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Mais do que leite: a vida moral das mães

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Simcha Fisher - publicado em 17/03/16

Mães, a maior herança do bebê é o amor dos pais

Greg Popcak escreveu um post incrivelmente desagradável contra as mães que alimentam seus bebês com fórmulas: The Myth of Optional Breastfeeding & Why You Might Not be Breastfeeding Long Enough (O mito da amamentação opcional & Por que talvez você não amamente o suficiente).

O post de Popcak é, em grande parte, recortado e colado de um artigo da “Dra. Darcia Narvaez, psicóloga de desenvolvimento moral na Universidade Notre Dame”. A tese do post de Popcak é que a amamentação é infinitamente superior à fórmula, de tantas maneiras que não há dúvida: mulheres que amamentam estão fazendo algo moral, e mulheres que não o fazem, não.

Antes de ir mais longe, eu gostaria de falar por um momento sobre o título de Narvaez, “psicóloga de desenvolvimento moral”. Que espécie de título é esse? Em geral, estou desconfiada de pessoas que se consideram especialistas em vários campos diferentes ao mesmo tempo, especialmente quando eles sintetizam toda essa especialização em algo absurdamente reducionista, como amamentação obrigatória. Sou mais propensa a confiar em pessoas que reconhecem os limites de seu trabalho, de seu estudo.

Meu terapeuta faria isso. Se eu pedir conselhos a ele sobre algo que não está na sua esfera de competência, ele deixará claro quais são seus limites e será muito cauteloso em atravessar águas desconhecidas. Ele me lembrará: “esta é apenas uma teoria formulada por mim, com base na minha experiência. Você pode querer ler fulano de tal – isso é mais da competência dele”. Este é o tipo de humildade que vemos em pessoas competentes, que realmente compreendem o alcance da sua autoridade. Em pessoas que estão preocupados principalmente com a promoção de uma agenda, no entanto, não vemos esta humildade.

Tenha isso em mente quando ler a insistência de Popcak que a amamentação é uma questão moral.

Agora, nos preocupamos em fazer escolhas morais como pais, certo? Claro. Como perita em nada, além de digitação, eu sempre dou o mesmo conselho: para o ensino moral, vamos à Igreja. A Igreja tem a autoridade para nos dizer quais ações são morais e quais são imorais.

A Igreja é específica em algumas coisas, mas em outras, ela nos dá a liberdade para discernir qual a melhor maneira de seguir os princípios gerais morais.

Muitas questões familiares se enquadram nesta última categoria. A Igreja nos diz, por exemplo, que temos uma séria obrigação de educar os nossos filhos, tanto academicamente como na fé. Ela, no entanto, não nos diz que devemos enviá-los para a escola católica ou pública ou privada ou que devemos ensiná-los em casa. Ela diz: “aqui está o que você tenta alcançar. Agora ore sobre isso e, em seguida, usando a prudência, e sendo o especialista em sua própria vida, faça isso da maneira que faz sentido para você”.

Da mesma forma a Igreja nos diz que temos uma séria obrigação moral de cuidar das necessidades físicas, emocionais e psicológicas dos nossos filhos, mesmo que isso signifique fazer sacrifícios pessoais. Temos uma séria obrigação moral de não abandoná-los, e fazer o nosso melhor para cuidar deles de acordo com as nossas capacidades e circunstâncias.

Mas a Igreja não nos diz que devemos amamentar. A Igreja não nos diz isso, porque a amamentação não é sempre a melhor maneira de cuidar das necessidades físicas, emocionais e psicológicas dos bebês, e nem sempre está ligada intimamente com as necessidades físicas, emocionais e psicológicas da mãe e do resto da família.

No meu caso, a amamentação era e é a melhor maneira de alimentar os meus filhos, tanto física, emocional e psicologicamente. Eu sou uma mulher saudável com bebês saudáveis, e meu estilo de vida se ajusta às alegrias e exigências da amamentação. Estou ciente da importância de nutrir a criança com meu próprio corpo, alimentá-la com a minha comida, respirar, relaxar e comunicar com ela. A amamentação é fácil e natural para mim – tanto assim que, quando o meu filho prematuro teve dificuldades para pegar meu peito, fiz sacrifícios colossais e com a ajuda de especialistas estabeleci uma boa relação com ele. Eu fiz isso não porque o aleitamento materno foi sempre a única escolha moral, mas porque a amamentação fez sentido para mim e para minha família, e, portanto, foi a escolha moral. Para alguém em outras circunstâncias, a mudança para a fórmula pode muito bem ter sido a escolha moral.

