A chanceler alemã, Angela Merkel, reconheceu nesta quinta-feira, em Roma, que a União Europeia (UE) deve defender “suas fronteiras externas, do Mediterrâneo ao Polo Norte, porque, senão, veremos voltar os nacionalismos” que marcaram a história no século XX.
Merkel está em visita de dois dias à Itália e ao Vaticano.
Na coletiva de imprensa conjunta com o chefe do governo italiano, Matteo Renzi, Merkel disse acreditar que este é o maior “desafio para o futuro da Europa”.
Os dois líderes também discutiram a crise migratória que agita a Europa e reconheceram que existe uma “forte convergência” sobre a necessidade de resolver o problema com um enfoque nos “valores humanos e na dignidade humana”.
“Devemos respeitar a dignidade” dos migrantes e “compartilhar as obrigações”, porque “não é possível fechar as fronteiras”, defendeu Merkel.
Uma Europa “fortaleza” é “absurda”, mas “se quisermos convencer nossos concidadãos da nossa capacidade para lhes oferecer um sentimento de segurança, temos de exercer um controle efetivo das nossas fronteiras exteriores”, ressaltou, pouco depois, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
Tusk deu essas declarações durante um debate sobre o futuro da Europa no emblemático Capitólio de Roma, onde foi firmado o Tratado de Roma em 1957, junto com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz.
‘Migration Compact’
Renzi assegurou, por sua vez, que Itália e Alemanha “estão em total acordo” em fornecer uma estratégia para a África, origem da maioria dos migrantes que chegam à Itália. Ele anunciou que vão trabalhar em conjunto “com a mesma filosofia” que inspirou o acordo entre UE e Turquia, a fim de impedir o fluxo constante de refugiados entre Grécia e Alemanha.
“Sobre os migrantes, considero importante a proposta italiana, chamada ‘Migration Compact’. Temos os mesmos princípios, mas ideias diferentes sobre os instrumentos para financiá-la”, salientou Merkel, rejeitando a proposta de criação de “Eurobonds” para financiar os países em desenvolvimento africanos.
Para Renzi, “devemos investir na África”.
Ele lembrou que a Itália “é a favor de uma estratégia de longo prazo que favoreça o desenvolvimento, que leve trabalho (ao continente) e que deve ser liderada pela União Europeia”.
O principal objetivo do plano é chegar a um acordo com a Líbia semelhante ao assinado com a Turquia.
O primeiro-ministro italiano também condenou fortemente a decisão da Áustria de construir uma cerca ao longo de sua fronteira com a Itália, na chamada passagem de Brenner, para evitar a entrada de migrantes.
“Eu sou completamente contra. É uma decisão equivocada, absurda e injustificada”, afirmou Renzi, que a rejeitou por “ser contra a história”.
O anúncio da Áustria provocou reações iradas na Itália, aonde, estima-se, que 26.000 migrantes chegaram desde o início do ano.
A Itália junto com a Grécia é um dos países da UE mais afetados pela crise migratória, a pior desde a Segunda Guerra Mundial.
A crise migratória também será abordada na sexta-feira com o papa Francisco, durante a cerimônia oficial para a entrega do Prêmio Carlos Magno ao pontífice por sua “contribuição para a unidade europeia”.
Antes da cerimônia, Merkel, uma protestante, vai-se reunir pela quarta vez com o Papa no Vaticano.
O papa argentino é extremamente sensível à questão da migração e certamente irá abordar o tema no discurso que pronunciará ao receber a distinção das mãos de Merkel, Juncker, Schulz e Tusk.
A Europa atravessa “uma fase muito delicada”, advertiu Merkel, que teme sofrer da “síndrome Maia”, referindo-se ao misterioso desaparecimento da civilização da Mesoamérica, um dos maiores mistérios da história.
(AFP)