani, o jovem de 23 anos torturado, esfaqueado e espancado a marteladas em Roma depois de uma orgia homossexual regada a álcool e cocaína?

O rapaz, autodeclarado heterossexual e noivo de uma moça romana, foi vítima do também autodeclarado heterossexual Manuel Foffo, 29 anos, dono da casa onde ocorreu o crime estarrecedor, e do seu amigo Marco Prato, homossexual declarado, 30 anos, que, depois do crime, tentou o suicídio (cf. Agência Ansa, 6 de março).

Manuel Foffo declarou ter conhecido Marco Prato no último réveillon. “Ele é gay, eu sou heterossexual“, reafirma – em contradição com outras admissões que faz em seguida. “Nós tivemos um relacionamento e ele tinha um vídeo nosso. Eu tinha medo que ele me chantageasse e por isso continuei me encontrando com ele“, tenta justificar Manuel, a quem Marco teria confessado, além do mais, que se prostituía.

Sexo a três

Em 29 de fevereiro, os dois jovens organizaram um festim de sexo, álcool e drogas. No dia seguinte, saíram de carro em busca de uma vítima a ser sacrificada. O escolhido foi Luca Varani, já conhecido de Marco por frequentar ambientes noturnos em que este último organiza eventos gays. Marco teria proposto ao jovem, por 120 euros, um encontro sexual em seu apartamento. Manuel depõe: “Quando ele chegou, já havia quase um acordo tácito entre mim e Marco. Nós lhe oferecemos bebida com droga” (cf. Corriere della Sera, 7 de março).

Matar “só para saber qual é a sensação”

Mais de 1000 euros foram consumidos naquela noitada em cocaína. “Luca tirou a roupa e bebeu o que nós lhe demos. Depois foi até o banheiro e passou mal. Marco o atacou e disse que nós tínhamos decidido que ele ia morrer. Eu peguei o martelo e acho que também as duas facas. Luca não conseguiu reagir em nenhum momento à nossa violência. Nós queríamos matá-lo só para saber qual era a sensação”.

Um homem pervertido

Além desses depoimentos, vários outros testemunhos apontam em Marco Prato um personagem pervertido. Um usuário do site gay.it havia relatado ainda em 7 de novembro de 2015: “Faz alguns meses, Marco nos convidou para jantar. Ele não estava sozinho: estava com um amigo hétero. Ele me deu uma péssima impressão. De alguém que consegue manipular as pessoas. Depois do jantar, fomos para a casa dele. O amigo era hétero, mas parecia disposto a ter relações sexuais a quatro. Aí entrou em cena a cocaína“.

O autor do texto, porém, conta que não houve sexo, mas relata que o amigo hétero “parecia hipnotizado com Marco, que era mesmo um grande manipulador (…) Eu realmente gostei muito pouco dele como pessoa: estava claro que ele gostava de se divertir envolvendo rapazes hétero com a armadilha das drogas para depois manipulá-los e fazer jogos eróticos. Ele fazia lavagem cerebral e eles caíam. Pelo menos foi assim naquela vez“. A versão é confirmada por frequentadores do “esquenta” gay mais movimentado de Roma, organizado por Marco todo domingo em um conhecido local próximo ao Coliseu (cf. Huffington Post, 8 de março).

Caçadores de “emoções fortes”

Tonino Cantelmi, presidente da Associação Italiana de Psiquiatras Católicos, indaga no site Agensir (8 de março):

“Podemos ter certeza de que Manuel e seu amigo, assim como tantos outros ‘caçadores de sensações’, não são vítimas, eles próprios, de uma sociedade que escolhe sempre o passional, a satisfação imediata de todo instinto, a tirania do desejo e o narcisismo exagerado como forma de ser?”

Sexo químico

A edição italiana do site Huffington Post (7 de março) incursionou na chamada “cena gay” de Roma para entrevistar jovens frequentadores e tentar entender o que acontece em tais ambientes. Entre os fenômenos citados nos depoimentos, destaque para o “sexo químico”, o mesmo que alimentava as perversões sexuais de Marco e Manuel e que também envolveu – até o assassinato – o jovem Luca. Esta perversão implica não dormir nem comer durante horas e até mesmo dias (três dias, por exemplo), fazendo-se apenas sexo com a ajuda de psicotrópicos e drogas. Trata-se do chamado “chemsex“, ou sexo químico, nascido entre homossexuais da Grã-Bretanha e agora em acelerada difusão pela Europa toda.

Autodestruição

Claudio Risè, psicoterapeuta e professor de Sociologia dos Processos Culturais e das Comunicações na Universidade de Insubria, na Itália, declarou a Aleteia:

“O assassinato de Luca Varani me parece uma representação do delírio de onipotência tão frequente em muitos aspectos do homem moderno. É a fantasia de não ter limites, e, simultaneamente, toda a dramaticidade desta situação. Transgride-se em vários níveis, da sexualidade às drogas, e se tenta reduzir o outro a mero objeto, saindo completamente dos limites da moral. Esse objeto só pode ser destruído, assim como destruímos a nós mesmos”.

Homem em substituição de Deus

É uma imagem “do sadismo e da dispersão do homem que substitui a Deus”; um “desespero” que elimina o senso de limite, continua o psicoterapeuta. “Nós nos definimos pelos limites. Se os removemos, não temos mais identidade, viramos destruidores do outro como já somos destruidores de nós mesmos. O traço constituinte da ação de Marco e Manuel é a rejeição do limite e a afirmação unívoca do ‘direito de fazer qualquer coisa’ e da ‘ausência de todo dever’”.

Psicose e loucura

Risè cita a filósofa Simone Weil, “muito precisa quanto a este ponto”. O psicoterapeuta explica:

“Ela diz que não se pode falar só de direitos, como acontece na modernidade tardia. Não se pode falar só de direitos, sem falar também de deveres. Quando não há limites, se cai no delírio da onipotência, que é uma manifestação psicótica, de loucura”.

Uma loucura capaz de assassinar a facadas e marteladas para “saber qual é a sensação”.

Tags:
DrogasmoralSexualidade
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