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Quando a mãe acompanha a própria filha para abortar

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encuentra.com - publicado em 08/04/16

A história dilacerante de uma síndrome pós-aborto

Vou contar um caso dramático. Devo começar dizendo que, todos os dias, escuto histórias desse tipo – e me sinto de algum modo “privilegiada” quando as pessoas me abrem o seu coração do jeito que esta mãe e esta filha abriram, tentando encontrar ajuda.

F.F. abortou aos 15 anos de idade. Ela estava no quarto mês de gestação quando a mãe, que se dizia católica praticante, a levou até uma clínica especializada em abortos.

F.F. tem hoje 17 anos e está destruída.

Ela culpa a mãe, a quem chamaremos de Joana, por tê-la acompanhado à clínica. Ela não consegue superar o próprio sentimento de culpa.

Joana me ligou pedindo para conversar com urgência e me contou que, naquele momento, ela achava que o aborto fosse a melhor coisa para a filha, já que ela só tinha 15 anos de idade. Agora, porém, Joana também não consegue lidar com os sentimentos de culpa e de arrependimento e se pergunta como é que pôde levar a própria filha a abortar o seu bebê.

Essas duas mulheres estão sofrendo profundamente e têm diante de si um longo, longo caminho para curar suas feridas.

F.F. me disse, entre lágrimas, que, quando saiu daquele local de morte, sentiu que algo tinha mudado dentro dela; que era como se ela estivesse esvaziada.

Ela sofre hoje uma profunda depressão e nutre um grande ressentimento contra a mãe. Conforme o tempo vai passando, ela se pergunta cada vez com mais frequência como é que uma mãe pode acompanhar a própria filha para fazer um aborto.

Ela também tem acessos de raiva, a ponto de ter deixado a casa em que morava com a mãe. Joana, por sua vez, chora quase o tempo todo, especialmente porque sabe que aquilo que aconteceu é irreparável.

F.F. também chora muito comigo e seu rosto treme quando ela se lembra que o filhinho tinha quatro meses. Seu pai não se envolveu. Parecia que não se importava. E ela se sentiu abandonada também pela mãe. O namorado concordava com o aborto.

Enquanto escrevo isto, me lembro também do caso de outra mulher a quem conheci anos atrás. Vamos chamá-la de Maria. Ela já tinha quatro filhos e decidiu abortar o quinto.

Eu me lembro da aparência dela quando veio até mim: era quase um cadáver; não conseguia suportar a culpa. Aquela imagem me impactou.

Esse tipo de pranto não se assemelha a nenhum outro que eu já tenha visto na grande gama de pessoas diferentes que conheci. É um pranto dilacerante de agonia, um pranto que só Deus pode ser capaz de consolar.

Muitas mulheres do mundo todo fazem aborto. Em alguns países, o aborto é legalizado; em outros, é ilegal. Independentemente da legalidade ou da falta dela, não faltam estudos científicos para mostrar que as mulheres que abortam sofrem, no geral, sérias consequências psicológicas, físicas e emocionais.

São essas consequências psicológicas que formam a chamada “síndrome pós-aborto”, cujos efeitos incluem o sentimento de culpa, a angústia, a ansiedade, a depressão, a baixa autoestima, a insônia, tendências suicidas, pesadelos com os restos do bebê abortado, lembranças dolorosas na data em que ele nasceria, sentimento de luto…

Muitas mulheres também sofrem mudanças relevantes de comportamento: as que eram mais ternas, por exemplo, podem assumir comportamentos hostis para com os outros ou para consigo mesmas (chegando a se cortar, drogar-se ou tentar o suicídio).

Eu comecei a compreender melhor tudo isso faz alguns anos, quando estive em Roma para estudar outras graves consequências do aborto além das já mencionadas: as profundas consequências espirituais.

Abortar é “abortar-se”. É uma espécie de duplo homicídio, ou de homicídio e suicídio.

As consequências físicas também são dignas de ser mencionadas. De acordo com a organização Women Exploited by Abortion (Mulheres exploradas pelo aborto), muitas pensam que é uma cirurgia simples. Mas não é. E, como toda cirurgia, tem seus riscos: futuros abortos espontâneos, gravidez ectópica, esterilidade, distúrbios menstruais, hemorragias, útero perfurado, febre, suores frios, dores intensas, coma e até a morte.

Obviamente, tudo fica ainda pior quando as mulheres abortam em lugares que não são clínicas e com pessoas que não são médicos. Em grande parte da América Latina, por exemplo, as mulheres recorrem a outras mulheres com suposta experiência em que têm abortos. Entre seus “métodos”, está o de introduzir uma agulha para romper a placenta. Não é preciso mencionar as consequências deste procedimento.

Pouco se fala, além disso, das malformações que podem afetar os filhos nascidos depois que a mãe já fez um aborto.

Quanto aos distúrbios emocionais que podem afetar as mulheres após o aborto, há entre eles desde a frequente vontade de chorar até a insônia, a perda de apetite, a perda de peso, o nervosismo, vômitos, cansaço, distúrbios gastrointestinais, frigidez.

Não é incomum que as mulheres que já abortaram, quando se tornam mães, sofram na relação com os filhos uma desconexão emocional muito difícil de explicar. Elas amam os filhos, mas são emocionalmente ausentes.

O aborto é uma realidade à qual nós, mulheres católicas, devemos prestar muito mais atenção. Assim como rezamos todos os dias pelo papa e pela nossa comunidade, devemos também rezar todos os dias “pelas mulheres que vão abortar hoje”, pelas mães que acompanham as próprias filhas para fazerem aborto, pelas mulheres que ajudam suas amigas a matar seus filhos.

São Josemaria Escrivá disse que “estas crises mundiais são crises de santos”: nós temos que ser os santos que faltam no mundo. Nós temos que intensificar a nossa vida espiritual.

Rezemos o rosário todos os dias pedindo a Nossa Senhora que interceda junto a Deus para transformar os corações, para nos ajudar a conhecer a realidade profunda do coração humano, para amar a Deus intensamente, na prática, mediante a nossa abertura à vida, sempre.

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Depoimento de Sheila Morataya, terapeuta matrimonial e relacional de Austin, no Texas.

Tags:
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