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Fazer sexo sempre com a mesma pessoa é chato?

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David Mills - publicado em 02/05/16

Quem acha isso precisa de ajuda

Foi publicado no The Guardian. O título era “Como fazer sexo com a mesma pessoa pelo resto da sua vida“. O texto me lembrou aquele típico fulano sentado ao bar do hotel, dizendo à moça que ele e sua esposa se afastaram, que nem se falam mais, que a chama da paixão se apagou – e depois perguntando se ela não gostaria de tomar o próximo drink no seu quarto.

O artigo, supõe-se, devia responder a um questionamento muito caro aos leitores. O autor anônimo colocava tudo como um desafio: para ele, o maior obstáculo para o sexo dentro de um relacionamento longo é que os parceiros estão buscando duas coisas opostas: estabilidade, mas também fogo, paixão; segurança, mas também risco; confiança, mas também novidade. “Se você tem uma coisa, não pode ter a outra”, afirmava o anônimo escritor, acrescentando que “a responsabilidade mata o desejo sexual”.

Aquele artigo foi o mais lido no site do jornal no dia em que foi publicado. Aparentemente, havia muitas pessoas à procura de uma resposta.

A resposta

Caso você seja uma dessas pessoas, a resposta sugerida era a seguinte: “tente guardar certa distância”. A única dica prática do autor foi a de fazer sexo no local de trabalho do parceiro e dormir em quartos separados.

O escritor anônimo baseou os seus argumentos na masturbação, que, segundo ele, consiste fundamentalmente em “fazer sexo com a mesma pessoa durante a vida toda”, mas sem se entediar. Por quê? Porque a masturbação envolveria segurança, envolveria a possibilidade de uma verdadeira dissonância entre o “eu erótico” e o “eu da vida real”. O “eu erótico” não tem lugar na vida cotidiana – e é essa distância o que garante a manutenção da “carga erótica” entre duas pessoas.

O autor também observa que muita gente se diz mais atraída pelo parceiro quando os dois estão longe um do outro, “porque a antecipação é um poderoso afrodisíaco e a distância favorece a imaginação erótica, que leva à fantasia”. O escritor parece acreditar que a “carga erótica” perdida depende da criação de fantasias sobre o parceiro, as quais vão sustentar o “tu erótico” e vão criar os necessários “fogo, paixão, risco, perigo, novidade”. Os parceiros não podem estimular a “carga erótica” se estão junto há muito tempo.

Para sermos honestos, devemos reconhecer que o autor também sugere “passar mais tempo de qualidade juntos para manter a ligação”, e, no final do artigo, convida os leitores a abandonarem “o mito da espontaneidade”, porque “o sexo envolvente é intencional, premeditado, concentrado e presente”. O conjunto do artigo é mais sensível que os seus pontos particulares.

“O sexo se tornará chato”?

Eu não consigo entender a ideia de que o sexo com uma parceira única ou parceiro único tenha que se tornar chato. Entendo que se possa querer mais sexo, ou relações sexuais com mais pessoas, ou mais formas de acrobacias sexuais, porque os seres humanos lascivos querem todos os tipos de coisas, mas achar que o sexo seja “chato”, sinceramente, não.

Para o autor e seu público-alvo, o sexo prazeroso, nunca chato e sempre excitante, exigiria distância, exigiria a ilusão de que o parceiro de longa data é um “novo amante”. O seu parceiro pode compartilhar a sua cama, o seu banheiro e a sua conta bancária, mas você tem que senti-lo como se fosse uma pessoa a quem acabou de conhecer num bar.

A minha reação diante disso é declarar que essas pessoas precisam de ajuda.

Talvez haja quem realmente precise de uma resposta para esta pergunta. Talvez elas tenham sido tão machucadas que a intimidade as assuste e a mudança as faça imaginar que estão mais seguras. A pornografia, da qual tanto se faz uso, pode transferir o desejo sexual das pessoas para os objetos. A promiscuidade pode criar uma necessidade de variedade e a “excitação da caçada”. As pessoas podem se acostumar, e até se tornar dependentes, de “fogo, paixão, risco, perigo, novidade”.

Talvez o autor esteja seguindo a pista certa. Concordamos que o risco e a novidade são estimulantes eróticos. Mas e os benefícios sexuais da familiaridade e do comprometimento, do orgulho pelos frutos de uma vida compartilhada? Ele os ignora completamente. E o risco do matrimônio?

Quem se casou – com a consciência séria do que é o matrimônio – assumiu o altíssimo risco de apostar a própria vida em uma pessoa! Essa pessoa pode magoar, pode trair, pode ir embora. Essa pessoa pode ficar doente – de corpo ou de mente. Essa pessoa pode morrer. E você pode estar no lugar dela em todos esses casos: para ela, afinal, existe o mesmo risco. Vocês podem se tornar estranhos que vivem sob o mesmo teto. Se vocês ainda não se magoaram, vão se magoar alguma hora – e vai doer de morte.

Então vocês queriam risco, perigo? Pois estejam servidos. Na relação de longa data e de fidelidade mútua existem muito mais riscos e perigos do que o autor anônimo do The Guardian deu a entender. E quem faz a arriscadíssima aliança de felicidade mútua com outra pessoa pode manter com ela a chama acesa, também sexualmente, pelo resto da vida.

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