Tenho amigas que tomam medicamentos por razões médicas e não podem amamentar; outras tomam medicamentos por motivos psicológicos, e não podem amamentar; há as que precisam trabalhar e não podem amamentar, ou, pelo menos, em tempo integral; existem as que têm dificuldades psicológicas em relação ao seu corpo, e não amamentam; há outras cujos bebês têm alergias e, assim, não amamentam; existem as que adotaram órfãos, e nunca sequer consideram o aleitamento materno, embora seja possível induzir a produção de leite com medicações. Elas simplesmente não acharam necessário. Elas mostraram seu amor em tantas outras maneiras.

Tenho amigas que não amamentam, e eu não sei por que elas não o fazem. Eu nunca perguntei, porque não é da minha conta. Eu posso ver dez mil outras maneiras de amarem seus bebês, de cuidarem deles, a forma como estão ligados a eles em todos os aspectos significativos e de quer o melhor para eles.

Eu não assumo, como a Dra. Darcia Narvaez, que essas mulheres que alimentam seus bebês através de fórmulas provavelmente apenas diriam: “isso facilita a minha vida”. Presumo que elas diriam, se me atrevesse a perguntar: “decidimos que esta era a melhor maneira de cuidar do bebê”. E gostaria de acreditar nelas, porque há muitas, muitas maneiras boas e morais de cuidar de um bebê.

Não acredito que somos obrigados a mover montanhas, transformar nossas vidas de cabeça para baixo, ou estar dispostos a passar por uma enorme reviravolta para produzir leite, mesmo que seja possível fazê-lo. Pode até ser a escolha errada, se atrapalhar muito a vida da mãe e deixá-la traumatizada o resto da vida (por que não poderia?). As mulheres são mais do que o leite materno. Sua maternidade é mais do que a amamentação.

E o que acontece com as crianças? E suas necessidades?

Ser dedicado aos seus filhos é o que será valioso para eles. Isso é o que lhes dará uma chance de crescerem felizes, com moral e fundamentos. O que é prejudicial para as crianças, a curto e longo prazo, emocional, física e psicologicamente? Se uma mãe que amamenta por obrigação, porque tem pavor de não amamentar – porque ela não pode confiar em si mesma para tomar a decisão de que é hora de tentar outra coisa, algo que fará correr a vida de forma mais suave para toda a família? Quando tomamos decisões como pais e mães com base em histórias de terror e ameaças do pecado imaginário, isso não é um ato de amor – e nunca duvide, a aura do medo deixa sua marca em uma criança, com leite materno ou não.

Felizmente, Popcak lança uma piada em seu ensaio, dizendo:

Bebês costumam ficar vivos com a fórmula infantil.

Isso foi uma piada, certo?

Porque eu ri. E aborreci meu bebê de um ano de idade, que estava em meu peito enquanto eu lia. Estava cuidando dela, porque queria que ela ficasse quieta. Tentava, ouso dizê-lo, tornar minha vida mais fácil. Tentando mantê-la ocupada enquanto seguia meu plano de carreira feminista como escritora – assim como fiz quando deixei o meu marido com vidros de leite materno e fórmula e voei por todo o país para falar com outras mães católicas. Todo mundo estava bem cuidado. Todo mundo foi alimentado. Todo mundo estava bem. E os meus filhos e filhas têm que ver o meu viril, conservador e provedor marido cuidar de seu bebê amado, e que isso é bom para a nossa família.

Eu não tenho a energia para comentar todos os escárnios e alarmismo de Popcak. Ele termina com este parágrafo:

A ciência está aí para aqueles que estão dispostos a olhar para ela. A amamentação é uma questão moral. Deus dá às mães o leite materno para manter a confiança com seus bebês. Não tire essa herança do seu bebê.

Mães, a herança do bebê é o amor dos pais por ele. Não tire isso. Considere a amamentação, porque quando se trabalha bem, é muito bom. Mas acima de tudo, tome suas decisões com base no amor, não por medo. Procure a melhor maneira de amar seus filhos, e estará em paz.

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