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Michael Rennier - publicado em 11/04/16

Podemos querer que nossos filhos se tornem como nós, mas ser bons pais significa deixá-los se tornar eles mesmos

É natural que os pais queiram que seus filhos sejam como eles. Até o pai de Luke Skywalker (personagem do filme Star Wars) tentou colocá-lo nos negócios da família. Embora meu trabalho seja muito menos dramático do que se juntar ao lado negro da força e se engajar na dominação intergaláctica, nada me deixaria mais satisfeito do que perder um tempo na máquina de café da empresa com meu filho.

Mais do que ter um trabalho como o meu, eu quero que meus filhos sejam como eu, gostem do que eu gosto e façam o que faço. Minha maior conquista foi convencê-los que Vivaldi é o melhor músico de todos. Agora, quando estamos no carro, em vez de várias músicas de Taylor Swift ou algo pior, eu posso ouvir o violino suave de um dos maiores músicos de todos os tempos. Eu sei que isso não durará; eventualmente eles vão descobrir que eu os enganei e que nenhuma criança gosta de melodias barrocas de centenas de anos atrás. Mas eu estou me divertindo com isso enquanto posso.

Minha mãe se lembra de como eu costumava imitar meu pai quando era jovem. Eu tive um pequeno cortador de grama de brinquedo e eu o seguia enquanto ele cortava a grama. Meus próprios filhos têm igualmente me imitado. Um tempo atrás, quando eu ainda tinha delírios de ter músculos, gostava de fazer flexões à noite quando chegava em casa. Um dia meu filho pequeno estava ao meu lado fazendo sua própria versão de flexões, com grunhidos e respiração pesada incluídos.

“Ao copiar os adultos durante este crítico ano de crescimento, crianças de um ano aprendem uma vasta gama de habilidades”, observa Chana Steifel, autora de livros para crianças e escritora na revista Parents, ao descrever o mesmo tipo de experiência com seus próprios filhos, e é por isso que a imitação é tão importante. Estas novas habilidades os ajudam a construir a autoconfiança e independência. Em outras palavras, eles nos imitam para que possam, eventualmente, desenvolver sua própria personalidade única.

A imitação é a forma mais sincera de elogio, é claro, e é especialmente gratificante quando são seus filhos fazendo a imitação. O problema é quando eles começam a repetir suas más qualidades. Minha filha de nove anos tem um cinismo cansado do mundo e, como ela realmente viu muito pouco do mundo, ela claramente pegou isso de mim. Alguns deles desenvolveram um senso de arrogância que, tanto quanto eu gostaria de culpar a mãe por isso, eu sei que tem a sua fonte no que eles me ouvem dizer e fazer. Às vezes eles lutam gritando e eu me pergunto onde eles aprenderam a falar assim, e lembro que eu levantei a voz para eles não mais que uma hora atrás.

Tão angustiante como quando adquirem meus maus hábitos, é vê-los adquirindo seus próprios únicos hábitos. Bem ou mal, em algum momento, toda criança começa a diferenciar-se e tornar-se ela própria. Isso pode ser difícil para os pais, especialmente quando as crianças começam a fazer suas próprias escolhas e questionam as nossas. Isso não é errado, mas este amadurecimento pode ser difícil, especialmente porque nós, pais, nos preocupamos; não sabemos se essas novas e diferentes opções levarão nossos filhos para sua realização.

Mas a pior reação possível que eu poderia ter seria rejeitar as escolhas dos meus filhos e tentar forçá-los a ser iguais a mim. É fácil cair neste hábito: eu poderia sutilmente pressioná-los a não falar das coisas que eu não gosto, apenas recompensá-los ou mostrar afeição quando as suas escolhas me agradam, ou estabelecer regras estritas para limitar as suas opções. Eu não duvido que tenha cometido esses erros no passado e tenho certeza de que eu tinha a melhor das intenções, mas, no final, eu não posso pegar um atalho para o desenvolvimento da personalidade dos meus filhos. Cada um tem seus próprios pensamentos e emoções. Nós não possuímos nossos filhos, e não podemos programá-los a crescer exatamente como nós queremos.

O importante não são só as escolhas que nossas crianças fazem, elas sabem que nós as amamos e as apoiamos. O sucesso da relação pai/filho(a) tem de ter um elemento de amizade. “Em algum ponto ao longo do desenvolvimento de uma criança, o papel dos pais deve estabelecer um elemento de amizade”, escreve Phillip J. Watt no Elephant Journal. Quanto mais cedo, melhor. Muitos pais sentem que isso não deve ocorrer até que seu filho seja adulto – mas eu sinceramente discordo. Quando uma criança sente que seus pontos de vista são desconsiderados e seus sentimentos não são validados – mesmo que errados ou infantis –, em troca ela desconsidera os pontos de vista e sentimentos de seus pais. Respeito é uma via de mão dupla.

Nunca é cedo demais para construir uma amizade com nossos filhos. Minha esposa e eu envolvemos nossos filhos regularmente em nossas conversas adultas. Eu também tento desenvolver interesses comuns com eles como treinar suas equipes de esportes quando posso, perguntando-lhes sobre o que estão lendo e jantando juntos como uma família.

Desenvolver amizade com meus filhos significa que eu não posso controlá-los. Em vez disso, conforme os vejo crescer e mudar, eu penso neles como um presente. Tenho o dever de pai, mas eles não pertencem a mim. Se eles quiserem ser como eu quando crescer, ótimo. Se eles me imitarem nos poucos bons hábitos que eu tenho, ótimo. Mas o meu maior desejo para eles é que eles se tornem melhores do que eu na vida, sejam mais felizes, pessoas melhores. Para que isso aconteça, eu tenho que estar disposto a deixá-los sair debaixo da minha asa. Uma vez que eles voarem do ninho, eu tenho certeza que vou lembrar do pequenino fazendo flexões ao meu lado, mas alegria maior será perceber que meus filhos são maravilhosos, criaturas únicas que eu tenho o privilégio da amizade e de conhecer ao longo da vida.

Michael Renniervive em St. Louis, Missouri, com sua esposa e cinco filhos.Ele é editor colaborador da Dappled Things, uma revista dedicada às artes escritas e visuais.

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