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O trauma nos ajuda a crescer?

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Aleteia Brasil - publicado em 01/04/16

Até mesmo o mundo secular, por vezes, entende que um grão de trigo deve morrer

Os traumas podem nos ajudar a crescer?

De acordo com um artigo do The New Yorker escrito por David Kushner, a resposta é definitivamente sim.

A família de Kushner teve de suportar um evento terrível, quando seu irmão de 11 anos foi sequestrado e assassinado, em uma pequena cidade rural na Flórida. Apesar de Kushner ter apenas quatro anos na época, ele explica que, conforme foi crescendo, esforçava-se para entender como seus pais eram capazes de continuar – dando a ele e a seus outros irmãos vidas felizes e normais, enquanto eles ainda abrigavam a memória dolorosa de algo tão terrível.

O artigo investiga a ideia do crescimento pós-traumático, um termo usado para descrever como o sentido da vida pode se aprofundar para alguém que sofreu uma experiência traumática. Este aprofundamento pode levar a uma experiência de “relações melhoradas, maior auto-aceitação e uma apreciação mais elevada da vida”.

O termo lembra a heróica chama do espírito humano, mas também afirma as próprias verdades que nós, como católicos, temos esforçado para entender e abraçar a cada nova geração, há mais de 2.000 anos. Como Jesus nos diz solenemente, a farpada coroa do sofrimento – se nós permitirmos isso – pode acabar levando a uma vida mais abundante.

“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (João 12,24).

É interessante que a partir de um ponto de vista estritamente psicológico e secular, o dito paradoxal de Jesus soa verdadeiro. Se optarmos por responder ao intenso sofrimento em nossas vidas com uma abertura à graça, então nossas vidas podem assumir um significado mais profundo. O artigo aponta o tipo de fruto que aqueles que têm feito uma abordagem positiva do sofrimento e da morte experimentam:

“Essas ‘pessoas esplêndidas’”, como ele as chama, “vieram de grande tribulação, estão abertas, não há defensiva, intensidade de exibição, propósito, paixão em suas vidas… Elas demonstram sabedoria, serenidade, uma espécie de totalidade, uma curiosa vivência alegre e otimista”.

O cardeal Christoph Schönborn, em seu livro Happiness, God and Man, lembra-nos que quando perdemos algo e mergulhamos em tristeza ou quase desespero, ainda temos o poder de escolher o caminho que conduz à vida.

“O homem torna-se triste quando perde algo de valor: alguém que estava perto dele, saúde, bens materiais, a reputação, a paz de espírito e assim por diante. No entanto, deve-se escolher aqui entre dois caminhos: recuar para si mesmo ou o caminho para a vida”.

Se algo traumático acontece, leva muito tempo para florescer a graça em nós, não só para aceitá-la, mas para permitir que ela promova uma apreciação mais profunda da vida em oposição a uma queda amarga em desespero. Um grão de trigo produz frutos apenas gradualmente, e depois de muito tempo.

Uma amiga inesperadamente perdeu o marido. Ele era um homem saudável, amável e trabalhador, que tinha apenas 50 anos. Sua família mora ao lado dos meus pais, e quando eu estava visitando a casa no Natal passado, eu o via diligentemente cuidando do gramado ou passeando pela rua para buscar a correspondência. Apenas algumas semanas depois do Natal, devido a alguma súbita complicação grave de saúde, ele estava em uma máquina de respiração. E algumas semanas depois ele morreu, deixando para trás sua amada esposa e duas filhas pequenas.

Como eu penso e rezo por ele, sua esposa e filhas, e luto profundamente para entender o motivo de tal tragédia. Que palavras de conforto temos para essa pobre mulher e suas filhas? Como pode tal sofrimento?

Não há uma resposta fácil.

Não é para sabermos como Deus irá trabalhar com esse sofrimento. É só para sabermos que Deus – o Pai de todas as misericórdias – deseja derramar sua vida abundante em nós em todos os momentos. Como Jesus nos diz: “Bem-aventurados os que choram”, para o próprio Deus enxugar todas as nossas lágrimas. E não apenas no Céu, mas, mesmo nesta vida, Ele vai nos confortar em nosso choro e permitir que tal sofrimento passe adiante de maneira mais profunda.

Embora possamos ter feridas nesta vida que não cicatrizam totalmente, Deus vai usar essas feridas para fazer coisas maravilhosas e milagrosas – aumentar os nossos corações para ser mais parecidos com o seu.

Como eu penso nos amigos dos meus pais, eu só me consolo em saber que Jesus chora com eles como fez com Lázaro. Embora eles chorem agora, um dia vão conhecer o amor de cura de Deus, como Ele os olha, enxuga suas lágrimas e os leva para o lugar que tem preparado desde toda a eternidade.

Por Chris Hazell, fundador da The Call Collective, um blog que explora a intersecção entre fé, cultura e criatividade. Ele também escreve regularmente para Word on Fire.

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