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Jean Vanier, fundador da L’Arche: “os mais rejeitados nos levam a Deus”

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Miriam Diez Bosch - publicado em 19/04/16

Uma entrevista exclusiva da Aleteia com um homem extraordinário, que vive e trabalha com “gente de coração”

“São nos mais fracos que podemos tocar o verdadeiro mistério da encarnação do corpo”.

Jean Vanier já tem 87 anos e continua escrevendo e dirigindo retiros. Como fundador da rede internacional de comunidades L’Arche, que dá abrigo e proteção a deficientes mentais, Vanier tem sido uma inspiração para pessoas de boa fé e mentor para aqueles que se sentem chamados a exercer ações de caridade.

Uma pessoa que transpira bondade e paz.

Recentemente, Vanier concordou em se encontrar comigo para uma entrevista exclusiva em que recorda a fundação da comunidade L’Arche [A Arca] – recorda também as formas passadas de lidar com pessoas com deficiências físicas e de desenvolvimento – e compartilha sua experiência sobre como sua convivência com deficientes influenciou sua fé e sua compreensão.

“Eu gosto das pessoas da casa. Às vezes estão um pouco malucas, mas são livres para agir como quiserem. Para a maioria das pessoas não é permitido um pouco de loucura”, ele explica, “então nós nos sentamos e passamos um bom tempo juntos”.

O encontro com deficientes em circunstâncias estressantes, recorda Vanier, tornou-se o catalisador para a criação de seu movimento. “Visitei uma instituição onde havia muita violência. Não pude fazer nada além de levar comigo duas pessoas. Preparamos uma residência, convivemos, nos divertimos e assim surgiu tudo. Não posso dizer que foi [um plano ou] uma visão, mas aos poucos fui descobrindo que as pessoas com deficiência eram o grupo mais oprimido de todos, [e que] os mais marginalizados nos guiam até Deus”.

Vanier defende que as pessoas com deficiência têm uma missão com a Igreja e com o mundo e que podemos encontrá-las na periferia da sociedade, onde o Papa Francisco insistentemente pede que a Igreja vá. Elas têm algo a dizer, insiste Vanier, a este mundo “da cultura da ‘vitória’, das culturas de espetáculo e do sucesso individual”.

Parte da Nova Evangelização do Catolicismo implica estender a mão para as pessoas que se sentem distantes, afastadas ou que são impedidas de participar plenamente da vida na fé. “Existe um movimento universal da verdade, o encontro entre pessoas, e o Papa precisamente está anunciando que [a missão] não é ‘proteger’ a Igreja Católica, mas ajudar as pessoas a se encontrarem [com suas diferenças]. Assim estamos em um bom momento”.

“O papa fala muito sobre a ternura e é disso que se trata… de olhar as pessoas sem prejuízo, escutá-las para receber o que elas são de verdade e não somente suas palavras, para acolhê-las, alcançá-las… o mundo está se afastando da ideia [que diz] ‘devo ser mais poderoso do que você’”.

Não é o poder, argumenta Vanier, mas a humildade e simplicidade que irá conduzir-nos ao paraíso. “Eu não acredito que exista muita diferença entre compaixão e oração”, diz ele. E continua citando as palavras de Cristo nos Evangelhos, “‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebam por herança o Reino preparado para vocês desde a criação do mundo. Pois tive fome e vocês me deram de comer, tive sede e me deram de beber… Todas a vezes que fizeram isso a um desses meus irmãos, mais pequeninos, foi a mim que o fizeram’ (Mt 25,34-40), assim que o é mistério de Deus, o mistério da compaixão e a ‘comunhão’ é o encontro com Jesus: encontrá-lo no trabalho com os pobres ou encontrá-lo na Eucaristia é o mesmo”.

O trabalho ao qual tem dedicado sua vida e tem influenciado seu pensamento espiritual, explica Vanier, parece ter chegado ao seu melhor momento no Ano Jubilar da Misericórdia. “É algo extraordinário. O que é importante não é necessariamente sua religião, mas sua capacidade de ver algo bonito nas pessoas mais vulneráveis”.

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