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Confissões de uma resmungona

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Meg Hunter-Kilmer - publicado em 11/05/16

Eu vivo na negatividade! Deus, me ajude!

“Um homem sábio sabe conter a sua cólera e tem por honra passar por cima de uma ofensa” (Provérbios 19,11)

“Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo” (Filipenses 2,14-15).

São Jerônimo é um amigo muito querido, e não só porque compartilhamos da mesma obsessão com a Bíblia: também temos um ou dois traços de personalidade em comum, notavelmente um temperamento que ninguém merece.

E é bem encorajador, para mim, dar uma olhada na vida dos santos que tiveram de lutar com os mesmos pecados que eu. São Nicolau, por exemplo, socou um herege na cara. Santa Teresa de Ávila gritava com ninguém menos que Deus. E São Columba, certa vez, soltou o punho numa disputa sobre um saltério (traduzido, aliás, por São Jerônimo).

Tudo isso me ajuda a me sentir melhor na minha inclinação de gritar com as pessoas que andam lerdamente pelos aeroportos; afinal, estou em boa companhia. Mas não é a nossa tentação compartilhada o que mais me atrai nesses santos: é o testemunho de que é possível lutar contra os nossos instintos mais básicos e de que a alegria da misericórdia de Deus é maior que o nosso pecado.

Como São Jerônimo e tantos outros santos coléricos, eu não sou lenta para a cólera. Eu não tenho o bom senso que os Provérbios sugerem e sou geralmente obcecada demais para ignorar qualquer ofensa. Mesmo assim, eu costumo me gerenciar o suficiente para não me deixar arrastar pela raiva, a ponto de, muitas vezes, meus conhecidos ficarem surpresos quando me ouvem falar do meu temperamento.

Já o meus amigos, nem tanto. Eles até podem nunca ter me visto socando uma parede, mas já ouviram muito as minhas queixas e resmungatórios. Eles já me ouviram contar e recontar zilhares de vezes a história daquelas pessoas que se sentaram justo no banco à minha frente, em plena igreja vazia, e passaram mais de meia hora batendo papo em vez de ficarem quietas. Eles sabem que eu ainda não superei os comentários desagradáveis que fizeram sobre mim há mais de dez anos. Eles me ouvem criticar e desprezar todo tipo de coisa. Mas eu faço tudo isso de um jeito leve, brincando e tomando o cuidado de nunca atacar alguém pelo nome. Aqueles santos que eu citei antes, em compensação, fizeram pior – então eu sei que há esperança para mim.

Mas também sei que manter um catálogo de ofensas não esquecidas é tão perverso quanto os comportamentos que me ofenderam.

Talvez até mais, porque eu sei como eu deveria ser. Fui chamada a brilhar como luz no mundo, mas me debruço na negatividade! Fico tão preocupada com a minha dignidade que deixo a raiva me consumir quando a ofendem!

Existe, no entanto, uma coisa importante a respeito da raiva: ela não é um pecado em si mesma; ela é apenas um sentimento. O pecado não é sentir raiva, mas consentir na raiva, deixando-se levar por ela. E isto não se manifesta apenas em explosões bélicas contra os adversários, mas também nos comentários sarcásticos e na recusa a perdoar. Na minha vida, a raiva também se manifesta muito nos resmungos e queixumes, que São Paulo condena.

O fato é o seguinte: não importa se eu estava certa, se a outra pessoa estava sendo ridícula, se a situação era completamente injusta.

Resmungar não vai consertar a situação. É melhor desabafar a minha fúria diante de Deus do que no Twitter: quanto mais eu ofereço a Deus os meus resmungos e peço ajuda para me dominar, mais vou controlando o meu temperamento em vez de permitir que ele me controle.

Eu não posso necessariamente mudar as minhas inclinações, mas também não posso ser indulgente com elas. Por isso, vou continuar recorrendo ao Senhor, inclusive no confessionário. Afinal, não sou chamada a estar sempre bem, e sim a ser uma grande testemunha do amor de Deus, como todos os cristãos. Por isso, hoje eu escolho a paz, a misericórdia e a paciência. Hoje eu escolho Cristo.

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